sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

UM CONTO DE SEXTA

Eram sete da noite,
Meu quarto se encontrava denso
Da neblina do meu cigarro de maconha.
Era sexta-feira e eu não tinha nada melhor pra fazer,
Nenhuma grande expectativa
Além de me embriagar em casa
Com cervejas, cigarros e maconha.
Mas então meu celular toca,
Eu não conhecia o número
E estava chapado,
Mas por algum motivo, atendi.
Era uma voz feminina levemente reconhecida,
Que ao se apresentar, recordou-me...
Os seios fartos, os longos cabelos roxos,
Caídos até quase a bunda...
Acho que havia quase um ano e meio que não nos falávamos,
Meu interesse era mais sexual e ela não o correspondia,
Então me afastei e a esqueci.
Até que ela me liga depois de todo esse tempo
Perguntando se podia dar uma passada.
Era sexta-feira e não tínhamos nada melhor pra fazer.
Eu tinha a cerveja e a erva,
Ela tinha a vodka e o pó,
Eu tinha o pau,
Ela, a buceta.
Ela chegou por volta das nove,
Seus cabelos já não eram tão longos e agora azuis.
Conversamos, bebemos, cheiramos, fumamos,
E as ordens se perderam ao longo da noite
Conforme nos preparávamos para a atração principal.
- Afinal, o que aconteceu com você? Você sumiu!
Disse ela, sorrindo um sorriso bêbado e meio cambaleando
Enquanto estávamos sentados na minha sala.
Eu não poderia responder, quebraria todo o teatro,
Então beijei-a, desesperadamente,
Com força, como um animal esfomeado
Depois de uma carreira de coca.
Ela respondeu travando suas unhas nas minhas costas.
A deitei ali mesmo, no chão da sala
E tiramos nossas roupas,
Ficando apenas de roupas íntimas.
Fomos nos levantando enquanto nos beijávamos,
Joguei-a na parede, beijei-a mais, tirei seu sutiã
E desci minha mão esquerda para a sua calcinha
Enquanto minha boca descia para os seus seios.
Demorei um pouco ali até que ela levou-me para o quarto
E me jogou na cama, e lá fiquei,
Sentado, enquanto ela tirava minha cueca
E cobria meu pênis com seus cabelos azuis.
Eu os via subir e descer,
Imaginando-os roxos novamente,
Misturando-se ao meu roxo até fazer-me gozar.
Então puxei-a para mim,
Deitei-me sobre ela
E incorporamos os animais que nascemos para ser,
Esfomeados, Insaciáveis, Embriagados.
Nos degladiamos na cama,
Mudávamos as posições,
Ela dominava, eu dominava,
E as ordens e posições se perderam ao longo da noite
Até que ela gritou seu orgasmo final
E eu gozei novamente.
Caí ao seu lado, ofegante,
Imaginando quantos vizinhos teríamos acordado.
Era sexta-feira e não tínhamos nada melhor pra fazer.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

VERSOS DE PAISAGEM

Passarinho à beira mar
O mar beira o passarinho
O mar beija o passarinho.

Passarinho a voar
O céu voa o passarinho
O vôo vela o ninho.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

OLHOS NOS OLHOS

Olhos nos olhos,
O desejo comprimido,
A vontade expressa.
Nariz no nariz,
A sedução preliminar,
O beijo eminente.
Lábios nos lábios,
O gosto almejado,
O doce néctar da língua.
Corpo no corpo,
A dança dos orgasmos,
O gozo gratificante.

Olhos nos olhos,
A mágoa contida,
A dor visível na íris.
Nariz no nariz,
O medo preliminar,
A dor visível no perfume.
Lábios nos lábios,
O gosto amargo,
A dor da mordida seca.
Corpo no corpo,
Os mesmos velhos movimentos,
O ódio contido,
A dor do gozo pífio,
A cama vazia.

Olhos nos olhos,
Qual vai chorar primeiro?

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

A ROSA E A SEMENTE

Dar-te-ei a rosa,
Para que a vejas bela,
Para que ponhas em um pote,
Para que veja murchar e morrer.
Como os amores afora,
Como os amantes de mentirinha,
Como todos aqueles que não se comparam à gente.
Então vou te dar sementes,
Para que plante elas,
Para que as veja crescer e florescer,
Ver-la-á durar.
Assim como os amores adentro,
Assim como os amantes sinceros e eternos,
Assim como eu e você.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

ISLA NEGRA

O quanto do teu sal não são versos de Neruda?
O quanto de inspiração tuas ondas já não carregaram?
Quantos sorrisos tu já não criastes?
Quantos amantes já não recitaram para suas amadas,
Graças às rimas que tuas águas contém?

Não cheguei a molhar meus pés em tuas rimas,
Não cheguei a me afogar em teus sonetos,
Não cheguei a ser tragado pela tua nobre correnteza.
Tudo o que fiz foi, de longe,
Inspirar o teu sal contido nas poesias de Neruda.

Mas, para ti, Isla Negra,
Deixo minhas frustrações
E a promessa de que um dia
Banhar-me-ei em teu mar de poesia,
Um dia sentirei teus ventos a virar minhas páginas.