sábado, 31 de dezembro de 2011

TEXTO DE ABERTURA

Faço esse texto pra marcar um novo início, abrir uma nova história. Faço esse texto pra seguir a linha retilínea dos ciclos da vida. Faço esse texto para abrir meu livro a novos textos que virão, para abrir minha vida a novas pessoas que virão. Faço esse texto para abrir meu coração. Faço esse texto para abrir meu livro ao registro de novas histórias e novos amores. Faço esse texto para limpar a pele que aguarda novas cicatrizes. Faço esse texto para despedir-me do velho. Faço esse texto para me despedir dos que sairão da minha vida, mas principalmente para dar boas vindas ao que entrarão. Faço esse texto para dar boa noite a mim mesmo, pois é durante a noite que o dia melhora. Faço esse texto para mim, para você, para todos que precisam recomeçar.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

O CONTO DE UM FAROL E UM AMOR

   Estava em uma de minhas viagens quando cheguei numa cidadezinha de interior, a chuva começava a piorar e não haveria jeito de continuar meu caminho. Logo, optei por passar a noite em algum hotel pela cidade. E que noite havia de ser aquela, a chuva carregava tudo com seus ventos fortes e estrondosos, quase como se quisessem limpar aquela cidade, limpar todas as impurezas dos corações negros que habitam em todo o lugar.

   Entrei em um hotel de três andares chamado "Recanto do Caboclo". O térreo servia de bar, um encontro para os habitantes locais. Havia um homem atrás de balcão que parecia ser tanto o barman quanto o gerente do hotel, as prateleiras mostravam algumas poucas bebidas (a maioria parecia ser algum tipo de cachaça barata) e as mesas mostravam algumas poucas pessoas à conversar e beber. O lugar não era muito arrumado: as cadeiras de madeira pareciam um pouco velhas e algumas estavam tortas ou bambas, assim como umas poucas mesas, mas o estabelecimento era bem limpo. O local me lembrava mais às tabernas da idade média do que um simples bar do século XX.

   Falei com o barman/gerente e fiz questão de arranjar um quarto cuja vista desse para o mar. Subi as escadas com minha a pouca bagagem e sentei na escrivaninha do meu quarto. Acendi a fraca luz e pus-me à escrever. Logo os trovões começaram a roncar e relâmpagos podiam ser contemplados com baixa frequência no céu escuro. "Aposto que se não fosse por essa tempestade o céu daqui estaria lindo e cheio de estrelas" - pensei. Meu hotel ficava na parte "alta" da cidade, o que me proporcionava (na minha opinião) uma vista mais ampla da pequena cidade. Eu não podia ver o mar em todos os seus detalhes, mas eu notava os movimentos violentos de suas ondas contra o porto. Notei também algo que me incentivou a curiosidade: haviam dois faróis na cidade, e suas distâncias não eram longas, o que me pareceu, na minha leiga opinião, um grande erro. Deixei-me divagar sobre o assunto e acabei perdendo a concentração no que estava escrevendo. Depois de cerca de uma hora pensando sobre o assunto enquanto tentava continuar minha escrita de onde havia parado, desci para o térreo, cujo barulho de bêbados e copos tilintando em brindes feitos a qualquer coisa ainda permanecia. Perguntei ao gerente o porquê de haver dois faróis na cidade. O bom sujeito me respondeu que era uma longa história, mas o primeiro farol havia sido tornado um patrimônio local e logo foi feito de ponto turístico, então foi feito outro farol para substituí-lo.

   Suspirei... Bebi a melhor cachaça que eles tinham (o que já não era muito boa) e, enquanto rodava o copo vendo aquela última gota girar em torno dele, pedi ao barman para que me contasse toda a história, afinal, meu sono já havia ido embora por completo. E então ele começou...

   "Ah, meu senhor, é uma história muito bonita, o senhor gostará. Há alguns anos, não mais que cinco décadas, vivia um pescador nesta cidade, seu nome era Heitor. Seu barco era o melhor que já havíamos visto (para um barco de pesca, claro), ele sempre pescava em alto mar com uns poucos homens. Seus lucros quase sempre serviam de incentivo à cidade e ele era mais adorado que qualquer pessoa que já pisou nestas terras, mais até que nosso bom prefeito. Era realmente uma pessoa de bom coração, esse Heitor."

   "Um dia ele foi convidado pelo atual prefeito à jantar em sua casa. O pescador, lisonjeado, aceitou o convite logo de cara. E foi neste jantar que ele conheceu Ana Clara, a filha mais velha do prefeito. Ana Clara tinha apenas dezessete anos, enquanto Heitor tinha vinte e cinco. Eles viveram um romance às escondidas até que Ana Clara completasse seus dezoito anos. Todo dia que Heitor ia adentrar o mar para pescar ele se despedia de Ana Clara com um longo beijo e partia, muitas vezes eram viagens de dias e dias e Ana Clara sempre o esperava no porto. Depois de atingir sua maioridade o romance dos dois foi declarado à todos, e com a aprovação do prefeito, os dois se casaram e começaram a viver no farol da cidade. Heitor ia pescar e Ana Clara trabalhava no farol, ela dizia ser a luz guia dele, sempre esperando e guiando a volta de seu amado."

   "Depois de pouco menos de dez anos, surgiu uma tempestade enorme, bem maior que esta que vemos no céu de hoje, senhor. Algumas casas foram derrubadas, a água invadiu a cidade, os trovões gritavam e os relâmpagos mostravam sua ira. Contam que foi nesta noite que Heitor morreu, pois seu barco jamais voltou a este porto... Dias se passaram e ele não havia retornado, as mulheres dos marinheiros que velejavam com ele já haviam aceitado seu infortúnio destino. Mas Ana Clara permanecia todo dia no farol, ela dizia a si mesma que ele apenas demorava demais, mas que ele ia voltar, ele ia voltar para os braços dela e matariam todas as saudades, todo o amor e o medo, implodidos durante uma noite na cama. Mas ele não voltou...

   "No mesmo ano Ana Clara veio a falecer, ficou doente e fraca pela depressão causada pela ausência do marido. Mas ela jamais perdeu a fé, ainda doente e até o último dia da sua vida ela ainda continuava olhando o mar na esperança de que ele retornasse..."

   Eu, que já havia de estar levemente embriagado, limpei o pouco do úmido que se formava em meus olhos e elogiei a bela história. O bom senhor me interrompeu antes que eu pudesse falar algo e acrescentou:

   "Não fique achando que a história terminou. No ano seguinte ao falecimento de Ana Clara foram achados os vestígios do tal barco, e dizem que apenas reconheceram o cadáver de Heitor porque ele se encontrava com um colar de prata amarrado ao pulso, como se o estivesse agarrando, e nele, continha a foto dos dois... Em seu último momento ele apenas pensou em Ana Clara..."

   "A história foi tão comovente que o farol foi promovido a patrimônio local e foi construído outro para substituir sua função. Contam as lendas que o espírito de Ana Clara vagava pelos farol esperando seu amado que nunca chegava..."

   Agradeci a história, paguei o que devia e subi ao meu quarto. Notei que a tempestade se acalmara e olhei pela janela para o farol antigo imaginando toda a agonia da amante que ali havia morrido. Escrevi a história que havia ouvido e pude então dormir para poder continuar minha viagem no dia seguinte.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

ACHO QUE NÃO PRECISAMOS DE MAIS NOMES

Oh, minha querida,
Não chores pelo que se foi,
A gente se foi, mas eu continuo aqui,
Você tem o resto do seu mundo inteiro sob seus pés.
Você ter sentido dor não lhe da o direito de me machucar,
Pois sabe que não é minha intenção,
Sabe muito bem que desejo apenas teu sorriso.
E se for chorar, ao menos me diga,
Porque eu vou até onde for para poder secar suas lágrimas.
O amor não vira ódio, querida,
A dor mal utilizada é que vira.
Sabe aquelas duras palavras que me disse?
Elas continuam no meu ouvido, na minha mente,
Elas machucam sabia?
Mil perdões por ter-lhe entregue palavras duras também,
É só que... Revidar rispidez e frieza com carinho e gentileza...
Isso já não dava pra mim,
Machucava, fazia eu me sentir um tolo...
É aquele maldito orgulho de novo,
Como eu desejo voltar e não tê-lo.
Sabe... Você pode bater em mim se quiser,
Pode me machucar se for fazer sua dor passar,
Eu irei receber todas suas ofensas e tapas...
Com um sorriso no rosto e lágrimas nos olhos...
Eu não vou parar de te desejar o melhor...
E quando seus braços tiverem cansados de tanto me esbofetear,
E seus lábios tiverem cansados de tantas palavras pesadas,
Eu vou lhe abraçar,
E lhe darei meu ombro novamente para você chorar.
Até você sorrir, até você sorrir...
Sem brincadeiras tolas e jogos de criança,
Sem fingimentos e sem ferimentos,
Lhe darei um sorriso sincero.
Só peço que não entre nessa rua escura,
Lá eu não posso te ver, não posso cuidar de você,
Não entre nessa rua que não se entrelaça à minha,
Eu te quero sob às luzes de meus postes de avenidas coloridas,
Te quero sorrindo, sorrindo junto à mim,
Quero seu ombro para poder chorar de novo,
Quero nós, de um jeito diferente do que era,
Mas não menos bonito,
Tão bonito quanto um dia já foi...

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

MENTIRAS PARA A LUA

Ela caminhava descalça,
Por solos quentes e terras secas,
O calor do Sol lhe secava,
Retirando sua vida aos poucos.
E ela mentia para a noite,
Sim, ela mentia para a noite.
A Lua, comovida por seu sofrimento,
Prometeu-lhe uma noite cheia de estrelas,
Prometeu-lhe gélidos ventos para suavizar o que o Sol havia queimado,
Prometeu-lhe a escuridão para envolvê-la e abrigá-la.
Mas ela mentiu para a noite,
Sim, ela mentiu para o noite.
Mas mesmo as sombras, ventos, estrelas e escuridão,
De nada adiantariam,
Pois ela insistia em andar sob a luz do Sol,
Queimando seus pés, sozinha num deserto árido.
Foi porque ela mentiu para a noite,
Sim, ela mentiu para a noite.
A lua veio enquanto o Sol ainda queimava,
E como poderia isso?
A Lua não fora capaz de competir com o brilho do Sol,
Ela acabou também por se queimar.
Tudo porque ela mentiu para a noite,
Sim, porque ela mentiu para a noite.
E quando o Sol se foi, a Lua já havia se queimado demais,
Já não restava forças para suavizar,
E então a garota suplicou tudo o que lhe foi prometido,
Mas a Lua já não tinha nada para oferecer.
Esse foi o preço pago por ela ter mentido para a noite,
Sim, ela mentiu para a noite,
Mentiu dizendo que já não era dia.

domingo, 11 de dezembro de 2011

AMOR EGOÍSTA

Venho observando de muitas maneiras a tal "maneira de amar", venho percebendo que até no amor existe egoísmo, coisa a qual poucas pessoas percebem. Mas alguém já parou pra pensar nisso? Muitas pessoas amam e querem pra si, enquanto outras amam e querem fazer feliz. A maioria das pessoas quer alguém por essa pessoa fazê-la feliz, mas sem se importar com a felicidade dela, é um amor egoísta, percebe? Normalmente essas pessoas não pensam no parceiro, e só fazem sacrifícios por ele depois que eles ameaçam deixá-lo(a) - pois abalaria a felicidade deles - é uma coisa meio de sofrer primeiro e ganhar depois. Chega a ser deprimente como o ser humano age em certas ocasiões, o quanto ele consegue corromper até mesmo o amor e torná-lo algo tão egoísta. E desse amor egoísta nascem brigas e insatisfações, nascem lágrimas por não receber o devido valor, nasce o tradicional "ódio pós-término", coisa a qual eu jamais entendi e jamais senti, e acho que ninguém jamais sentiu por mim(posso até estar errado). Prefiro ainda aquelas pessoas que sabem amar se importando, aquelas que querem fazer o bem ao próximo, aquela que mesmo sem estar com a pessoa que desejam ainda o fazem, ainda torcem pela sua felicidade. Pois essas pessoas, sim, sabem amar. Então aqui vai um recado: se alguém o faz feliz, torne essa pessoa feliz também, pense nos sentimentos de cada pessoa e se importe mais com os outros, faça sacrifícios por aqueles que ama, mesmo que isso doa em você, não odeie a rejeição ou o término, mas guarde pra si as memórias boas, cuide e proteja alguém que um dia já foi tudo pra você. Não se afaste das pessoas que você ama e não se afaste das que amam você. Apenas cuide bem do seu amor, mesmo que as coisas não sejam como você quer.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

A CASA DO PESADELO

Era uma casa incrivelmente bela,
Uma casinha azul, número 23.
Nos fundos havia um quintal
Onde eu cultivava morangos,
Havia também uma rede amarrada à uma árvore,
E um banco para dois.
Haviam poleiros onde os pássaros me visitavam
Trazendo uma bela canção,
E também beija-flores
Que vinham elogiar meus lírios.
Havia um violão apoiado na árvore,
Cujas cordas empoeiradas já cansei de tocar,
E o pequeno lago no quintal
Ainda carregado de peixes coloridos que eu cultivava.
Vocês devem estar a pensar,
"Mas esta é uma casa dos sonhos",
Porém ainda faltam fatos a comentar...
Os morangos que rego,
Antes eu regava ao lado dela,
Jogávamos água um no outro, sorríamos.
A rede em que durmo,
Antes ela vinha se deitar comigo,
Nós dormíamos olhando o céu estrelado.
O banco o qual nem ouso tocar,
Antes nós sentávamos para conversar,
Ela sempre com a cabeça em minha perna.
Os pássaros que me trazem seus cantos,
Antes silenciavam ao canto dela à mim.
Os beija-flores que beijam meus lírios,
Antes invejam a flor que eu beijava.
O violão cujos acordes chamam lágrimas,
Antes chamavam sorrisos ao rosto de minha amada.
E os peixes coloridos já não tem graça sem as cores dela,
Pois o resto agora é preto e branco.
Vivo todo dia a morte de minha amada esposa,
Desde que ela se foi,
Vivo às metades,
Em um eterno pesadelo,
Onde cada casca de parede nesta casa,
Me lembra do inteiro perfeito que fomos,
E que tudo perdeu o significado,
Ou a menos a metade mais importante dele.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

A DOENÇA DA DISTÂNCIA

Onde estás, minha amada?
Aqui os dias hão de correr tão vagarosamente.
E já não me resta mais nada
Se não tua lembrança em minha mente.

