domingo, 29 de março de 2015

NINHO

Vem, deixa o tempo dizer,
Vem, deixa a onda bater,
Vem, deixa a maré trazer,
Deixa eu bater o tapete,
Deixa eu varrer a sala,
Deixa eu forrar a cama.

Fica, deixa o mundo girar,
Fica, deixa o vento levar,
Fica, deixa a folha cair,
Deixa eu soprar a poeira,
Deixa eu fazer um café,
Deixa eu bater a cinzas.

Vem, apaga as velas e faz um pedido,
Que o meu já ta aqui.
Fica, deixa as cortinas abertas
Que é pro mundo ouvir.
Deixa eu te amar
Sem medo de sumir.

quarta-feira, 25 de março de 2015

NOITE DE INSÔNIA

A madrugada vem,
Chega e traz consigo a insônia,
Minha velha companheira.
A madrugada vem,
Tirando suavemente a sobriedade
E dando-me aquela leve ebriedade sem álcool,
Fazendo-me desejar o álcool ou a droga
Que me tire a sobriedade de vez
E me de uma noite aconchegante de sono.
A madrugada vem,
Espalha as estrelas na mesa
E as pincela com a noite,
Para depois cobrir com a leve claridade do nascer do Sol,
Parecendo um quadro abstrato-progressivo.
A madrugada vem,
E traz consigo pensamentos ruins,
Coisas que eu não deveria sentir ou pensar,
Coisas que não consigo dizer
Se são realmente minhas ou da madrugada.
A madrugada vem,
A insônia fica,
O sono vai.
A madrugada parte,
E parte uma parte de mim consigo,
Levando um pedaço ao raiar do dia.
Quantas madrugadas mais serão necessárias
Até que ela complete meu quebra-cabeças?

terça-feira, 24 de março de 2015

THE HALF ONE FOR ME

To all the heaven I scream,
God, did you have to be so mean?
To put an angel in my sight,
Shining so bright
That I can't see.
Is she the one for me?

And even in this hour, so dark,
Her memory is like a mark.
Driving me crazy at each moment,
Thinking about this nonsense
That many called love.
Am I really above?

I'm not, I know,
I'm far below,
Below from this gently shine
That I dream to make it mine.
With her fragile hands and beautiful face
Making me die to prove her taste.

Like heaven she must taste
But not to prove her is hell,
So tell me, God, about your hate
That makes me die in this fire shell.
Tell me, God, could it be?
Is she the one for me?

terça-feira, 17 de março de 2015

SOBRE O MUNDO DOMESTICADO E O MUNDO SELVAGEM

   O animal estava faminto. Em seu caminho de volta à toca e aos filhotes, ele fareja... Comida... Cheiros diversos, comidas diversas. Até que ele encontra um cheiro que o agrade. Ele entra no local. Ele é um animal domesticado, civilizado, ele não está acostumado com a caça. No mundo dele tudo se consegue através da troca com donos. Compras e vendas não são nada além de trocas, o que importa é o valor que você dá ao papel. Quantos papéis vale o seu orgulho?

   O animal se senta e espera, olha para os cantos, para as pessoas conversando, olha todo o movimento com cautela e desconfiança. Até que vem até ele um prato de comida, ele o come com voracidade até se saciar. O garçom vai até ele com a conta, o bicho homem paga e deixa o recinto. Quantos papéis vale a sua fome?

   Ainda à caminho de sua toca, o homem besta se depara com fêmeas, as observa, as admira, admira o cheiro do perfume delas. O animal sabe que sua mulher está em casa, mas é instinto, é a lei da vida. O homem deve procurar mais fêmeas para procriar. Toda aquela conversa de sobrevivência da espécie, apenas para o homem se ver caído sobre a cama de uma prostituta. No mundo domesticado até para se conseguir sexo você deve trocar por algo. A lei do macho alfa não vigora aqui. Quantos papéis vale a sua consciência?

