O vento levou da praia minha
Os grãos de areia fina,
Belos e cintilantes
Como pequenos diamantes.
E agora, o engolir da onda
Me assombra com o vidro que arrasta,
Deixando no rastro do meu mar
Um gosto de adrenalina a me cortar.
Que desatina e sufoca
Como uma camada de petróleo.
Que, privada pelo óleo,
Resultou na praia morta.
O vento não sabia que em mar calmo
Se decanta aço,
Não se afunda barco,
Não faz do vidro, estilhaço.
Minhas ondas são serenas,
Amenas, repudiam tsunamis e maremotos.
Os destroços que jazem no meu oceano
São dos anos engolindo vidros mortos.
Não sou maré que arrasta ou afoga,
Sou a água que esculpe a rocha,
Que, junto ao vento,
Desbrutaliza e refina através do tempo.
Mas já não há rocha para tornar-se grão
E nem diamantes para lapidar.
O chão que antes havia,
Tornou-se vidro a me rasgar.
Tudo que minha maré,
A partir de hoje,
Sem fé irá levar,
Será o vidro que matar-me-á.