Por que impomos tão longínqua distância,
Se longe de ti sinto até ânsias?
Sem ti hei de adoecer,
És como droga, fazendo-me morrer.

Meu corpo de ti necessitas,
Necessito de tua cabeça deitada em meu peito,
Cuidando aos poucos de minhas feridas,
Enquanto em teus lábios me deleito.

Por que há de me causar tamanha enfermidade?
Só lhe pode ser fruto da saudade,
De teu sorriso, tua boca, teu corpo,
Sem ti hei de me sentir morto.

Então vem, voe até mim,
Pois minhas asas já não podem me levar a ti.
Vem, repouse tua mão em minha face, assim,
Sim, apague a dor que já vivi,
Leve embora as memórias de um passado ruim
E acabe com a distância que me traz esse sofrimento sem fim.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

UM AMOR MORTO

Era uma noite escura e fria,
Minha amada, em nossa cama jazia,
Enferma, tossindo sangue nos lençóis,
E ela me suplicava, quase sem voz,
"Não sofras por me perder,
Siga em frente, continue a viver,
Já não me resta muito tempo,
Oh querido, eu lamento, eu lamento,
Lamento que o "para sempre" não venha a existir,
Mas por favor, que isso não lhe impeça de sorrir,
Eu queria estar com você eternamente,
Mas não era esse o plano que Deus tinha pra gente."
E enquanto as lágrimas corriam nossas faces,
Ela expelia mais daquele elixir escarlate.
Eu, ajoelhado do lado dela,
Iluminados pela luz de uma bruxuleante vela,
Segurava sua fraca mão,
Enquanto lhe pedia aos prantos, "não me deixes não".
Eu suplicava a Deus por mais tempo,
Enquanto ela suplicava o fim daquele tormento.
Eu a beijei numa tentativa tola de dar-lhe minha vida,
E aquele momento acabou por ser nossa despedida,
E tudo se passou tão rápido,
Os olhos dela se fecharam,
As janelas bateram e quebraram,
O vento soprou, a vela apagou,
E a escuridão foi a única que restou.
E como poderia eu deixá-la partir?
Sem ela eu não conseguiria existir,
Eu gritava aos céus, "Levem-me também!",
Uma falha tentativa de ser atendido por alguém.
Recusei-me a acreditar que era real,
Culpei a Deus tamanho mal,
Culpei o mundo por tê-la perdido,
Culpei até a mim por ter deixado que ela houvesse partido.
Gritei a Deus, "Você não ficará com ela!",
Ele me respondeu batendo a janela,
Era como uma tentativa de lembrar-me que ela partira,
Mas só serviu para aumentar minha ira.
Eu chorava e gritava feito louco,
Soluçava, rouco.
Comecei a socar a parede,
"Vede!
Meu punho por ti está sangrando,
Está gostando, senhor? Está gostando?"
E em meu acesso de fúria vi a noite se prolongar sabe-se lá por quanto tempo,
O tempo se recusava a livrar-me do tormento.
Não sei quando ou como, mas apaguei,
E sabe-se lá quanto tempo depois, despertei,
Acendi um lampião e comecei a mirá-la,
"Não, não vou deixá-la,
Não será a morte que irá nos separar,
Continuarei a te amar, vou sempre te amar."
Chorei por minha amada em seu sono eterno e deitei ao seu lado,
Ela estava pálida, como jamais havia estado,
Acariciei sua face enquanto chorava,
Beijei os lábios da mulher que tanto amava.
Eu não poderia deixá-la esquecida a sete palmos do chão,
Decidi que viveria comigo então,
Eu jamais a enterraria,
Jamais a esqueceria.
Fui despindo a seda que ela vestia,
Enquanto minha língua espalhava amor pela pele fria,
Prostrei meu corpo sobre o dela,
Olhei mais uma vez o quanto era bela...
Eu chorava, chorava enquanto a amava,
Do mesmo jeito que eu sempre havia amado,
Mesmo que o espírito dela houvesse sido roubado.
Acordei ao seu lado tempo depois,
Percebi que já não existiria "nós dois",
Não haveria risos, café na cama,
Nem dança com a bela dama,
Só haveria o "eu sozinho",
A tempestade tirara o outro pássaro do ninho.
Chorei novamente,
"Estarei com você eternamente,
Se não na vida, então na morte,
Mas te amarei e por ti morrerei,
Apenas para estar ao lado teu,
Adeus, mundo, adeus..."
E com este último sussurro,
Peguei a arma no criado-mudo,
E engoli seu tiro,
O mundo escureceu, eu havia morrido...
Morri sorrindo...
Pois ao encontro de minha amada eu estava indo.
"Para sempre... Para sempre, querida...
Será na morte o que não foi na vida..."

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

O PORTEIRO

   Era um senhor já idoso, deveria ter uns setenta anos - mesmo que seu vigor demonstrasse juventude. Chamava-se Luis Roberto, era calvo - salvo uns resquícios de cabelos branco na parte posterior da cabeça. Seus olhos são de um azul desgastado pelo tempo, vítima de erosão, porém ainda bem vivos. Trabalha como porteiro no edifício em que moro. Mas também já fora chaveiro, segurança e encanador.

   O senhor Roberto (ou seu Roberto, como o chamávamos) era um sujeito bondoso, sorridente. Sempre havia algum morador conversando com ele. Sempre fora bom ouvinte e bom aconselhador, nos ajudava sempre que precisávamos, sempre sendo simpático. Mas apesar de sempre ajudar os outros, ninguém jamais perguntou pelo que ele passava, apesar de que duvido que ele respondesse, sempre fora um homem misterioso.

   Em uma de nossas conversas eu o perguntei como ele conseguia fazer até as pessoas mais fechadas se abrirem com ele, enquanto eu sempre tentara ajudar as pessoas mas sem sucesso algum. Usando seus dons de chaveiro ele me respondeu "é só uma questão de usar a chave certa, existem cadeados mais fáceis, que abrem com chaves diferentes, porém alguns precisam de uma chave precisa. Você tem que analisar o cadeado e ver qual seria a melhor chave. Lembrando também que não é só porque algo é bem protegido que valha a pena ser descoberto, e nem que seja grande ou valioso, ou valioso pra você. Algumas coisas são melhores guardadas e muitos segredos e tesouros podem não ter o impacto em você que tem na pessoa que o possui, você jamais pode desvalorizar isso e deve sempre entender as necessidades de cada pessoa". E ainda, com seus dons de segurança, acrescentou que "você deve lembrá-las (as pessoas) que em uma casa fechada não se vê os perigos que se aproximam, sempre deve haver aberturas para termos segurança. Além do que, se nada entra, nada sai". E depois usou de seus dotes de encanador para acrescentar que "Todos precisamos de um cano de escape, se as coisas acumulam, elas tendem a explodir ou falhar. Precisamos canalizar nossas dores".

   Eu já estava a chegar à minha conclusão depois de ouvir e me encantar com seus conselhos quando ele, como bom porteiro, me disse "só não ache que tudo é um trabalho seu ou que tudo depende de você ou do seu esforço. Elas (as pessoas) podem ter seus encanamentos, podem até ser casas ou cadeados, mas também são porteiros, elas escolhem quem entra, então mostre-se bom, bem intencionado, mostre-se digno de entrar no coração das pessoas..."

terça-feira, 29 de novembro de 2011

O VELHO CHICO

   Chico era um senhor por volta dos seus cinquenta anos, era engenheiro - não um sucesso, não um fracasso - ganhava um bom dinheiro, mas era um engenheiro qualquer, destinado a trabalhar sem brilho numa rotina angustiante, apenas como mais um. Chico também era cristão, cujos dogmas e doutrinas ele não segue, mas ele diz ser cristão, pois ele reza, ele agradece à Deus tudo de ruim que da certo para ele.

   Chico chega do trabalho todo dia cansado, faz o sinal da cruz para a estatueta de jesus pregado na cruz e esta, pregada na parede. Ele beija sua mulher, ignora a ausência dos filhos que ela é incapaz de lhe dar e vai se deitar. Sim, Chico é casado. Ele brada com orgulho: "Sou homem casado", é o que diz para quase todos. Mas em 14 anos de casamento já teve diversas mulheres. Número esse que ele conta apenas para os amigos mais próximos, é claro que ele sabe ao certo quantas mulheres já teve, afinal, como poderia ele não conseguir contar uma simples sequência numérica? Foi sempre isso pra ele, números, números para comparar com os amigos, algo como um troféu invisível, ou melhor, intocável. Era apenas na imaginação dele.

   Chico não sabe porque a vida lhe fora tão injusta, lhe dera uma mulher incapaz de gerar filhos. "Oh, Destino cruel", bradava ele aos céus. Ele se perguntava o que ele havia feito de tão errado pra merecer isso, como se fosse tudo um jogo de dar e receber. E mesmo que o fosse, como ele pensava ser, ele não respondia a resposta que dera a si mesmo, ninguém sabe se ele sabe responder, ou se tudo que ele fez ele julga ser assim tão normal.

   Eu havia encontrado Chico depois de quase trinta anos, havíamos sido colegas na faculdade. Ele era tão digno, era uma pessoa romântica, fiel, tinha seus valores, sempre fora justo. Sempre fora pisado justamente por aqueles que tanto amou. "Oh, Destino cruel", bradei aos céus. "Por quê há de levar a alma de um ser tão bom? Por quê há de esmigalhar os sentimentos daqueles que tanto os conservam?". A vida lhe foi tirando tudo e ele não se opôs, já não tinha forças... Até torná-lo no que é hoje, alguém que grita aos céus as dores que causa por ter gritado demais ao céus as dores que sofreu. E ele faz tudo como se não lembrasse que outrora já havia sofrido, era como se aquile passado jamais tivesse ocorrido.

   Ao se deitar, sua mulher sempre vai até ele, conversam de forma gentil e ela sorri como se ele sempre fosse dela, sem saber das sujeitas que aquele homem esconde no bigode. Eles fazem amor e depois dormem, deixando Chico a mastigar suas mágoas em seus sonhos obscuros. No dia seguinte, Chico acorda, toma banho, come, faz o sinal da cruz e agradece mais outra mentira, depois sai para trabalhar.

