segunda-feira, 29 de junho de 2015

SOBRE A POLIDEZ HUMANA

Pedra bruta, pedra lascada,
Pedra fundida, pedra polida,
Gente mascarada, personalidade escondida.
E de nossa selvageria
Restam só os dentes serrados,
Os dentes poidos,
Os caninos amarelados, inutilizados,
Roídos por si mesmos,
Por nós mesmos,
Pela sociedade de lixas e serras
Que dão brilho e depois consomem,
Que transformam feras em homens.
E de nossa cauda cortada
E caída no chão,
Fica apenas o toco, a marca,
A tentativa em vão
De cobri-la com roupas íntimas,
Com roupas de marca,
Fazendo-nos vítimas da grife e da prata.
Mas toda essa polidez do homem
De nada vale contra a avidez da fome,
Contra o instinto nato,
Contra o fato de que continuamos animais.
Pois por mais que se espelhe e abrilhante uma pedra,
Por debaixo de todo o brilho reluzente
Ainda jaz a fera demente,
Se rasgando e se comendo.
Que por estar presa nessa gaiola espelhada,
Vive se agonizando em eterno tormento.
Afinal, toda pedra ainda é bruta por dentro.

segunda-feira, 22 de junho de 2015

NUCLEAR

You're the flame
You're the Sun.
Bright and warm,
Calling me to love you,
Licking me with that fire tongue.

And I'm almost hypnotized
With that flaming dance,
With the sweet sound of the fire's crackling.
I'm almost touching the flame,
I'm almost burning myself to the ground.

But you're nuclear,
You're a raging bomb
Waiting to explode,
Waiting to turn me into ashes,
To turn me into dust.

You're radioactive,
You can turn me into a monster,
You can turn me into someone like you,
Someone who could kill for fun.
Who could lie and deceive.

And me, darling,
I'm from the anti-bomb squad,
Asking to explode.
I'm the suicide bomber
Waiting to be forgotten.

I'm your target,
And I'm not running from you.

domingo, 7 de junho de 2015

COVA

Vivo. E, com minhas mãos em concha, abro um buraco.
Com meus pés de pá cavo uma cova enquanto ando.
Cada vez mais fundo no vazio do nada,
Cada vez mais raso no outro lado da vida.

Cavo tão fundo que posso gritar e ninguém me escuta,
Posso socar o solo e regá-lo com meu sangue que nada nascerá,
Posso até regá-lo com minhas lágrimas que o solo não salga mais.
Estou no fundo, num espaço vazio e esquecido.

Enquanto isso o mundo gira e a vida continua.
E eu vejo isso tão distante, tão distante.
Os sons, as pessoas, o mundo...
Tudo passa como um zumbido longínquo, um sussurro.

O mundo sussurra, a vida sussurra,
E isso não é o suficiente para me acordar.
Não quero esse sonho calmo e distante,
Quero a realidade, quero a superfície.

Estou no fundo de um oceano onde tudo é lento,
Tudo é distante, calmo e sereno,
Tudo é negro, frio e vazio.
EU sou frio e vazio.

Cavo cada vez mais, mas a culpa não é minha,
Os meus pés são pás, minhas mãos são britadeiras,
E não há nenhum guindaste que me puxe desse buraco, desse vazio.
Pois eu sou o buraco, eu sou o vazio.