quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

AS TELAS DE SIR RICHARDS II

Ah, que maldade
O tamanho alarde
De uma dama
Por seu anel de diamante.
Infame por frequentar
Tantas camas além da do marido teu.

"Este belo anel de brilhante,
Quem vos deu?"
"Foi o simpático marido meu."
Apático ficaria se soubesse quem te comeu,
O delegado, o embargador
E até o doutor
Que a observa distante
Obstante à outro observar,
Um com mais pudor, mais cautela
O observar de uma fria fera,
De quem planeja
E não pestaneja ao começar a valsa,
Chamando logo a dama para dançar.
A embalsa pela cintura
E dança, dança, dança sem parar.

"O marido teu, aonde está?"
"Viajando à trabalho,
Nem tão cedo irá voltar."
"Então escute o que tenho a te falar,
Me empenho em manter a imagem
E isso, vossa senhoria não poderia contestar,
Estaria disposta a manter nossa pública miragem?
Espero a música cessar
E então irei me retirar.
À badalada seguinte do sino,
À amurada do cassino
Em frente à rua estarei a te esperar.
Meu cocheiro guarda o segredo,
Não precisa se preocupar."

O enredo seguiu como planejado
E logo logo estavam lado a lado
Rumo à mansão para transar.
Ao chegar, a dama retirou
O anel de casamento,
O que o fez achar o momento inspirador.
Tanto que assim que acabou o instante abrasador,
Tratou logo de pegar o cavalete
E arrumar as tintas com louvor.
"O que estás a fazer?"
"Não vê? Irei eternizá-la."
E assim que o disse,
A assassinara com um bisturi na jugular.

Logo começou seu esporte,
Pôs o sangue em um pote
E arrancou-lhe o anular,
Depois começou a pintar
Como seus olhos se lembravam
Ao estar freneticamente por cima dela.
Então, pintou meticulosamente
Cada detalhe da garota que assassinara,
Cada pincelada dada continha tamanha experiência e habilidade
Cada pincelada ensanguentada e apaixonada era a mais pura arte.

Tarde era quando terminou a primeira parte,
O fino rosto contorcido em um gemido
Havia sido a memória que guardara da dama,
Com uma das mãos a segurar a cama.
E se vissem a tela até aí
Até achariam bela e normal,
Mas eis que ele pinta a cabeceira
E nela, prega o dedo fatal.
Com o anel nele e sangue às estribeiras.

E com esse final cheio de amargura,
Olhou sua amada com ternura
E disse-lhe "eternizada querida, eternizada,
Há eternidade maior do que a sua vida em minha tela pintada?"

Na manhã seguinte já olhava a tela
Na parede pendurada,
A admirou por alguns minutos e sorriu,
Não só para ela, mas para as outras vinte telas
Cujo sangue em seu pincel fluiu.