Oh, que Destino cruel...

terça-feira, 22 de novembro de 2011

A SEMENTE

Não sou como os outros, querida,
Não lhe darei chocolates que duram um tempo,
E deles não haverá nem memória,
Não lhe darei flores,
Arranjadas num buquê a preço justo,
Todas mortas, todas prontas pra se decompor.
Qual é o motivo das flores?
O casal ou amante assistir-la-á morrer aos poucos,
É como o mais fútil dos amores,
Você irá apenas vê-lo morrer aos poucos e não saberá o que fazer,
Aquela beleza irá se decompor aos poucos,
E todos os esforços para mantê-la viva será em vão.
Por isso dar-lhe-ei uma semente,
Pois é como o meu amor por ti,
Se guarda e espera a hora certa para se desenvolver,
Independentemente de qualquer coisa.
Basta você cultivá-la e alimentá-la,
E, assim como o meu amor por você,
Você ver-la-á crescer, se fortificar,
Você verá que ela se tornará bela,
Tornar-se-á eterna.
E você jamais precisará vê-la morrer,
Ela sempre estará bela, intacta, firme e forte,
Basta você cuidar dela com todo o seu amor,
Fazendo crescer o nosso amor.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

UM AMOR A SETE CHAVES

Eu ainda não sei o que é isso... Essa força ou desejo, que me remete sempre a você, minha bela anja que almejo. Eu sei que não é só amor, amor não é tão forte, não é tão intenso...

Apesar de todas as minhas escolhas, apesar desse caminho longo e aparentemente sem fim com o qual percorro com grande convicção, há sempre uma parte de mim que remete a você, uma parte por você seduzida, que a deseja freqüentemente. Há aqueles momentos em que tudo que eu queria era estar com você. Peguei-me sonhando com você certo dia, acordei com uma sensação indescritível, e tudo que eu queria naquele momento é que você estivesse comigo para tornar aquele desejo realidade.

Decidi então trancafiar o que resta desse amor dentro de mim a sete chaves, assim nada mais entra, e principalmente, nada mais sai. Assim ele permanecerá lá, intacto, até o dia em que deve ser aberto. Trancafiá-lo-ei em um quarto, entre quatro paredes sob um céu estrelado, enquanto um toca discos alimentá-lo-á com a mais bela canção, cozendo esse amor lentamente como em panela de pressão, esperando apenas uma abertura para liberá-lo com toda intensidade e paixão.

Fiz disso meu julgamento final, mas não posso fazê-la vítima ou prendê-la quando o culpado sou eu. Então lhe dei as sete chaves daquele lugar secreto que só você poderá achar, dei-lhe o mapa do labirinto que é quando meu cérebro une-se ao coração. Mas te dei também a escolha de buscar ou ficar, numa caça ao tesouro num tempo indeterminado, numa espera esperançosa e talvez ilusória durante um tempo que não podemos adivinhar ou supor. E isso eu não posso pedir a você, pois não posso desejar-lhe a agonia enquanto guardo pra mim a felicidade. Devo desejar para você apenas o mais belo dos sorrisos, pois sei que é seu de direito, assim como sou, por direito, seu.

Para você, apenas você, meu passado e futuro, e também meu ausente presente, guardarei o amor, até o dia de nos reencontrarmos. Pra você guardarei o amor, amor tal que jamais senti por alguém amor igual. Para você, apenas você...

domingo, 20 de novembro de 2011

IN LOVE WITH VAMPIRES

Você parece gostar de permanecer no escuro,
Fazendo-me sofrer e machucando as pessoas ao seu redor.
Nosso amor macabro agora me dói
E isso parece te divertir.
Então morda-me o pescoço,
Faça-me sofrer se é o seu desejo.
Só não faça desse sofrimento algo inútil,
Recompense-me por sobreviver.
Me transforme em um deles,
Alguém como você.
Afinal, eu já não gosto do que vejo no espelho,
O nascer do Sol já me machuca mesmo agora.
Ao menos terei você e a Lua,
Vamos voar juntos como criaturas da noite,
Vamos tocar as estrelas e deixar que elas nos marquem,
Vamos nos beijar naquele velho cemitério,
Vamos entregar nosso romance às sombras.
Dilacere-me,
Faça de mim o que bem quiser,
Afinal, minha vida já é tua,
E eu a te dei com o prazer de quem morre por quem ama.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

A CIDADE DE FUMAÇA

Em meio as ruas dessa pequena cidade,
Eu andava cabisbaixo, atento ao redor.
E por todos os lados viam-se neblinas,
Neblinas de carros
E principalmente neblina de cigarros.
Por todos os lados se tragavam e expulsavam ar de nicotina.
A cidade fedia, fedia ao ar das impurezas humanas.
E pelos bares de esquina e de meio de rua,
Juntavam-se os amigos, os bêbados e prostitutas,
Todos os advogados, cafetões e torcedores de futbol,
Todos os médicos, mendigos, poetas e músicos.
Cada bar vibrava em cores e fumaças,
Com seus copos de ouro e colarinho.
Chamando-me, quase gritando,
A fumaça ao pouco tomava forma e seduzia-me à tragá-la.
Os copos chamavam-me a bebê-los,
Os cigarros chamavam-me a fumá-los,
Os cafetões faziam-me propostas e me apresentavam os preços,
Chamavam-me à putrefação da minha consciência.
Um deles me jogou uma prostituta que entregou-se aos meus lábios,
Eu, sem reação, fiquei paralisado.
Aquela podridão humana me envolvia,
Me absorvia e fazia de mim parte daquele todo.
Eu não iria rebaixar-me à tal superficialidade humana,
Corri, neguei todos os prazeres fúteis,
Só pensava em voltar.
Quando parei, ainda com lágrimas nos olhos...
"Voltar pra onde?".
Foi quando cai à realidade,
Lembrei que não havia para onde voltar,
Ela não estaria lá, me esperando em casa,
Não havia lugar para qual voltar além da triste lamentação de sua perda.
Virei e vi um centro de fumaça agora mais ao longe,
Notei que ao longe toda aquela podridão tornava-se invisível,
Camuflada meio à fumaça do homem.
Então me aproximei,
Decide rebaixar-me aos mais fúteis níveis.
"Qualquer coisa que faça essa dor parar",
Eu iria tentar qualquer coisa para esquecê-la,
Até mesmo... Esquecer de mim...
Entrei naquela esfera de fumaça e desapareci,
Me perdi, me entreguei,
Esqueci-me para poder esquecê-la...

domingo, 13 de novembro de 2011

UMA CELA DE LÁBIOS

Apenas para mim teus lábios tornam-se prisão,
Prendendo palavras que gritam para serem soltas,
Que gritam para adentrarem meus ouvidos,
Gritam para que essa tua prisão se una a minha.
E eu, com esta minha prisão,
Cujas palavras já se acomodaram em tal cela,
Cujas palavras te olham mas já não se esforçam para fugir.
Eu com esta minha prisão lhe fornecerei a chave,
Com um leve clique de uma língua apaixonada,
Farei de minhas doces palavras um "Abre-te Sésamo".
E já não haverá prisão e nem celas,
Hávera apenas a liberdade de prisioneiros que tanto tentaram fugir,
Mas quando soltos desistiram de gritar aos céus o que gritavam aos tetos,
Desistiram de unir a liberdade deles com a minha.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

O SOL NA SUA JANELA

Em uma longínqua janela,
Reflete em minha face uma intensa luz amarela,
Luz proveniente de um Sol refletido,
Lembrando-me que dentro deste quarto, ainda vivo.
Mas porque de tantas janelas e tantas casas,
Há de refletir o Sol logo naquela janela,
Pertencente à minha doce anja sem asas,
De todas as mulheres a mais bela.
O quão irônico vem de ser o acaso,
Lembrando-me tal belo fato,
Que ali onde reflete o Sol,
Há uma mulher que brilha mais que um farol,
Brilha mais até que o próprio Sol.
Mas de tão irônico que é o acaso,
A distância e o reflexo me impedem de fitá-la,
Mas jamais haverá distância que me impeça de amá-la.
Ah, como eu queria vê-la em sua doce rotina,
Lendo livros ou fazendo faxina.
Ah, tal graciosidade me fascina,
Mas infelizmente, esta é minha sina,
Para sempre fitar o que não posso ver,
Ver quem não posso amar,
Amar quem não posso tocar,
Tocar quem não irá me satisfazer,
E me satisfazer com quem não vai me amar.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

A FLOR

Leve-a contigo para onde for,
Carregue-a sempre em seu coração,
Cuide bem desta flor,
Que fiz com minhas próprias mãos.

Esta flor não tem espinhos,
Não irá lhe machucar,
Nesta flor só há carinhos,
E memórias a desabrochar.

Você jamais verá esta flor murchar,
Jamais verá esta flor morrer,
Para sempre esta flor viverá,
Basta você fazer acontecer.

Esta flor não precisa se alimentar,
Pois é como meu amor por você,
Estará sempre lá,
Independentemente do que acontecer.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

A DANÇA DOS MORTOS

Não diga adeus se não estou me despedindo,
Não há nada para se argumentar,
A decisão já foi tomada,
Já fomos enterrados.
Nesta dança eu danço sozinho com o esqueleto de nós dois,
Pisando nas poças d’água que antes me afogavam.
Você sabe que tive todos os motivos do mundo para desistir,
Mas um único motivo me fez ficar, o meu amor por você,
Mas agora não há mais o que salvar,
Este ciclo deve ser quebrado,
Ele já não pode continuar.
“Se a gente não morresse você acabaria por me matar”,
Foi o que você disse naquela noite de luar,
E você sabe que eu não suportaria tal culpa,
Em mim ela há de corroer as mais fundas estranhas.
Você tem tanto medo de não ser única, querida,
E eu sempre me comparando àquelas peças perdidas do seu quebra-cabeças,
Saiba que você sempre será única,
Mas desculpe se tivemos que morrer assim, querida,
É uma vergonha aos espectadores,
Eles esperavam um final feliz.
Você ainda visita aquele túmulo nas noites de carência,
Tentando em vão desenterrar o que não tem caixão,
Violando nosso túmulo e meu cadáver,
Você pensa estar me revivendo,
Mas só há um vazio em mim,
Não há mais o que salvar.
Eu sigo dançando com o espírito de nós dois.
Desculpe retirar mais uma peça do seu quebra-cabeças,
Mas era uma peça tão pequena e desgastada,
Fazia com que o resto do seu retrato inacabado ficasse triste.
Venha comigo minha querida,
Lágrimas não devolvem os mortos à vida,
Já não há o que salvar,
Vamos nos deitar no nosso túmulo,
E quem sabe um dia, ressuscitar.

domingo, 6 de novembro de 2011

CAMINHOS NÃO ESCOLHIDOS

Eu jamais planejei que tudo fosse assim,
Não tava nos meus planos você desistir de mim,
Não sei porquê dizer adeus é tão difícil,
Essa dor, esse vazio,
É quase como pular de um precipício.
Não foi o que escolhi para nós querida,
Mas a cada briga e má escolha,
Criava-se uma nova ferida,
Até chegar ao ponto em que não dava pra continuar.
Por favor, tente não me odiar,
Você sabe o quanto eu fiz para não parar de te amar.
Eu morreria se fosse pra você parar de sofrer,
Mas eu também não posso ficar sem te ver,
Eu também não posso ficar com você.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

RECIPROCIDADE MUDA

Ele espera por Ela,
Ela espera por Ele,
Ele é tímido demais para contar,
E Ela, orgulhosa demais para dizer.
Que triste, pois aos dois só resta se lamentar,
Pois jamais irão saber,
Que entre os dois há tão recíproco sentimento,
Que tenta escapar a cada momento,
E que tão intensamente eles tentam silenciar.
É realmente triste, pois os dois se amam tanto,
Mas por medo, ninguém tenta se pronunciar,
Assim nenhum dos dois um dia desconfiará,
Que um já amou o outro, mas ambos cansaram de esperar.

sábado, 29 de outubro de 2011

TAXONOMIA DOS SERES HUMANOS

   Costumo ter um hábito de classificar seres humanos de acordo com suas personalidades, afeto ou empatia. Não, não são rótulos, e nem saio classificando-os por todas as esquinas ou classificando qualquer um que conheço. Só atribuo classificações àqueles quem conheço a tempo, ou àqueles mais próximos. Às vezes classifico aqueles que só ouço falar, mas convenhamos que alguns deles possuem rótulos bem expostos na testa. Enfim, classifico-os em bestas, diabos, humanos e anjos.

     É meio difícil de explicar os métodos ou um padrão característico de cada um, mas tentarei... Bestas são aquelas pessoas que eu considero sem salvação, as que perderam qualquer tipo de sentimento, são principalmente frias e egoísta, não possuem ética ou compaixão, fazem de tudo para conseguir o que querem, e mesmo que tenham amigos são capazes de abandoná-los facilmente se lhes servir.

    Já os diabos, ao contrário do que o nome deixa transparecer, não são piores que bestas, são os mais difíceis de classificar, são egoístas mas geralmente sem ser frios, são pessoas que ao invés de passar por cima dos outros, como as bestas, eles as usam, sem precisar de muito esforço, geralmente são pessoas belas ou ricas, com atributos com quais possam manipular os outros, são como jogadores, mas algumas vezes não chegam a ser pessoas realmente ruins, as vezes não fazem nem por mal.

