quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

ENTRA PRA FICAR

Entra, vem tomar um chá comigo.
Entra, deixa eu ser seu abrigo.
Entra, não peço nem educação,
Pode gritar teu palavrão,
Amaldiçoar a ocasião,
Jogar tuas roupas no chão.

Mas só prometa que não vai partir daqui...
Mas só prometa que não vai fugir de mim...
Mas eu quero a tua opinião sincera
Sobre aquilo que um dia fez você ir...

Diz, pra que tanto tempo debaixo de chuva?
Diz, se isso é mesmo uma ruga?
Diz, é mesmo preciso essa dor?
Levar embora meu calor?
Me bate à porta o meu amor,
E eu digo entra, por favor.


Mas só prometa que não vai partir daqui...
Mas só prometa que não vai fugir de mim...
Mas eu quero a tua opinião sincera
Sobre aquilo que um dia fez você ir...


Fica, deixa eu secar tuas roupas molhadas.
Fica, que essa guerra já ta acabada.
Fica, deixa eu tentar te convencer,
Em uma noite prazer,
Só assim vai entender,
Que eu também amo você.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

NÃO SE JOGA O QUE NÃO É UM JOGO

Sou teu único espectador,
Por detrás das cortinas assisto tua peça
Enquanto atuas com tanto fervor
Esperando que nada te impeça.

Não te assisto por prazer,
Assisto apenas por querer ver,
Ver o momento em que perderás tuas peças
E chutarás o tabuleiro com ar de derrota.

Ver também o momento em que saíras batendo a porta,
Que apostarás todas as fichas
Mas será vista tua má atuação,
Sairás de mãos vazias então.

Quero assistir tuas decepções nesse jogo proibido,
Esperando que este seja teu castigo,
Porque depois de avisos, tantos,
Só aprenderás depois de tudo ter perdido.

E quando estiver caída no chão,
Sozinha e aos prantos,
Será quando talvez se permita aprender a lição,
Então, como amigo, estenderei-lhe a mão

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

O VELHO ROBERTO

Pôs seus chinelos, espreguiçou-se, limpou bem os olhos com as mãos e pôs seus óculos. Andou com seus passos fracos e decididos e saiu para a varanda. Sentou na sua velha cadeira de balanço, olhou para o quintal e para o seu pé de manga, observou um pouco as nuvens, e então pegou seu cachimbo já pronto na mesinha ao lado. Acendeu uma vez, soltou, acendeu novamente e desta vez soltou em forma de anéis. Ficou a observar os anéis perfeitos a voar e tremeluzir à sua volta até se desfazerem. "Décadas de prática", pensou. E então tentou pôr seu dedo fraco e trêmulo do meio de um dos anéis, "como se fosse uma aliança", pensou. E ele realmente poderia se casar com aquilo, com aquela fumaça, aquelas noites de memórias fragmentadas, as bebidas, as festas, as prostitutas... Ele poderia ter se casado com aquilo que passou anos se relacionando, mas não o fez. E naquele momento ele não soube dizer o porquê. Acabou por se lembrar do medo que tinha naquela época de ter a idade que tem agora. Olhou para o próprio corpo e passou as mãos uma na outra, sentindo-as. "Os restos do que fui um dia", pensou. Então que ele ouve uma voz que o chama dizendo que o café está pronto. Era sua mulher, a mulher que havia se casado ao invés daquele anel de fumaça. E de repente lembrou-se de tudo que havia esquecido. Ouviu a mulher chegar ao seu lado e então sorriu, beijou-lhe os lábios e foi para a mesa. "E eu ainda fui tolo de temer isso", pensou com um sorriso na face.