segunda-feira, 11 de setembro de 2017

DE VOLTA À CASA

Sozinho na rua, distraído a caminhar,
A noite a cair, sonhos a perambular.
Então que paro e me encho de medo.
Que ser é esse que em minha frente vejo?
Parado, fora de si como um ser débil,
Cabelos emaranhados, tamanho médio.
Costas arqueadas e um olhar fora de si,
Penetrante, mas como se olhasse depois de mim.
Boce entreaberta, fera desalmada,
Pela vida ficara perdida ou abandonada?
Por que de forma tão bufante respiras?
Vais me atacar ou é medo que inspiras?
Por que apenas paras? Te prostras em minha frente?
Queres me impedir ou nada tens em mente?
És doente? És fraco? Ignorante?
Me roubarás e matarás pela fome gritante?
Mas fome de quê?
De comida, droga, sentido ou saber?
Então paro e eis que me some o medo,
Pois depois de tanto olhá-lo que percebo...
Rio, mas depois paro e entristeço,
Pois é um espelho que em minha frente vejo.

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

ASSOMBRO

Vejo em todas as faces a tua,
Sinto em todos os abraços tua ausência,
Lembro-me de minha penitência
Em todas as fases da Lua.

A saudade se torna demência,
E eu, um espectro anil
Que desbota, senil
À tua ausência.

Como um pesadelo infantil
Me assombra o teu corpo,
Mas prefiro-me morto
Do que acordado deste sonho pueril.

Pois no sonho há o toque, o conforto.
Olho embaixo da cama e pelo monstro espero
Mas o vazio me marca como ferro
Enquanto fico na solidão absorto.

Não durmo, me reviro e contenho o berro,
Sofro uma maldição de Morfeu:
Meu travesseiro é a inquisição em seu apogeu
E minha cama, uma armadilha de ferro.

Tua ausência é um castigo de Prometeu,
É minha eterna sina,
É a guilhotina
Para qual minh'alma cedeu.

Do meu sangue escorrido, colhem-se vinhas.
Nenhuma outra pessoa será tão tua,
Nenhuma outra alma será tão nua
Quanto esta que se adoça a tua vinda.

Mas arranha-me a realidade crua,
Teu sorriso arranca de mim a sentença:
"Vais sofrer pelos dias com a desavença
De querê-la inteira, mas nunca tê-la inteiramente tua,
Serás esta tua eterna amargura."

quinta-feira, 22 de junho de 2017

BROKEN MAN

I'm a broken man
Full of broken dreams
And despair.
I don't feel any shame
Of what I became.
I have no guilty to take
Of any of my greedy mistakes
I'm not sorry for what I did
I'm the demon that I feed.
I'm a broken man
Full of broken dreams
And despair.
No mirror will reflect
The past that broke my back.
No footprint to be seen
In this dark smokescreen.
No drop of tear
In this massive and dense fear.
I'm a broken man
Full of broken dreams
And despair.
I'm full of anger,
Full of sorrow,
Choked with the hopes
I've swallowed.
I embraced my dark side
Until there was no side,
But the whole,
Until there was no bright,
But the hole.
And all my shards will be melt
Together with the feelings I once felt.
And all my shards will be melt
Together with the feelings I once felt.

terça-feira, 16 de maio de 2017

BETTER ME

I always had this obsession
In becoming the better me.
I always thought I had to be better,
To be kinder, to be greater.
So I started chasing the better me,
But life always tried to bring me down,
To turn me into the worst me
With her lies and punches.
But I kept fighting,
I thought I was turning the life's hits
Into the steps to the better me,
But in the end of the stairway
I found life again,
Sucking the worst in me
With her leech's fangs
And her claws embracing me
Like a feral hug.
And then she pushed me back,
And I fell, step by step,
Punch by punch
Into the worst me,
The broken me.
And now is so hard to get back again,
My black and putrid mucus
Is dropping and making me slip over it,
So I can't reach the stairway again.
I gave up, I lied down,
Trying to breathe
In this pool of my own darkness,
Slowly drowning into the hole
Made by the acid me, the toxic me.
My hair is falling,
My body is drying,
But I can still see, far far away,
The light shinning for the better me...
Am I too weak to chase it?