    Os humanos, são aqueles que normalmente não são nenhum dos outros, a maioria, não são bons nem ruins, não, não são um intermédio. Humanos podem ser tanto pessoas boas quanto pessoas ruins, não há muito para se falar sobre eles.

    Os anjos são as raras pessoas boas, tão boas quanto os humanos bons, são aqueles que se importam demais, não consigo, mas com os outros, não necessariamente mais que si mesmo, mas algumas ainda o fazem. Ser anjo é um fardo pesado que poucas pessoas conseguem carregar, é geralmente doloroso, porque por se importarem demais, sofrem demais. Mas geralmente não conseguem ver também que são mais felizes, choram mais, mas quando é pra sorrir eles sorriem mais. Anjos são aqueles que te ajudam, que tentam te fazer feliz, tentam ajudar até quem eles não conhecem. Todos os papéis importantes são difíceis, e muitos desistem deles, muitos anjos tornam-se outras coisas, geralmente humanos, às vezes bestas. Mas imagine se um rei desistisse de ser rei, se um pai desistisse de ser pai, e se um Deus desistisse de ser Deus?

     Então aqui vai um recado para os anjos e para aqueles que um dia os foram: não desistam, pois pode até ser mais difícil, mas vocês são quem atrai mais amigos verdadeiros, vocês são únicos, na verdade, são Os únicos, os únicos que possuem uma energia a mais que ninguém possui. Vocês quem podem tocar as outras pessoas e mostrar que ainda há amor no mundo. Anjos não apenas voam, como também fazem voar.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

O REI DE UM MUNDO SÓ

Com um chapéu e seus fones de ouvido
Um garoto dançava pelas ruas vazias,
Às vezes movimentadas,
Durante a tarde ou a noite.
Ele não ligava para os olhares,
Nem se achariam que ele é louco,
Pois ele era apenas feliz.
Na verdade nem dança era,
Eram movimentos aleatórios, giratórios,
Com os braços e as pernas,
Movimentava-se ao ritmo da música.
Dentro da sua cabeça aquele era seu mundo,
Alheio a qualquer som exterior ele pensava ser alheio ao exterior.
Com seus fones de ouvido aquele se tornava um mundo paralelo,
Um mundo só dele, dentro daquela mente, daquele momento,
Ele era rei, ele era o rei de um mundo só.
E quem poderia julgá-lo?
Apenas todos os que o viam passar, dançar, sempre sorrindo.
Mas todos seriam externos, não pertenciam ao mundo dele,
Então por quê deveria se importar?
Quem poderia dizer que aquele garoto já foi incrivelmente triste?
Quem poderia dizer que ele já tentou se matar?
Quem poderia dizer que ainda chora a perda dela quase todo dia?
Ninguém poderia dizer, pois o sorriso dele era perfeito.
Não, não era falso, era verdadeiro,
Apesar de toda dor e lágrimas, ele sempre sorriu.
Ele é sempre feliz apesar de tudo,
Agarra-se a vida e a aprecia em todos os pequenos e efêmeros momentos.
Alheio a tudo, alheio a todos,
Era sempre só, dançando sem par nem coroa,
Sem rainha, sem súditos ou vassalos,
Era o rei do seu mundo,
O rei de um mundo só.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

UMA NOITE DE LUZES

Era uma noite bela e sem estrelas.
Eu andava só, pelas ruas movimentadas,
Olhar baixo e curtas passadas,
Entre carros incensáveis e pernas incansáveis.
Acabei por me deparar com uma festa,
Atraído pelo som sem nem perceber,
Como mariposa atraída pela luz, prestes a morrer.
Entrei e acabei por ficar,
Só, sentado no banco do bar.
Passos delirantes, corpos vibrantes,
Luzes coloridas, músicas bem pedidas,
E ela, quieta a dançar,
Não pude evitar não olhar.
Percebi então que as luzes eram ela,
Os holofotes eram pra ela,
A cor do local era a cor dela,
Arco-íris variável,
Jeito afável.
Fui até ela sem nem perceber,
Vi tantas cores em seu olhar,
Era como a aurora boreal,
E era como se me pedissem pra ficar.
Emanava dela tanta cor,
Do olhar, do espírito, da alma,
Mais frágil do que flor,
Uma cor e vibração que faziam-me emocionar,
Era impossível me controlar.
Seu cabelo loiro,
Do mais fino ouro,
Seu sorriso ao me ver,
O mais brilhante dos diamantes,
Fazendo-me ser, ser inconstante.
Era uma raridade, uma jóia,
Nobre beldade que me causava paranóia.
Puxei-a e a fiz minha,
Nobre rainha,
Rainha das cores,
Dona de meus amores.
Amei-a, amei-a durante a noite que seguia,
Até nos deitarmos, aguardando o raiar do dia.
Mas quando acordei percebi que ela havia sumido,
Fiquei desiludido.
Acabei por concluir que ela não era uma jóia ou rainha,
Nem cores, holofotes, arco-íris ou aurora boreal,
Nem ao menos fora minha
E nem será de qualquer ser real.
Pois concluí que ela era uma estrela,
A mais bela dentre todas elas.
E como toda estrela,
Brilha e ilumina durante a noite,
Depois torna-se açoite,
Desaparecendo quando o Sol começa a brilhar,
Deixando-o a lastimar.
Sim, ela era uma estrela,
A única estrela daquela bela noite sem estrelas.

sábado, 15 de outubro de 2011

O GAROTO SEM FAMÍLIA

Veio ao mundo sabe-se lá de que ventre,
Nascido de uma maneira que ninguém compreende.
Talvez de um óvulo qualquer,
Fecundado por um espermatozóide X contendo um cromossomo Y.
Vindo de um pai anônimo e uma qualquer mulher.
Cresceu sozinho em um apartamento,
Criado e repreendido por sombras,
Acumulando descontentamentos
Que por medo, não afronta.
Não sabia se era o caçula ou o herdeiro-varão,
Se tinha dois, três, quatro ou nenhum irmão.
Sabia-se que corria sangue em artérias pulsantes
E que carregava consigo um triste semblante.
Algum tio, primo ou avó?
Deles não havia nem pó,
Sempre sem ninguém,
Nem uma hemácia que se assemelhe a de alguém.
Não teve primos com quem contar,
Ou ao menos algum tipo de grupo familiar,
Teve apenas sombras de ordem e restrição,
E tristezas de uma triste solidão.
Era só, sem nenhuma família,
Por isso julgou impossível a alegria,
Mas então cresceu e mandou as sombras embora,
Tratando de ser feliz sem mais demora.
Não teve sangue com quem compartilhar,
Mas teve idéias a comparar,
Amigos para confiar,
E corações a conquistar.
Criou seu irmãos e irmãs a partir de história
E levou-os consigo, claro na memória.
Fez do papel e caneta, mãe e pai,
E com eles, ele vai.
Vai ser feliz como todo homem nasceu para ser,
Junto de uma família que construiu pelo viver.
Feliz, como todos somos destinados desde feto,
Independentemente de DNA, genes ou qualquer alelo,
Como todos deveríamos ver,
Como cada um deveria ser.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

LOVING YOU TILL THE END OF THE WORLD

I’m missing you today.
I don’t have faith, but I’ll pray,
Pray for some angel to bring you to me,
So you will see,
See that I’m here waiting for you,
So please be true
And tell me that you love me too.
Oh, darling, I can’t stand here waiting,
I’ll start searching, running, making,
Bringing you for me with my own hands,
Even if you are in some foreign land.
Somewhere, somehow,
I’ll follow you downtown,
To the end of the world if I could.
No, I couldn’t, I must,
But baby, you have to trust
And have faith in the love that is in me,
And God knows that it is the way it meant to be.
So let the Destiny control our life,
Cause I know he will make you be my wife,
And I know we will be together,
Together until forever.

sábado, 8 de outubro de 2011

JANELAS DE MINH'ALMA

    Lenta infinidade de um instante, faz-se perdurar por dias, dos mais tristes aos mais felizes. Quantas horas duraram os minutos daquele tão belo instante? Foi belo, foi bom. Querida, momento assim jamais haverá igual.

   Gosto quando pairamos os rostos um sobre o outro, e o deixamos lá, intactos, movimentando apenas nossos olhos. E eu a observo, vejo-a analisar minha face por inteiro, acompanho seu olhar com o meu e analiso seu analisar. Me vejo através do espelho que muitos pensam ser janela. Me divirto quando seu olhar paira em meus lábios, como presa pronta para atacar, como se quisesse possuí-los, devorá-los, como se fossem a entrada para minha alma, a entrada para a sua alma adentrar a minha.

   Mas ao contrário do que pensa, minha boca aberta não é convite de entrada, não é uma porta sempre aberta a você para que possa sair e entrar como bem quiser, como uma simples visitante. Querida, eu disse que se quisesse entrar teria que ser pra sempre, se saísse eu não a deixaria voltar. Querida, saiba que nem ao menos porta meus lábios são, são o que pensam ser os olhos, janelas de minh'alma, não que meus olhos também não o sejam, mas para você serão os lábios e só os lábios. Meus lábios abertos são para que veja o que jogou fora, o que desprezou e distratou. São para que veja minha tristeza e solidão. Nada a mais ou a menos, apenas isso, janelas de minh'alma.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

RABISCOS

Eu não a amo...................Eu não a amo.....................................Eu não a amo,

.........Eu não a amo................Eu não a amo..........Eu não a amo.............Eu não a amo,

...Eu não a amo.........Eu não a amo........Eu não a amo...................Eu não a amo,

...................Eu não a amo.................Eu não a amo.....Eu não a amo......Eu não a amo,


Maldição! Eu ainda a amo...

UMA CARTA PARA A QUE SE FOI

     Querida irmã,

    Hoje estou novamente precisando de ti, mas onde estás? Onde te escondestes? Os dias já não são os mesmo desde que partistes. Eu também já não tenho sido o mesmo, venho sendo frio, triste e solitário... Principalmente isto, solitário... Por que tivestes que ir? Preciso tanto de ti, sinto falta dos dias em que me apoiava, me acalmava, até dos que se silenciava. Oh, querida irmã, como sinto falta dos dias em que eu podia chorar em teus ombros! Agora choro apenas aos cantos e aos travesseiros, sempre só, sempre só... Preciso de você agora de novo, meu anjo, como tantas vezes antes, e, de novo, como tantas vezes antes, tu me abandonas. Eu posso esperar, minha irmã, posso esperar uns dois ou três dias, não precisa ser agora, mas não mostras menor ar de vida, não dizes se posso vê-la e nem se irá me ver, apenas te cala e finge não haver necessidade minha em ti. Ignora-me, esconde-te, tuas palavras tem estado frias. Estou tão só, minha irmã, onde estás agora? Eu já lhe disse que ela morreu? Seu velório ocorrerá dentro de uma ou duas semanas. Nem imaginas minha depressão, não consigo nem conter as lágrimas ao escrever-lhe isto, choro por todos os cômodos, cantos e horas. Não tenho nem vontade de comer, não faz nem duas semanas desde que ela se foi e já perdi cerca de quinze quilos, não consigo comer, irmã, não consigo mais viver. Estou anêmico, anoréxico, por favor venha ver-me, minha irmã. Deixe-me chorar em teus ombros novamente, convença-me de que suicídio é errado, pois não consigo mais viver, não quero, não sem ela. Meu mundo sem ela é triste, é em preto e branco com traços escarlates de automutilação. Querida irmã, preciso de ti, dê-me notícias tuas, apareça e me ajude, por favor. Preciso tanto de ti agora, mas onde estás, minha querida irmã? Para onde fostes que levastes teu ombro embora? Para onde fostes que levastes meu sorriso embora?

terça-feira, 4 de outubro de 2011

MENTIRAS EPITÁFICAS

Há de ser belo o momento da morte, é de uma beleza decrépita e mórbida que poucos são capazes de ver. O momento da morte é o momento do perdão, os ali presentes são amigos esquecidos, amores antigos, velhos inimigos... Mas naquele momento, hão de tudo esquecer, e apenas respeitar o silêncio do defunto.

É na morte que recebemos o valor que tivemos em vida, pois é na falta que se vê a necessidade. Podes achar que falo apenas em sentimentalismos, mas falo também em ciência, quantos não foram os cientistas cuja fama deu-se na pós-vida? Falo da distância mínima do perceber no olhar, na qual é tão invisível aquele que está tão próximo de nós... Falo também

Na morte há o esquecimento dos erros, há às vezes, também, a invenção de valores. Quantos não foram os epitáfios exagerados ou mentirosos espalhados em nome de entes queridos e não-queridos? Ao caminhar por um cemitério vejo quase sempre os mesmos mortos, mesmo epitáfio, mesmas mentiras sobre qualidades sem defeitos dos que se foram, a mesma ilusão de perfeição... Mudam-se apenas os ricos e pobres, túmulos maiores, bem decorados, escritos e pintados, já outros, normais, sem beleza, iguais...