   O animal chega em sua toca e dorme. Amanhã é outro dia, e os animais civilizados trabalham duro. É tudo sobre a troca, trabalho por papel, papel pelas necessidades. E assim o bicho homem leva a sua vida, miseravelmente atrás de papéis pra conseguir o que se conseguiria de graça no mundo selvagem. No mundo selvagem é trabalho por necessidade, no mundo civilizado existe um terceiro termo no meio, mas no mundo selvagem o quanto você trabalha é diretamente proporcional ao quanto você ganha e à sua necessidade. Mas mesmo assim o animal doméstico olha com superioridade para o animal selvagem e gasta sua vida ganhando papéis que valem menos do que o seu esforço. Quantos papéis você vale? Quantos papéis vale a sua vida?

segunda-feira, 16 de março de 2015

THE BALLAD OF OUR WORLD

My love, my life, my daughter
Look at this slaughter
And run from it.

The pit and all the bodies
They're all nobodies
For all the kings.

The means, they said, is wrong,
But for the ends they've done
All of this.

His hearts are not right
And you shall might
Run from them.

And when you feel alone,
Remember, none
Will stand at their feet.

The sheets, covered in blood.
This is our world
And you must run from it.

domingo, 8 de março de 2015

A CORTINA

Há em meu quarto de dormir uma cortina,
Na verdade não passa de uma cortina improvisada:
Um lençol, uns pregadores, nada demais.
Eu, como o homem humilde que sou,
Não rogo por luxúrias desnecessárias,
Mas admito que a desejo, a cortina.
Não digo os meus farrapos improvisados,
Mas uma cortina de verdade,
Uma que me cubra e me esconda melhor,
Uma que dificulte mais a entrada de luz.
Vejam bem, eu odeio a luz,
Sou uma criatura da noite
Eternamente trancafiada em meu interior,
Eu sou o meu quarto e meu quarto sou eu.
Por isso que a cortina fica sempre fechada,
Eu não quero que o mundo me veja
E nem quero ver o mundo,
Que cheira pior que o odor de cigarro em meu quarto.
Mas maldito seja o acaso
Por me por numa situação em que tive de trocar a cortina.
E um por um tive de retirar os pregadores,
Primeiramente os de baixo
Para a cortina permanecer de pé,
Depois fui tirando os de cima
E fazendo o possível para me esconder
Atrás do que restava da cortina ainda presa
Até a cortina cair.
E por alguns segundo ela lá ficou
Até que eu a trocasse.
E durante esses míseros segundos
Eu me mostrei, fiz parte do mundo,
Eu fui o palco e o palanque,
Fui dono do mundo e servo dele,
Exibido para ele como um qualquer
Seguindo a simples rotina de trocar cortinas.
Por alguns segundos eu fui o mundo,
Mas o mundo não me foi de volta...
Reergo a cortina e reponho os pregadores,
"Eu escapei ileso do mundo",
É o que eu poderia ter dito uns anos atrás,
Hoje, eu já não digo mais.

segunda-feira, 2 de março de 2015

PORTO SUBMARINO

De que adianta teu casco em minhas águas?
Se as mágoas tragadas pela minha correnteza
Ainda jazem, dolorosas, no fundo da certeza?

Se ao veres as rosas no oceano
Não me tomas conhecimento,
Se não sabes quanto a amo.

Que de tanto ouvires a calmaria do mar,
Meu silencioso lamento em forma de serenata,
Te tornas mais amena em sua nata de viajar.

Serena, te tenho acima de todos os outros,
Mas sofro por não tê-la por inteiro,
Por ter de aguentar vê-la atracar em outro e outro porto.

Tive de suportar todos os barcos que por mim navegaram
E se juntaram aos boatos sobre um cemitério no fundo do meu ser,
Mas em nenhum hemisfério houve algum como você.

Te tenho a todo momento e instante,
Mas teu constante toque suave em minhas ondas
É o castigo incessante que sempre me sonda.

Até o lancinante dia em que eu já não mais consiga suportar,
E contarão em terra que viram o SS Anne naufragar,
Tragado pelo mais violento e desesperado beijo do oceano,

Destinado pelo tempo a passar,
No fundo do mar, o resto de seus anos
Curando os danos do oceano por tanto esperar.