terça-feira, 25 de abril de 2017

(A)MA(R)GNETISMO

Hoje eu quebrei,
Eu fui fragmentado, destruído,
Percebi que não era nada
Além de um amontado de partes de mim
Que não sabiam o que fazer antes de conhecer você.
Então você juntou todas as partes de mim
Num único ser, perdido,
Que se achou em você,
Que se amou em você.
Que amou você até se partir novamente
E todas as pequenas partes, antes perdidas,
Se acharam no amar você.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

O CONTADOR DE HISTÓRIAS

     Era um dos mais natos narradores que já conheci, famoso por sempre contar histórias em mesa de bar, desbancava qualquer conto de pescador. Um sujeito sorridente, com ânsia de fama e de aprovação, sempre com um conto pronto no fundo da garganta e no raso da memória, não importava o assunto. Já tinha todas aquelas histórias decoradas de cabo a rabo, mas vez ou outra gostava de aumentar ainda mais o exagero para efeitos literários. Muitas de suas histórias eram sobre ele mesmo, enaltecendo-o a cada sentença. Algumas eram verdades exageradas ou alteradas, outras eram apenas o mais puro mito. O que importa era essa necessidade de mentir, de se auto afirmar... Bem, na verdade a necessidade era de afirmar o seu personagem, visto que ele não era quem ele contava ser. Talvez tivesse medo de se mostrar como o humano que era, então criava o personagem, o alter-ego, o anti-herói do seu próprio conto de fadas. E assim, o narrador se confundia com o protagonista, e, de repente, os dois eram um só, já não existia o homem, apenas o conto. E no final, o contador de história era apenas isso, apenas outra de suas próprias histórias, inconscientemente ele havia deixado de ser ele mesmo e havia se tornado um conto, um personagem. Mas ao contrário de seus contos, ele não controlava a história, ele não previa o final, e assim, inconscientemente, frustrava-se. Ele era um contador de histórias que não podia terminar um conto, que não sabia o final, era um escritor sem controle sobre sua obra. O pior tipo literário que pode haver.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

SOBRE ESTRELAS E BURACOS NEGROS

Era noite quando a conheci.
Seu corpo se movia com a música
E seu cabelo a seguia
Lembrando-me uma confusa estrela cadente.
Uma que não riscava o céu,
Mas dançava nele.
Fiz então meu pedido
E aguardei.

Instantes depois fui em sua direção
E nossos olhos se encontraram.
Eram dois perfeitos buracos negros
Que me fitavam...
Densos, profundos,
Que se atraiam e se repeliam
E faziam dela um centro gravitacional
Que logo orbitei de ímpeto.

Passamos a noite inteira conversando
E notei que havia uma pinta
Logo acima do canto do seu lábio...
Uma estrela intacta
No meio desses dois buracos negros.
E beijá-la foi sentir essa estrela,
Foi sentir o Sol em minha boca
Enquanto dois buracos negros findavam
Para renascer logo depois.

Mas foi apenas quando nos encontramos
Na semana seguinte,
Ao tirar sua blusa,
Que percebi estar errado todo esse tempo.
Seus dois seios, firmes,
Eram dois planetas inexplorados
E entre eles haviam mais estrelas,
Constelações inteiras se formavam.

E foi enquanto fazíamos amor
Que me dei conta do quão grande
E profunda ela era.
Jamais fora uma estrela,
Ou um par de buracos negros,
Ou se quer uma galáxia inteira.
E foi aí que me perdi na imensidão e vastidão
Do universo que era ela.
E então percebi
Que aquela confusa estrela cadente
Havia realizado meu pedido
Antes mesmo deu o ter desejado.