Desculpem-me, mas hei de acabar com a igualdade pós-vida e com as mentiras epitáficas, pois deturpam a beleza da morte e distorcem o silêncio dos mortos.
Acabam com a singularidade de cada ser e com cada um de seus defeitos, que vos digo, são tantos! Devem viver a morte com a mesma singularidade e pecados que se viveram a vida, sem invenções de perfeição, apenas com o perdão dos que ficam, ficam chorando, chorando a beleza do morrer.

Nos mortos há apenas duas simples igualdades, hão de viver sós e morrer sós, como hão de viver a vida como se vive a morte, rapidamente, porém, dolorosamente.

domingo, 2 de outubro de 2011

O NÃO-EU NO ESPELHO

Um dedo a mais, um dedo a menos,
Uma cicatriz a mais e outra a menos,
Uma fração de lágrimas a mais,
Uma porcentagem do coração a menos.
Sem cores e nem infância,
Levanto da minha cama em preto e branco,
Onde todo o resto é em preto e branco com seus tons de cinza.
Quem diria que eu acabaria assim...
Olhando reflexos no espelho
Onde nenhum deles me pertence.
Me diz se sou eu neste espelho...
Não, não pode ser,
Sou realmente eu quem eu estou vendo refletido?
Mas onde estão minhas mãos que acariciam, que afagam?
Onde estão meus sorrisos sinceros e minhas preocupações?
Onde está aquele velho espelho de sentimentos que eu era?
Agora ele já não reflete mais nada.
E a única coisa que vejo neste reflexo são os olhos,
Os olhos ainda são os mesmo que os meus,
Cheios de lágrimas, de esperanças,
De sonhos impossíveis.
Mas agora são janelas de uma alma diferente,
Uma alma que não era pra ser minha...
Não, ela não é minha!
Este reflexo no espelho...
Não, ele não sou eu!
Eu não sou eu!
Alguém, por favor, me diz que não sou eu,
Me diz que eu ainda tenho chance,
Me salva, me devolve a mim mesmo,
Pois sou agora o reflexo do espelho,
E o reflexo do espelho,
Ele agora sou eu.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

SOBRE MENTIRAS, DECEPÇÕES E CICLOS DE DOR, ENFIM... SOBRE SORRISOS

   Estavam três amigos em uma mesa de bar a conversar. O primeiro havia acabado de descobrir que sua mulher o traía. O segundo havia sido deixado pela namorada por tê-la traído. Já o terceiro estava sozinho há algum tempo, então não havia decepção além da solidão.

   O primeiro, depois de virar um copo de tequila, disse deprimido:
  - Sabe, as vezes eu queria ler a mente das pessoas, quem sabe assim eu descobria quando elas estão mentindo para mim.

   O segundo, segurando uma garrafa de cerveja na mão, comentou:
   - Já eu preferia poder voltar no tempo, eu poderia consertar todas as merdas que eu fiz, assim não haveria arrependimentos.

   O primeiro então continuou seu raciocínio:
  - Sabe, as pessoas são muito falsas, elas mentem e manipulam, nunca da para ter certeza de quem está certo ou quem está errado. É sempre uma dúvida cruel, eu estou cansado de pegar mentiras e ser enganado, toda essa falsidade me mata, foi a gota d’água agora.

  O segundo respondeu-lhe:

  - Eu ainda preferiria voltar no tempo, assim, mesmo depois das mentiras, eu voltaria atrás e mudaria as coisas, jamais me aproximando das pessoas erradas.

  O terceiro, que estava apenas a observar a conversa interrompeu-lhe:

  - Mas espere, se você voltasse atrás e mudasse as coisas, a sua dor seria a mesma, e continuaria lá. Porque o fato já teria ocorrido antes.

  O segundo pensou por um tempo e respondeu-lhe o seguinte:
 
  - Muito bem pensado, mas isso impediria de que o fato tivesse acontecido, assim muitas coisas no futuro seriam mudadas, apesar de que a dor continuaria, e o tempo gasto com o erro seria reposto por uma pessoa que valesse mais a pena. Além do que, imagine o que seria uma vida sem decepções, todos os seus erros poderiam ser consertados.

  O primeiro pensou e acabou por concordar som o segundo. Já o terceiro continuava discordando dos dois. Que acabou por concluir o seguinte:

  - O pensamento de vocês é egoísta, ler mentes seria algo horrível, a verdade por si só, por completo, é algo que ninguém conseguiria lidar. Sei por ser alguém que costumava falar apenas a verdade nua e crua. E do que seria a vida sem decepções? Nós não aprenderíamos lições, não aprenderíamos a nos levantar. E se fosse um erro que não tivesse em nada sua culpa? Como você o consertaria? Isso não mudaria muitas coisas.

  Os dois primeiros indignaram-se com o argumento do terceiro, e perguntaram-lhe o que ele queria então. O terceiro, depois de virar um copo de vodka, respondeu-lhes calmamente:

  - Eu queria poder fazer as pessoas felizes, simplesmente. Imagine, se todos fossem felizes por completo, não haveria tantas mentiras, pois muitas mentiras são criadas por medo da verdade, pois a verdade já deu-lhes tristeza, muitos acreditam que mentindo se pode ser mais feliz, por existirem pessoas incapazes de dar-lhes felicidade com a verdade, ou por terem mentido para eles também, entende? É tudo, um enorme ciclo de dor e ódio. Se todos fossem felizes, não haveria medo de dar o passo adiante, nem o medo de agir ou o medo de confiar. As pessoas errariam menos, sentiriam menos dúvidas, quem sabe até perdoariam mais. Não culpe as pessoas em si, mas sim o conjunto inteiro de pessoas, pois todos nós temos culpa nisso. Como eu já disse, é um eterno ciclo de dor e ódio, feito por pessoas ruins, mas a maioria por pessoas machucadas, tristes, frias por serem feridas pelo excesso de sentimento. Tudo o que eu mais queria era isso, poder fazer as pessoas felizes, mas, infelizmente, eu não posso...

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

UM SONHO DE INFÂNCIA

Lembro-me de uma conversa há uns anos atrás,
Pouco menos de oito eu suponho.
Que fique claro ao leitor que hoje tenho dezoito anos,
Então na época eu havia de ser uma criança por volta de seus doze anos.
Eu conversava com dois amigos,
Que falavam do que desejavam fazer quando crescer,
Um seria veterinário, pois havia de amar os animais,
Outro seria o que o pai é, pouco sabia ele o que o pai fazia.
Depois me perguntaram o que eu queria me tornar,
Respondi-lhes o seguinte:
“Quero aprender a consertar as coisas”
Meus amigos riram e falaram que meu sonho era bobo,
Perguntaram-me porque,
E respondi-lhes:
“Há algo que preciso aprender a consertar”
Espantados, me perguntaram o que era,
E novamente respondi-lhes:
“Preciso consertar o mundo, ele está quebrado”.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

POEIRAS DO PASSADO

Do tempo e da memória,
Resguarda um véu de poeira.
Poeira velha, antiga,
Cujo véu cobria-lhe a face e a forma.
Era algo que transgredia do passado,
E não de um passado qualquer,
Mas do meu passado.
E esse algo ou alguém vinha em minha direção,
Caminhando sobre os anos esquecidos,
Escondendo-os sobre o véu
E trazendo-os com si como poeira.
E lhes aviso que tal passado era antigo,
Era obscuro e cheio de dor.
Subjuguei-o, lancei-o ao tempo,
Lancei-o ao esquecimento no fundo da memória.
Lancei meu passado no passado,
Joguei-o fora.
E de tal passado enevoado,
Enevoado pela vontade de esquecer,
Trouxe dois amigos comigo,
Como um baú de brinquedos.
E apenas isso, apenas dois amigos.
Mas então me vem este ser antigo
Que caminha através do tempo,
Quebrando todas suas barreiras,
Quebrando todas as paredes que construí para separá-lo de mim.
Este ser caminha através dos anos,
Remetendo-me ao passado.
E eu o abraço,
Abraço meu passado e tal ser,
Pois este ser antigo criou-me um significado,
E a partir dele (o ser), dei valor ao tempo.
Ao tempo outrora passado,
Hoje, presente.
Retirei-lhe o véu e a poeira,
Limpei-a como se limpa o álbum de fotos empoeirado,
Vi sua face e forma.
Eram tão belas,
Ela era tão bela.
Beijei-a então,
Pois eu havia de fazer dela minha amante,
Amando assim os fragmentos do meu passado.
Eu a amei,
Trouxe-a para mim como se traz a infância,
Pois era o que ela era,
E é o que somos...
Crianças,
Brincando com nossos castelos de areia,
Nossos beijos inocentes,
E nossos pequenos dedos entrelaçados.
Então fiz do meu passado o meu presente,
Porém as ruínas de um presente já presente,
Fizeram do novo passado também ruína.
E assim tudo arruinou-se,
Desabando todos nossos castelos de areia,
Fazendo de tudo poeira.
E assim como ela veio,
Ela também se foi,
Como poeiras do passado.
Assim como tudo está destinado a um dia ser,
Poeiras do passado...

domingo, 18 de setembro de 2011

O DIA ETERNO

Durante o pôr-do-sol,
Prometa-me dar-me a mão,
E permaneça comigo,
Assim, como costumamos ficar.
Durante o pôr-do-sol,
Deixe-se desviar os olhos,
E que pairem sobre os meus,
Que já estarão a observando,
E prometa-me deixar que eu a afague,
Com minha doce mão de amante.
Quando a Lua nascer,
Deixe-me compará-la a ela,
Deixe-me pegar um brilho de uma estrela para você,
E entregar-lhe aquela carta,
Que guardei para a hora certa.
Quando a Lua nascer,
Prometa-me todo seu carinho,
Prometa-me poder repousar meus lábios nos teus,
E deixe-me falar quantas vezes for, que a amo,
E prometa-me retribuir-me este amor.
E quando a noite cair,
Caia em meus braços,
Pois eles sempre a segurarão,
Se entregue a mim como já estou entregue a ti.
E quando a noite cair,
A faremos durar,
Durante os últimos minutos sob a romântica luz prateada,
Deixando de lado as promessas, o contrato,
Entregues apenas ao doce desejo,
Salgado pelo fluido corporal.
Pois quando o dia raiar,
Só me prometa que vamos permanecer juntos,
Um de frente para o outro,
Acordando sob o mesmo lençol bagunçado,
Sob o mesmo teto marcado,
À luz de um espelho riscado,
Juntos na eternidade que durar.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

SOBRE MASOQUISMO E MARCAS DE POSSE

Arranhe-me,
Rasgue-me a carne,
Ouça meu grito abafado como alarme.
Alcance minha alma,
Não, não alcance, tenha calma.
Pode ser até de relance,
Mas veja,
A alma que tanto almeja
Já foi por ti tocada,
Esvaindo-se pela carne rasgada
Para tornar-se entrelaçada a tua,
Deixando-a entrar pelos poros da pele nua.
Pele nua, faça-se a face também nua,
Despindo de ti as mentiras cruas,
Tornando teus olhos em flor,
Flores cheias de amor
Mas que com espinhos me fere,
Que dor!
São seus carinhos e preces sem mais rancor.
Delicioso é tal sabor
Que escorre dos meus hematomas de amor,
E tu lambe-me tal licor,
Causando-me esta leve aflição.
Porém não pares não,
Pois me delicia tal sensação.
Dor leve, suave,
Libido elevado feito ave,
Por meu corpo por ti ferido, marcado,
Como território delimitado.
Porém já sou teu,
E tu és minha,
Assim como já está escrito em cada breve linha,
Assim como está também escrito em partes do meu corpo,
Em traços escarlates, de jeito torto,
Porém bem visível,
Um erro plausível,
Aceitado pela mão que me cura,
Mão tua,
Mas que também és minha,
Como já bem visto desde o começo do texto,
Até esta última linha.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

AQUILO QUE JAMAIS HÁ VOLTA

   Perdão, desculpas, atos jogados sem raciocínio. Deixamos-nos levar pela ira e pela cólera, atiramos e matamos... Mas apenas por dentro, por fora alguns ainda conseguem estampar um breve sorriso. Atiramos e matamos mas sem deixar escorrer sangue, apenas escorrer lágrimas. Mas tudo tem volta para aqueles que conhecem o perdão. Menos as palavras, elas não, elas não voltam à boca ou à mente de quem as atirou.

