quarta-feira, 30 de setembro de 2015

A MAR(É)

   O mar é algo belo e misterioso. Ao mesmo tempo que pode ser calmo e sereno, pode ser mortífero e bravio. O mar não tem culpa do que arrasta, seu movimento é único e constante. Chame inércia ou conformismo, mas o que entrar na maré, o que a onda puder agarrar, o oceano aceita. Se contenta com o lixo, a poluição e os dejetos. O mar não escolhe, o mar apenas deseja. Mas as ondas não vão além daquele ritmo calmo e constante, e o seu alcance é baixo. E, se por alguma ironia do destino, o mar resolve ir além e trocar lixo por ouro, o chamam desastre e calamidade. Mas isso apenas prova que quando o mar realmente quebra a rotina, quando ele realmente abandona a inércia e a serenidade, ele vai atrás do que quer com garra e vontade, como que guiado pelo tridente de Poseidon. O mar não é a destruição do impacto, mas a suavidade do movimento, o mar é amor. E todos os turistas, os banhistas de beira-mar, todos aqueles que tomam banho de Sol mas julgam conhecer o mar, o tomam por isso, por esse conhecimento raso e pífio. Mas o mar não é orla, o mar é o fundo, o oceano inteiro. E só quem tem coragem de pôr um traje de mergulho e mergulhar sem oxigênio pode dizer que conhece o mar. Só quem tem coragem de abrir os olhos debaixo d'água pode ver a beleza que é, de verdade, o mar. Só quem aguenta o sal pode ver os peixes, as cores, toda a diversidade de vida e voltar pra falar que conheceu o mar. Mas o mundo se contenta com o conhecimento raso, a orla e a maré constante. O mundo se contenta com peixinhos, tendo tubarões, baleias e peixes-pescadores para conhecer. Há muito mar para pouca gente que quer mergulhar de verdade. Há mar para os poucos que querem mergulhar. Amar é para os poucos que querem mergulhar.

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

CALMARIA

Gosto de mar sereno,
Que balança ao vento como rede,
Que dança e nina o meu ser
E faz o descontentamento, ameno.

Gosto da brisa suave,
Da falta de entraves da vida
E do sal que cura a ferida
Sob o piar das aves.

Sou mais maré calma,
Sou mais mar que é calmo,
Somar quem é calmo
À calmaria da minh'alma.

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

MULHER

Mulher de todo jeito,
Mulher de qualquer forma,
Mulher é pra se carregar no seu peito,
Não há mulher pra se jogar fora.

Mulher que cuida da dispensa,
Que cuida das crianças.
Mulher que sustenta
Enquanto o marido descansa.

Mulher que não nasceu mulher.
Mulher com atitude, independente,
Mulher que faz o que quer
Sem precisar esperar vir da gente.

Mulher com peito grande,
Mulher com peito pequeno,
Mulheres são para todo instante,
Para qualquer homem que, por elas, seja atento.

Mulher tímida ou desinibida,
Mulher ao natural ou que se arrume,
Mulher que goste de bebida
Ou até mesmo que fume.

Mulher pra quem tiver amor pra dar
E anel pra dividir.
Até mesmo àquelas que não querem casar,
Que só preferem se divertir.

Mulher do cabelo enrolado,
Mulher do cabelo liso,
Preto, loiro, ruivo ou pintado,
Mulher pra qualquer sorriso.

Mulher gordinha ou magrela,
Mulher com corpo de violão,
Não importa a forma ou o número dela
Quando o que pesa é o coração.

Mulher com cor de café,
Mulher com cor de leite,
Não importa qual cor que é,
Qualquer mulher é um deleite.

Mulher para uma mulher,
Mulher para um homem,
Mulher para quem ela quiser,
Para quem a faça se sentir mulher.

Mulher para ser mulher do jeito que ela quiser,
Você pode negar até a morte
Ou mudar com a maré,
Mas sua vida de nada seria, nada valeria,
Se não fosse por uma mulher.

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

RATOEIRAS

Nas ruas os homens estão correndo como ratos.
De quê ratoeira estamos correndo?
Para qual ratoeira estamos correndo?
Cadê o sagrado queijo de amanhã?
E todos os donos de corporações,
Todos os chefões e superiores de mesa de escrivaninha
Estão sentados como gatos entediados,
Com suas caudas abanando,
Derrubando funcionários da mesa com suas patas.
Para qual ratoeira estamos correndo?
De quê ratoeira estamos correndo?
Subjugados entre os canos
Da moradia de um ser humano qualquer.
"Querido, está ouvindo esse barulho nas paredes?
Acho que temos ratos!"
Acho que temos ratos, cavalheiros,
Acho que somos ratos.
Mas de que ratoeira estamos correndo?
Para qual ratoeira estamos correndo?
E nós, com nossos focinhos e bigodes tremendo,
Tentamos apalpar e reconhecer nosso ambiente,
Mas o mundo é muito rápido para essas calmarias e reflexões
E os gatos espreitam a toda esquina
Com suas garras e seu tédio infinito
Querendo usar nossas vidas
Como entretenimento.
"Querido, está ouvindo esse barulho?
Acho que somos ratos.
Mas de que ratoeira estamos correndo?
Para qual ratoeira estamos correndo?"

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

ALGUÉM

Alguém, que
Do fundo de um salão mal iluminado
Recite-me Shakespeare.
Alguém, que
Do alto de uma montanha nebulosa
Cante uma bela serenata em falsete.
Alguém, que
Com apenas um cadeado,
Se tranque à tantas chaves quanto uma virgem insegura.
Alguém, que
De um gramado frio e deserto,
Aponte-me as constelações de um céu noturno.
Alguém, que
Saiba me embriagar
Como o mais rude dos taberneiros.
Alguém, que
Ao fechar os olhos em sono,
Evoque a paz celestial dos anjos.
Alguém, que
Saiba adoçar meu café matinal
Com o mais doce e sincero sorriso.
Há tantos alguéns aí fora
Para um ninguém como eu.