quinta-feira, 30 de outubro de 2014

POESIA A DOIS

Vim a conhecer o amor de verdade,
E este, arde até queimar a inspiração.
Já não sei amar com tinta,
Já não sei amar com versos.
Só sei amar com beijos,
Só sei amar com sexo.
E eu o deixo me queimar,
Pois acima da dor da poesia em chamas,
Amo nossos corpos a nos amar.
E a cada suspiro de saudade,
Uma rima é expirada.
A cada abraço de reencontro,
Uma metáfora sufocada.
E a cada sorriso,
Uma estrofe chora.
Já não vejo a hora de me ajoelhar
E dar à ela um anel,
Oferecendo tudo que há em mim
De caneta e papel.
Então nós seremos a poesia,
Seremos a rima mais bela
Que um dia sonhei em escrever.
E à ela vou dever a tinta
Que a cada dia
Escreverá nossas lindas estrofes.
E cada filho será um pingo,
Perfeito e lindo,
De tinta no papel.
Que crescerá nesse carrossel
De repletas rimas
Até tornar-se outra poesia,
Incompleta, mal construída,
Ferida por riscos profundos,
Buscando uma rima tão refinada,
Tão perfeita e embelezada,
Quanto a que o colocou  nesse mundo.

terça-feira, 21 de outubro de 2014

PRA VOCÊ

    Nada ao meu alcance parece o suficiente, sem você sou um completo vazio. E às vezes tento me livrar dele te imaginando aqui, uma conversa boba, um abraço, o seu sorriso meigo... Às vezes até me pego falando sozinho "ei, eu tô com saudades...", então levanto os olhos e me entristeço ao perceber que você não está aqui pra ouvir. Às vezes eu peço um beijo antes de dormir e o único estalo que escuto vem dos galhos lá fora. Às vezes, numa tentativa desesperada, abraço o travesseiro quando penso em você e vejo que ele não tem o seu calor, ele não me abraça de volta... Então eu percebo que tenho que parar de pensar na ausência e imaginar o reencontro. Imagino os beijos, os abraços, as brigas bestas, as noites de amor, a sua voz... Ah, a sua voz, a mais linda que já ouvi... Gosto de te imaginar no aeroporto me esperando, eu jogaria minhas malas no chão e correria até você... Ia te apertar tão forte e te beijar tão apaixonadamente que todos parariam para aplaudir. Às vezes, durante minhas sessões de imaginações e pensamentos sobre você eu me pego pensando... Será que você pensa em mim tanto quanto eu em você? Será que sou só eu quem ocupo diariamente a minha mente com saudades, imaginações bobas e melancolia? Às vezes evito pensar nisso, mas nunca evito pensar em você, mesmo que seja para sentir falta, para doer, para falar sozinho e ser ignorado pela distância... Porque o quanto eu te amo compensa tudo isso, apenas a imaginação da sua voz já é a melhor coisa que eu poderia ouvir no meu dia. E eu sei que quando nos vermos, você vai secar todas as lágrimas de saudade que guardei para chorar de alegria ao seu lado.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

SEIO

Longe dos teus seios
Não há meios de ser feliz,
Não há inteiros e não há parcelas,
A infelicidade é uma densa esfera
Quando longe desse chamariz.

Não sei o que há em teu seio
Que tanto anseio para tê-lo,
Que me faz assim tão cheio para amá-la,
Que apenas ao vê-lo,
Felicito-me como se estivesse a beijá-la.

Tamanho me é o deleite desse teu seio
Como o será para nosso filho
O leite que dele provém.
E nem as distâncias mais ferrenhas
Vão impedir as ânsias que me convém.

Mas o que sei é que
Em teu seio repouso tranquilo,
Próximo ao teu mamilo
Meus sonhos brotam infinitos, infundados,
Sonhados por quem sonha viver ao teu lado.

O que sei é que em teu seio me aqueço,
Esqueço o cobertor
E me entrego ao calor do teu ser,
Pois em teu seio há o conforto
Que um dia este amante morto
Sonhou em ter.

sábado, 4 de outubro de 2014

(RE)TRATO

Calado eu me faço enquanto olho o retrato naquele seu quarto.
Retrato, memórias antigas, vividas naquele espaço.
Espaço esquecido, antigo amigo perdido no tempo
Que agora é passado, ficou com o retrato.

Retrato é um trapo, tal é guardanapo na mesa de bar.
No bar eu sozinho, sozinho no ninho vazio à cantar.
Cantar um retrato que nada retrata
Senão o espaço perdido no tempo que não vai voltar.

Retrato o maltrato,
Não era o trato você fugir.
Maltrato o retrato,
De fato a foto continha você a sorrir.

O retrato no ninho, o ninho vazio onde voou o pássaro.
O pássaro voa, a solidão ecoa junto com o meu passo.
Meu passo é escasso, escasso é nós dois
Nesse espaço que já não cabe nesse retrato.

Pássaro quando voa, voa até achar um lugar pra pousar,
Pousou porque voou, voou porque o ninho está a desmoronar,
E até mesmo os pássaros quando voam deixam para trás
Uma pena no mesmo lugar.

Re-trato o maltrato,
Não era o trato você fugir.
Maltrato o retrato,
De fato a foto continha você a sorrir.