   Até mesmo uma punhalada, no final, volta. Pois depois de fincado, o punhal é retirado... Ele retorna. Sei que isso não muda a dor, não instantaneamente. Torna-se uma ferida de imensa dor constante mas que sara e passa, tornando-se no máximo uma cicatriz. Mas a cicatriz não dói, se você tocar nela não sentirá dor. E se você se lembrar da punhalada, a lembrança não reviverá as dores do passado.

   Já as palavras, não. Uma vez atiradas elas se fincam em você e jamais saem. Podem até não serem feridas de dor constante, mas serão feridas que jamais sararão. Serão feridas para sempre abertas que irão doer sempre que você as tocar. Até mesmo as que saram doem quando você se lembra. É como se invocassem as dores do passado ao presente.

   Assim são também algumas ações, essas tais de "ações sem volta"... E mesmo que haja o perdão, essas ações ou palavras desencadeiam uma série de reações, atitudes, inseguranças, mágoas e/ou dores. É como bem disse Newton: para toda ação há sempre uma reação oposta e de igual intensidade. Então não se deixe levar pela ira, acalme-se e reflita, pense bem no que vai fazer e, principalmente, falar. Pois algumas coisas... Elas não voltam atrás... Algumas dores não retornam e as palavras também não... Não... Elas nunca têm volta.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

OS ROMANCISTAS

Os três amigos haviam se apaixonado,
E pela mesma mulher começaram a brigar,
José de Alencar, Vinícius de Moraes e Jorge Amado,
Decidiram que pelo amor da dama iriam disputar.
José foi o primeiro,
Disse que usaria da educação e sensualidade para conquistar,
Era um cavalheiro, tinha certo dinheiro,
Levou a dama para jantar.
Abriu-lhe a porta do carro, beijou-lhe as costas da mão,
Até puxou-lhe a cadeira para sentar,
Disse que sem ela morreria em vão,
Assim consegui-a beijar.
Mas de nada havia adiantado,
Pois seu coração ele não conseguira conquistar,
Havia sido cavalheiro e educado... Mal-amado,
Só restava se lamentar.
Vinícius de Moraes fora o segundo,
Disse que para ela iria tocar e cantar,
Era um compositor profundo,
E até à praia decidiu a levar.
Para ela ele compôs, tocou e cantou,
Era uma melodia serena que faria ela se entregar,
Mas que de nada adiantou, nem um beijo ganhou,
Pois foi incapaz de fazê-la se apaixonar.
Os dois amigos se juntaram de coração partido, ferido,
Foram ao bar beber e chorar,
Era então a vez do terceiro amigo,
Que já estava a gargalhar.
O terceiro fora Jorge Amado,
Chamou-a à própria casa para conversar,
Romântico, levou-a ao telhado,
E sob o céu estrelado começou a se declarar.
Recitou seu poema de palavras tão belas,
E ela começou a se encantar,
Mas foi no jantar a luz de velas sob a vista da janela,
Que começaram a namorar.
E então o tempo passou,
E ele queria se casar,
Na frente dela se ajoelhou,
Apenas para ver o coração quebrar.
Ela disse que não queria casamento,
Queria apenas um par,
Deixou-o nesse eterno sofrimento,
Desesperado a chorar.
José de Alencar, Vinícius de Moraes e Jorge Amado,
Todos juntos num bar,
A amizade inteira haviam reatado,
Pois tinham em comum o chorar.
Depois de um tempo acabaram por descobrir,
Que aquela mulher acabara por se casar,
Nada conseguiram sentir,
Além de um leve pesar.
Jovem, jogador de futbol e corpo atlético,
Pai rico, jamais tivera problema em gastar,
Mas possuía um espírito fétido,
Pronto para a enganar.
Comprou-lhe um carro, um anel de diamantes e uma casa,
E foi o suficiente para ela se encantar,
Tinha os olhos brilhantes que não serviram de nada,
Pois iria se decepcionar.
De tanto se iludir, não sentia o que estava por vir,
Como teria certezas pelos presente que só se podiam apalpar?
Ele logo começou a lhe trair,
E foi o suficiente para seu coração quebrar.
Os três amigos nada podiam fazer,
Apenas lastimar,
Pois eles tinham tanto a oferecer,
E ela se apaixonara por alguém sem nada para dar.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

SIMPLESMENTE SILÊNCIO

E é neste silêncio,
Nessa absurda ausência de palavras,
Que percebo o quão grande é também sua ausência,
Percebo o quanto sinto sua falta.
E é neste silêncio,
Meio a sua presença,
Mas na ausência de palavras,
Que vejo o como apenas estar com você,
Já é tudo pra mim,
Apenas ao olhar o quanto é bela,
Ou o quanto a luz da Lua realça seus olhos.
Percebo que não necessitamos palavras,
Nem da mais simples ou composta oração,
Nem de subordinativos ou subordinados.
Não necessitamos palavra alguma,
Não necessitamos som algum,
Apenas gestos,
Do mais simples ao mais complexo,
Desde um abraço ou simples laçado de mãos,
Até um tocar de lábios,
Apaixonados como nosso coração.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

NOSSA HISTÓRIA SEM FIM

Antes era tudo frustração,
Amores lançados sem precisão.
Minha incerteza e sua insegurança,
Entrelaçados como em brincadeira de criança
Num eterno defender e atacar,
Onde suas palavras vinham pra matar.
E eu fazia apenas resistir,
Me perguntando se dali algum amor poderia fluir.
Depois veio o tempo de revidar,
Pois eu já havia desistido,
Estava cansado de tanto me machucar
E achei que aquele amor já havia morrido.
Mas então você veio se redimir,
Me tratando da forma como sempre lhe pedi.
Mas mesmo assim não parávamos de brigar,
Pois nossa confiança jamais tentamos melhorar.
Então passou-se o tempo,
Que aos poucos curou nosso desalento.
O inverno foi aos poucos passando,
Dando ar à esta primavera de flores,
De flores como as de nossos olhos quando nos amando,
Apagando então todos os resquícios de dores.
Agora é tudo mais belo,
O verde com vermelho, o azul com amarelo...
Todas suas cores me encantam,
E com a voz que guardas, elas cantam,
Cantam sobre a felicidade de estar com você,
Cantam sobre um amor que ninguém vai entender.
Mas pouco me importa se ninguém entender,
Pois nessa relação só há eu e você.
E mesmo apesar de tudo ainda me sobra uma ferida,
Ainda levo comigo um leve machucado,
Sabe o que ainda me frustra, querida?
Te desejar boa noite mas não dormir ao teu lado.

domingo, 28 de agosto de 2011

ESPECTRO

Vejo você distante,
Branca como sempre fora,
Com aquele longo vestido preto
Naquele cemitério antigo
Coberto por neblina.
Você está quase que transparente,
Posso ver através de você
E você está desaparecendo.
Desaparecendo em meio às sombras
Assim como quando veio à mim,
Querida anja da noite.
Ou seria eu que teria ido a você?
Alguém te chama,
É, também posso escutar,
Também posso ver.
Posso ver também que você é incapaz.
Incapaz de dar uma mão a mim
Para atendê-lo com a outra.
Não, você não se contém,
Se entrega por inteira,
De corpo e alma,
E se esvai...
Você está desaparecendo,
Se distanciando, sumindo,
Está escutando o fantasma em você.
E como um espectro em meio à noite de neblina...
Você parte para outro plano...
Não, você não morreu,
Quem morreu foi o meu “eu” que estava em você.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

ASSIM...

Você há de chegar como quem há de querer,
E eu observo, pois hei de desejar,
Mas sem atitude, só faço ver,
Sem jamais deixar de amar.
Entendendo que o tempo há de morrer,
Morrendo aos poucos sem ti,
Tu! Que há de fazer o momento fluir,
Indicando mais rapidamente o final do viver.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

A METADE DE UM SEGREDO VERTICAL

Lírica é a voz, proveniente do lábio que seduz,
Úmidos, como a língua que tanto já provei,
Íntimo como o momento de apagar a luz,
Ziguezagueando entre sorrisos e lágrimas que já chorei,
Amada para sempre no silêncio que conduz.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

NÃO SE NOMEIA O QUE NÃO TEVE FIM

A cada dia que passa,
Eu busco em você
Razões para estar e para ser.
Busco em mim mesmo
Pernas que satisfaçam seu desejo
De caminhar até ti,
E, conforme me aproximo,
Vê-la sorrir.
A cada dia que passa
Você tira de mim
Qualquer motivo que me faça te querer assim.
Você se faz dona de si,
Querendo também ser dona de mim.
E na sua lista de obrigações
Eu só aceito ter você,
Mas você impõe diversas condições,
Me impedindo de novamente poder ser.
Você se faz feliz a partir de outros,
Pra você não basta só nós dois,
Você inclui terceiros, quartos, ambos loucos,
Ou talvez a louca seja você
Que empurrou nossa felicidade para depois.
Você se apega demais ao passado,
E se esquece de construir a felicidade presente,
Recorda tanto seus ex-namorados,
Deixando o atual ausente.
Ausente do seu pensamento,
Da sua felicidade,
Criando meu descontentamento,
Silenciado pela minha imbecil piedade,
De sempre beijar os erros teus,
Calando o choro meu.
E tudo o que eu sempre quis,
Foi ser tudo pra você,
Agora tudo o que eu quero,
É não mais te querer.
Agora você irá me valorizar,
Vai ter desejado nunca ter me feito chorar,
Irá se arrepender de não termos fotos para você recordar,
Ou um porta-retrato para ser meu lugar.
Agora você começará a realmente me amar,
Realmente me respeitar,
E se lamentar por antes não ter amado,
Pois a partir de hoje eu me torno seu passado.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

DESMODERADAMENTE DESENFREADA

Ela move-se assim,
Anda como que alcoolizada,
Tropeça e derruba tudo por onde passa.
Quebra tudo em seu caminho,
Quebra até mesmo os corações.
Às vezes chega a quebrar até a si mesma.
Ela é boa atriz,
Finge andar enquanto está estagnada,
Finge até estar parada enquanto se move.
Chega ao seu lado sorrateiramente,
Como quem nada quer,
Aproxima-se sem ser notada
E lhe atinge de surpresa.
Porém sua falta de equilíbrio a denuncia,
Deixa evidente seus tropeços e falsos passos,
Tentando chegar como quem finge pensar em querer
Enquanto me afasto como quem já não quer
Mesmo que ambos saibamos que Também sempre quis.
Ela chega assim,
Tropeça e desequilibra.
E eu, por reflexo,
Ou por instinto de ajudar,
Sempre a seguro para não cair,
Ou dou-lhe a mão para levantar.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

REFORMAS

Foi assim, você para um lado e eu para o outro, e nem ao menos me virei para ver se você olhou para trás... Agora está tudo jogado ao chão, jogado aos pedaços, e dessa vez não serei eu ao ter o trabalho de juntar as peças novamente e passar noites acordado colando os cacos. Tudo o que demoramos para acumular e empilhar você passou a mão e jogou tudo ao chão. Agora não há mais fotos para eu lembrar e nem almofada para eu deitar, não há mais bugigangas sem o mínimo valor material, mas de imenso valor sentimental, não há ao menos um frasco vazio do seu perfume ou uma peça de roupa que seja para que eu sinta falta...

O cômodo inteiro eu tive que reformar, tive que mudar móveis e lembranças do lugar¹, pôr as lágrimas embaixo do tapete, pendurar quadros para que eu veja rostos diferentes do seu. E por mais que eu o encha de pertences, sem os seus ele é vazio. Mas mesmo assim é difícil não esperar que a cada mensagem tenha um recado seu dizendo que vai voltar ou que tudo vai passar. Se bem que vendo pelo lado que você viu, foi melhor assim, um para cada lado, sem haver mais nada para comparar, sem brigas tolas para suportar ou stress para descarregar, sem haver mentiras para você acreditar, cuja mentira delas eu já tentei te provar mas é impossível que você possa confiar. É melhor assim, sem haver peso para eu suportar ou dúvidas para você questionar.

E saiba que por mais que eu diga que não minta para você, eu minto, pois agora estou te fazendo acreditar que está tudo bem, quando não estou nada bem, estou fazendo você acreditar que é melhor assim, quando não é. Eu apenas queria os móveis e lembranças cada um de volta em seu lugar, com quadros e fotos suas para eu poder lembrar. Mas não se preocupe isso vai passar, nem que o prédio inteiro eu tenha que reformar, nem que para outra cidade eu precise me mudar.


