quarta-feira, 23 de agosto de 2017

ASSOMBRO

Vejo em todas as faces a tua,
Sinto em todos os abraços tua ausência,
Lembro-me de minha penitência
Em todas as fases da Lua.

A saudade se torna demência,
E eu, um espectro anil
Que desbota, senil
À tua ausência.

Como um pesadelo infantil
Me assombra o teu corpo,
Mas prefiro-me morto
Do que acordado deste sonho pueril.

Pois no sonho há o toque, o conforto.
Olho embaixo da cama e pelo monstro espero
Mas o vazio me marca como ferro
Enquanto fico na solidão absorto.

Não durmo, me reviro e contenho o berro,
Sofro uma maldição de Morfeu:
Meu travesseiro é a inquisição em seu apogeu
E minha cama, uma armadilha de ferro.

Tua ausência é um castigo de Prometeu,
É minha eterna sina,
É a guilhotina
Para qual minh'alma cedeu.

Do meu sangue escorrido, colhem-se vinhas.
Nenhuma outra pessoa será tão tua,
Nenhuma outra alma será tão nua
Quanto esta que se adoça a tua vinda.

Mas arranha-me a realidade crua,
Teu sorriso arranca de mim a sentença:
"Vais sofrer pelos dias com a desavença
De querê-la inteira, mas nunca tê-la inteiramente tua,
Serás esta tua eterna amargura."