1: Luiza Possi - Eu Espero

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

A BESTA

Veja, minha amada,
Sinta com seus próprios dedos minha face desfigurada.
Vejo no que estou me transformando,
Veja no que você está me tornando.
Você me feriu, querida,
Usou do orgulho para esconder o coração,
Atirou frases e palavras em minha direção,
E sua mira era perfeita,
Você era perfeita.
Com o olhar assassino que sempre me espreita,
Me viu cair sem nada fazer,
Tentou me salvar apenas no último instante do viver.
E eu, por falta de reflexo,
Proteção ou amor,
Aceitei suas palavras sem guardar rancor,
Me deixei atingir,
Me deixei ferir.
Agora eu estou me transformando numa besta,
Não por minha veemência
E não numa besta por inteligência,
Mas uma besta humana, insana,
Não aquela que conta os contos de fada,
Mas uma besta fadada a machucar,
Por ter sido demais machucada.
Eu jamais fui rancoroso,
Jamais fui vingativo,
Jamais fui orgulhoso,
Mas veja o que fez comigo,
Sinta com seus próprios dedos minhas mordidas
E veja a minha face desfigurada por feridas.
Veja, minha amada,
Os olhos cheios de lágrimas por você derramadas.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

DESMORONANDO-ME EM MIM MESMO

Querida, eu estou desmoronando.
Tudo que construí em mim,
Cada viga e tijolo que me faz ser eu...
Está tudo desmoronando.

E enquanto caio em pedaços eu grito por ajuda,
Eu gritava por você, eu podia vê-la.
Estendi a mão numa tentativa tola de alcançá-la
E por incrível que pareça você a segurou.
Mas foi apenas para puxar-me o ouvido à sua boca
E não foi para lamber-me a orelha desta vez,
Foi para me matar com palavras sussurradas de mistério.

Você disse que aquilo era pro meu bem,
Disse que estava me curando,
Mas acho que você exagerou na dosagem do remédio.
Mas não se preocupe mais, querida,
Estou te libertando de ser minha enfermeira, minha médica,
Você pode até aprender a curar doenças e outras dores,
Mas você não sabe curar um coração.

Lembra daquele prédio antigo que moramos?
Aquele que eu construí dentro de mim pra abrigar seu coração?
Ele também está desmoronando, querida, tijolo por tijolo.
E sou eu quem dou minha cabeça à cada tijolada,
Sou eu quem vê o próprio sangue ao chão.

Mas não se culpe querida,
Não se culpe quando ouvir o baque surdo do meu cadáver ao solo,
Soterrado por milhões de tijolos verdes com vermelho, azuis com branco...
Infelizmente, essa é a nossa realidade querida.
Mas, por favor, não se culpe, apenas seja feliz.
Pois amo seu sorriso, amo sua energia,
A culpa é minha por ter me apaixonado por você.

COM UM PEDAÇO DE CADA COISA TUDO TORNA-SE VOCÊ

“Oh minha menina és de tudo que mais belo existe”, e por mais que rejeitasse e negasse todos meus elogios e afetos “eu fiz de tudo pra ganhar você pra mim, mas mesmo assim” você se mostrou fria, indiferente, às vezes até repulsiva. Eu não entendo isso, você “exibe a frente um coração que não divide com ninguém”, e eu “sei que tua solidão me dói”, mas “eu fiz de tudo pra você perceber que era eu” que iria dividir seu coração, era eu que iria fazê-la feliz. Lembra “o quanto eu te falei que isso vai mudar”? Desculpe se já te machuquei, “quem me dera poder consertar tudo que eu fiz”, eu sei que te fiz sofrer, “então fica bem se eu sofro um pouco mais”. Saiba que apesar das minhas dúvidas e incertezas, “a certeza do amor não me deixa nunca mais”. Eu te amo, e não finja que não esta ouvindo, “desliga o som dessa TV pra gente conversar”, não diga que não há volta, não desista tão fácil, olhe pra mim, ainda podemos reconstruir tudo aquilo, “ninguém dirá que é tarde demais”...

Eu lembro bem que você falou: “você disse que não sabe se não, mas também não tem certeza que sim”, é... Desculpe se sou confuso e inseguro, mas “você sabe que eu só penso em você”, acontece que “teus sinais me confundem da cabeça aos pés”. Eu acabo me perdendo e não sabendo o que fazer, “sem contar os dias que me faz morrer, sem saber de ti, jogado à solidão”. Acho que só preciso de “um dia frio, um bom lugar pra ler um livro, e o pensamento lá em você”, preciso de um lugar pra descansar, me acalmar, pensar... Mas se bem que “quando é assim, deixa vir do coração”. Vou resolver tudo isso, prometo. Não desacredite em mim, “acredite no final feliz”, pois quando tudo passar, “tudo nascerá mais belo, o verde faz do azul com amarelo” e com todas as cores iremos ver e enfeitar nosso mundo.

Apenas tenha paciência e entenda que eu tenho coração, e “coração não é tão simples quanto pensa”.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

ESTOU QUEBRADO

Estou quebrado,
Em cada pedaço de mim,
Estou dilacerado,
Desejando que não seja o fim.
Estou quebrado,
Por cada tapa e beijo seu,
Estou quebrado,
Por cada tiro meu.
Sinto muito medo,
Estou frágil, fraco,
Quebrado como um brinquedo,
Como uma criança na caverna escura,
Perdida e insegura.
Está tudo fosco, estou mudo,
Tenho a faca ensangüentada,
Sou louco, sou tudo, sou nada.
Não sei o que sou mas sei o que era,
Não sei pra onde vou e nem o que me espera.
Peço ajuda, choro, grito,
Mas ninguém me acuda, estou ferido.
Estou quebrado, estilhaçado,
Catando cacos de um sentimento,
De um coração que jamais esteve aqui dentro.
Pois esteve sempre com você,
E você o pôs a se perder.
Agora permaneço aqui estagnado,
Com medo, confuso,
Não sei mais se estou quebrado,
Ou se apenas falta um parafuso.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

SÍNDROME DE PETER-PAN

Ainda não consigo aceitar essa minha mudança de forma, esse novo “estado adulto”, sei que preciso dele, mas tenho medo, muito medo. Sei que preciso dele agora, mas também sei que é só agora. Preciso ser adulto, mas não quero, tenho medo de me perder, de não voltar a ser eu mesmo. E depois que eu não precisar mais ser adulto? Poderei voltar a ser jovem? Poderei voltar a ser eu mesmo? E se eu não conseguir? E se eu ficar preso nesta nova forma e não lembrar como eu era(como sou agora)? E se eu acabar como um jovem adulto, acho que assim ao menos terei metade de mim.

Mas o que seria o adulto? O responsável e maduro ser humano? Pra mim é um ser humano machucado e ferido, vítima de anos e anos como testemunha do mundo podre em que vivemos. O adulto é ruim, falso, frio, ele é o fruto da corrupção da inocência infantil através do tempo. Eu não quero me perder num mundo adulto, num mundo de relógios e rotinas, eu tenho medo, tenho medo de não ser eu.

As vezes não sei se o adulto é ruim por ser adulto ou por ser humano, acho que de ambos é a culpa. Eu posso então ser adulto, mas sem ser humano, talvez assim eu não me perca, ao menos que por completo, sei que se for pra ser os dois eu vou me perder, vou virar apenas mais um, sem pensamento próprio, ou apenas com o pensamento próprio. Serei adulto sem ser humano, ao menos que temporariamente, eu serei adulto. Depois que não mais precisar eu voltarei a ser eu mesmo, ou talvez uma miscigenação, um jovem-adulto, e isso eu não posso prever, pois o futuro é incerto. Me entregar desse jeito ao mundo, é incerto.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

SEM PALAVRAS PARA DESCREVER

O que será que anda acontecendo comigo? Eu não era pra ser assim, eu não devia... Eu não sou assim! Me recuso a aceitar esses moldes que tentam mudar minha forma. Sou algo diferente disso, um anjo, um espírito livre... Ou era, ao menos...

Em que estou me tornando? Ou melhor... Em que eu me tornei!? Um escravo? Um operário? Apenas mais um a passar por uma catraca todo dia!? Não, não sou assim, odeio essas rotinas, odeio ordens, obrigações. Gosto da vida que muda, gosto de ter a liberdade para mudar, de ter dias diferentes todo dia, é assim que sou.

Sou aquele tipo de pessoa que não liga pra nada, mas ao mesmo tempo se importa demais com todos. Sou um tipo que pessoa que quer fazer todos felizes. Sou o cara que ouve música e finge tocar bateria sem ao menos ligar se tem alguém olhando ou o que estão pensando, finjo tocar violão e faço uns solos loucamente. Canto baixo toda música que escuto, não por timidez ou algo assim, mas apenas pelo simples fato de não querer incomodar. Eu danço, giro, sorrio, sou pessimista e depressivo, mas mesmo assim, sorrio. Sinto vontade de correr, gritar, pular, quebrar alguma coisa... Apenas... Sinto.

Sou algo mais ou menos assim, com uma fera dentro mim, algo que eu achava incontrolável e que agora acabou numa jaula. Mantenho meu pouco carisma, minha simpatia, minha sensibilidade... Mantenho todo meu carinho e amor, mas agora enjaulado, numa forma diferente.

Mas estou reaprendendo a ser eu, talvez como um bebê. Estou livre novamente, reaprenderei minhas primeiras palavras... “Foda-se!”... Meus primeiros passos tortos... Não por inexperiência ou algo assim, quem sabe talvez por embriaguez. Retomarei meu olhar curioso... Não de criança, mas de questionador.

Mas então vejo os campos atrás de mim, todas as montanhas, a vegetação e as árvores... Estão se distanciando. Tudo aquilo com o qual mais me identifico, de que mais gosto, que mais me faz bem... Está tudo ficando pra trás. E na minha frente eu vejo a cidade, me puxando com cordas e correntes, se aproximando cada vez mais... Já estava reaprendendo a ser eu, a andar e a falar como eu, e tudo agora se perderá novamente... Merda! Vão me pôr em outra jaula, me fazer passar por várias outras catracas, numa eterna rotina que aos poucos irá retirar o brilho dos meus olhos... Que aos poucos irá retirar o brilho da minha vida.

A TEMPESTADE

Acordei de repente com um barulho,
O telhado rangia como se houvesse um enorme peso sobre ele,
As janelas batiam a ponto de se quebrarem,
Toda a pequena casa em que eu morava parecia estar se sacudindo.
Eu estava apavorado,
Os ventos tentavam tirar minha casa do solo,
A neve bloqueava a porta,
As janelas haviam sido congeladas,
A eletricidade tinha acabado,
A casa foi cedendo a medida que a tempestade aumentava,
As janelas quebraram-se,
Cortes foram feitos,
As vigas e colunas rachavam-se aos poucos,
A casa ia desmoronando...
Lembro de ter apagado,
E algo gelado me envolvia.
Acordei quase que enterrado na neve,
A tempestade não deixara nem mesmo o chão da minha casa,
E pior... Ela havia levado também meu coração,
Parece que ele não resistiu a tamanha destruição,
Mas no lugar dele a neve havia me dado outro coração,
Um coração de gelo...
Eu, tolo, achei poder viver com ele,
Mas a cada batida que esse novo coração dava,
Ele forçava o próprio gelo,
Que rachava-se aos poucos,
E agora esta a ponto de quebrar,
E quando acontecer,
Seus estilhaços se espalharão pelo meu corpo,
Cortando tudo por dentro,
E enfim pondo um fim a minha vida.

domingo, 10 de julho de 2011

NINFA DA NEVE

Quando ela entra todos sentem-se congelar,
Ela possui os cabelos dourados,
Hipnotizantes conforme movem-se.
Seus olhos azuis são lindos e profundos,
Seu olhar é penetrante,
Frio como gelo.
Sua pele parece neve, suave e bela,
Parecia poder congelar qualquer um que a tocar.
Ela chegou espalhando sua áurea no local,
Fazendo-se dama.
Ela olhou pra mim
E eu senti algo frio na nuca,
Eu sentia o olhar dela,
Sentia seu poder.
Eu olhei pra ela
E ela olhou pro lado,
Fingiu não ter me visto e foi a caminhar pelo salão.
Seus passos eram finos,
Andava com delicadeza e graciosidade,
Quase como que flutuando,
Deixando seu vestido branco mover-se ao vento.
Parecia querer chamar minha atenção,
Parecia querer-me então.
Mas por que me ignorava, não sei,
Mas sei que vou derreter todo gelo que me der,
Pois sou o fogo,
Sou o calor que precisas, minha dama.
Caminhei até ela e fui sentindo seu frio,
E ela, o meu calor.
Eu tentava tocá-la,
Mas ela se esquivava,
Movendo-se com tamanha graça que parecia dançar.
E continuamos nessa dança,
Ela me evitando
Mas agora olhando-me nos olhos.
E eu sentia um gelo na espinha,
Sentia meu corpo congelando-se por dentro,
Seu olhar era penetrante, era puro gelo.
Fui tocando-a aos poucos,
E a dança acabou tornando-se um tango.
Até que no último passo,
Enquanto nossas pernas encontravam-se entrelaçadas,
Eu a agarrei pela cintura e enfim a beijei,
A beijei com todo o calor que guardei no olhar,
Com todo o fogo que havia no corpo.
E de repente não havia mais gelo algum,
Eu havia derretido toda neve que ela pôs no lugar,
Derreti até mesmo seu olhar.
E assim minha bela ninfa da neve,
Pode encontrar o calor que precisava,
O calor de um coração.

sábado, 9 de julho de 2011

JOGO DO AMOR

Odeio quando fazemos isto, transformamos sentimentos em jogos, em competições. A relação vira um eterno cabo de guerra onde não há vencedores. Você finge ser alguém que não é, ou faz algo que não sente querer fazer, apenas para esperar reações do próximo, esperando conquistá-lo sendo e fazendo coisas que não são realmente suas. Em vez de sentir, nós pensamos, calculamos cada milímetro do nosso passo para dar espaço pra que o outro dê um também.

Sem nem perceber acabei num desses jogos, desafiei uma campeã sem nem saber. Eu que só sentia, entrei para um jogo onde eu nem sabia as regras, e só havia uma: não há regras. Eu jogava com um simples dado de seis lados, enquanto você vinha com dois dados de vinte lados. Eu pedi pra você pegar leve, eu deveria ser café-com-leite e você deveria ser já uma expert, mas você nem me ouviu, sempre me jogava no “volte para o início”. Seus dados eram magnéticos, você controlava cada passo meu, cada passo seu.

Você deu as cartas, mas pôs um joker na minha mão e deixou um ás na sua manga, você embaralhou tanto o baralho que embaralhou meu cérebro, embaralhou ele em você. Você era o papel quando eu era a pedra, a pedra quando eu era a tesoura, a tesoura quando eu era o papel. No resta um você sempre deixava só um, deixava só você, enquanto eu fazia restarem dois, restavam só nós dois.

Eu cansei enfim desse cabo-de-guerra, queria voltar à não-competição, queria voltar à relação. Mas a corda parecia não querer soltar minha mão, você pensa em tudo não? Usei então os dentes, roí a corda pouco a pouco até ela se partir, jogando os dois competidores para trás, onde não havia chão. Caímos ambos num abismo sem fim.

E tudo o que pude ouvir de você enquanto caía foi "vamos jogar um jogo? Vamos ver quem cai primeiro ou quem escala mais rápido?”

AS MONTANHAS

Eram várias, formavam um visual realmente esplêndido, no topo havia neve, enquanto na base era apenas terra, suas árvores estavam quase todas mortas, as vezes notava-se os uivos dos lobos em algum lugar distante.

Um velho senhor subia à caminhada a montanha mais alta, sua aparência parecia cansada pelo desgastar do tempo, tinhas seus cabelos balançados pela brisa gelada. Seu rigor físico era ótimo, como se ainda fosse jovem, como se ainda estivesse um ano atrás do tempo. Ele carregava sua bengala enquanto subia ao topo, às vezes tropeçava ou escorregava, mas mantinha-se sempre firme.

Ao chegar ao topo ele pode enfim descansar, ficar em paz. Sua respiração era ofegante, seus braços e pernas doíam dos anos de trabalho, sua mente estava confusa e ele precisava limpá-la e seu coração... Bem, vamos dizer que pelo menos o mantinha vivo. Ele sentou em seu trono, que era apenas o tronco de uma árvore que havia caído, e fez-se rei, rei de seu próprio mundo, quem poderia julgá-lo ali? O silêncio era dele, o vento estava a seu favor, e os lobos pareciam ter se calado apenas para escutar o que ele iria declarar.

Ele permaneceu lá por sete dias e sete noites, tentando desfazer os nós embolados de sua mente, tentando encontra uma resposta, uma decisão. Tentava também entender como seu coração batia, tentava entender tudo que passava por ele. Ao fim desse período ele sentia-se ótimo, renovado, mas ele parecia não ter nada a declarar, os lobos já haviam feito um semi-círculo ao seu redor, e os pássaros estavam em silêncio em suas árvores, todos aguardando uma declaração. O rei parecia desapontado, pois em nada havia decidido, mas então algo lhe veio a mente e ele declarou “Decido não fazer nada, deixar tudo como está, e deixar as coisas irem acontecendo, pois afinal, quem disse que não escolher nada também não é uma escolha?”

E com essas palavras os lobos o saudaram com um uivo e os pássaros com um belo canto, e com essa saudação final, o rei pode enfim deixar de ser rei e descer a montanha, pois agora ele voltara a ser anjo.

sábado, 2 de julho de 2011

É TUDO UMA QUESTÃO DE ÓPTICA

Está tudo escuro,
Como será que vim parar aqui?
Estão tão exausto,
Meus olhos estão tão cansados,
Cansados de me ver sofrer,
Cansados de chorar.
Estão tão vermelhos,
Cansado de tanto fazer força
Para que não seja derramada uma lágrima
Meio a essa embriaguez melancólica.
Como vim parar aqui?
Estava tudo sob meu controle
E de repente tudo se perdeu,
Como minhas escolhas deram nisso?
Estou cansado de tudo isso,
Estou quase desistindo e jogando tudo pra cima.
O espelho continuava falando comigo,
Mas eu não podia mais acreditar nele.
Eram mentiras o tempo inteiro,
Ele dizia para eu não apagar o que nele havia escrito,
Mas fazia de tudo para que eu apagasse,
Ou será que era o contrário?
Levantei da cama,
Apaguei as mentiras que meu espelho dizia,
Peguei minha mala,
E enfim saí,
Talvez para nunca mais voltar.

A FLOR DOS MEUS OLHOS

Já posso ver o Sol nascer querida,
Foram longas e contínua noites não?
Mas enfim estou livre,
Você está livre.
E quanto à flor dos meus olhos?
Não se preocupe querida,
Ela não é uma margarida nem uma rosa,
Branca, vermelha ou negra,
Ela continua sendo você,
E prometo que para sempre será,
Eu prometo-meto-eto-to-o,
Até o nosso casamento em 1º de abril de 2019,
Deve ser apenas mais outra brincadeira pesada pra você,
Ou talvez a mais pura das verdades.
Acontece que a flor dos meus olhos está murchando,
Está morrendo,
Era muito veneno para uma flor só,
Para dois olhos apenas,
Que nem podiam te enxergar a todo instante...
Era muito veneno, muito ciúmes,
Muita desconfiança, muita dor...
Ou talvez estejam apenas borrados,
Culpa dos meus “olhos de ressaca”,
Mas tais olhos são seus querida,
“Olhos de cigana oblíqua e dissimulada”.
Eu com minhas flores no olhar,
Você com sua dissimulação,
Mas afinal, és uma cigana,
E eu, um nobre ator de Roma.
Vamos então fazer um brinde?
Desculpe, não percebi que já tinha preparado os copos,
Enfim, à nossa atuação!
Agora entrego a ti a flor dos meus olhos,
Quebrada como você quando veio a mim,
Então por favor cuide dela,
Como jamais cuidou de mim.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

AS ROSAS

Será que ela vai se lembrar?
De uma rosa outrora recebida?
Será que ela ainda vai amar?
O garoto que a deu com as mãos feridas?

A rosa era branca,
“Branca como suas asas, minha anja”
Branca como a paz que ela o passava,
Como a mão que o acariciava.

A rosa nela aos poucos cravava espinhos,
A medida que aquele recém-formado casal fazia seu ninho,
E aquela rosa branca foi tornando-se vermelha como a paixão,
Conforme aquele amor crescia em vão.

Aquilo aos poucos se fortificava, aquela felicidade,
Mesmo ela escondendo dele toda a verdade,
Escondia o quanto os espinhos a estavam machucando,
Escondia o tempo de vida que a morte ia dando.

Mas ele era esperto,
Percebeu que ao tocar o ponto certo,
A dor dos espinhos tornava-se fato,
E assim o sofrimento dela saía do anonimato.

Ele então se empenhou a cuidar dela,
Pôs si mesmo em uma cela, preso à ela,
Foi tirando cada espinho possível,
Achando ser um plano infalível.

Mas parecia que cada esforço era nada,
A cada espinho retirado ela piorava,
E foi aquele último espinho que ele retirou,
Que enfim a matou.

Tolo, mal sabia ele que aquilo que a machucava,
Era o que fazia ela viver,
Mal percebia ele que aquela rosa murchava,
Começando a enegrecer.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

A MAIS DURA CONFISSÃO

Os primeiros raios de Sol adentram meu quarto, invadindo-me o sossego da escuridão, fazendo-me abrir os olhos molhados de lágrimas ainda recentes de uma melancólica insônia, uma noite inteira no árduo trabalho de soluçar, faltar o ar, me debater e encharcar-me em tristezas.

Já me torna insuportável essa situação, essas memórias, que ao contrário das fantasias ciumentas de minha amante, são concretas. São todas coisas passadas, eu sei, e isso em nada altera meu presente, mas o simples fato de lembrá-las e pensar nelas já me promovem muita agonia, muita dor e inquietação. E por mais que eu tente fortemente apagá-las, como a maré insistindo em apagar o coração que fizemos na areia, há sempre alguém insistindo em me lembrar, seja proposital ou não. E diretamente ou não, isso dói...

Sou privado do descanso, do ócio e da reflexão, já não me sobra muito tempo pra isso, sou pressionado pelo capitalismo a conseguir um bom emprego e estudar bastante. Os bem-te-vis do meu telhado já devem estar sentindo minha falta, jamais voltei a visitá-los. Invejo-os, como queria ser livre como meus amigos bem-te-vis, ter asas que ao contrário das minhas, me fizessem voar. Vez ou outra um deles me aparece na janela, tornando a dizer “bem-te-vi amar”, “bem-te-vi chorar”, “bem-te-vi sofrer”, “bem-te-vi machucar”. É... Eu ando machucando muito não? Eu sinto tanto por isso, e sinto muito por pedir desculpas, sem jamais resolver nada.

Acontece que dói demais te ver chorar, sabendo que tem muita culpa minha nisso tudo, ainda mais lembrar o quanto você sorria no passado, sabendo que comigo já não sorri tanto. É querida, parece que os sorrisos não estão voltando às suas faces, acho que meu amor não foi o suficiente pra ter tamanho efeito. Você não imagina o quanto sofro por brigar tanto com você, alguém que amo demais. Deveríamos começar usar os lábios para curar, para pronunciar carinho, para nos amar, ao invés de usá-los como arma, para nos provocarmos, para nos ferirmos, para machucar um ao outro. E o pior de tudo, é saber que dessa vez é tudo culpa minha, toda sua dor é culpa minha.

De nada adiantou mudar nosso nome, se não mudamos o tratamento e a confiança. Mas não se preocupe, irei te virar de costas para não ver o quanto sofro, não precisará mais olhar para mim. Você seguirá em frente, mas não quer dizer que eu também vou me virar, continuarei olhando suas costas como sempre fiz, irei te abraçar e te envolver, te alisar e fazer todo o bem possível pra você. E você talvez me esqueça, pois não mais me verá, não mais me sentirá, não do jeito que costumamos fazer. Você vai sentir meu toque, vai sentir minha mão sem saber que é minha, ouvirá meu choro imaginando ser algum baralho qualquer, irá se molhar em minhas lágrimas achando ser apenas chuva.

Estou cansado de causar dor, não agüentarei o fardo de ter transformado um anjo numa besta. Não agüentarei mais tempo nessa rotina de estudar e chorar, disfarçando minha tristeza, fazendo-lhe pensar ser sono, fadiga ou cansaço, fazendo-lhe pensar que escondo meu rosto no travesseiro por querer dormir, quando só quero chorar.

Eu aceitei você querida, aceitei nosso nome, aceitei e retribuí com amor todos seus “beijos cheios de”, aceitei as cores que você me oferecia quanto tudo estava negro e eu não possuía visão. Aceitei o verde com o vermelho, o azul com o branco. Aceitei todas as suas cores uma a uma e voltei a enxergar, mas a realidade não está boa meu bem, ela machuca tanto quanto minha cegueira e a ausência de cores.

Está na hora de encarar a verdade, de pular do telhado, de quebrar o coração e morrer. Está na hora de não olhar sua face, pois cada vez que a vejo, eu só sinto amá-la, só sinto desejá-la, querê-la, beijá-la. E nada disso pode continuar, pois na ausência do seu rosto, o resto é dor minha, é dor sua. Todo meu amor e desejo por você não foram suficiente, não me fazem feliz, e acima de tudo, eu não te faço feliz. Mesmo que você diga que eu faço, eu não faço por completo, e te fazer parcialmente feliz me faz completamente infeliz.