sábado, 31 de dezembro de 2011

TEXTO DE ABERTURA

Faço esse texto pra marcar um novo início, abrir uma nova história. Faço esse texto pra seguir a linha retilínea dos ciclos da vida. Faço esse texto para abrir meu livro a novos textos que virão, para abrir minha vida a novas pessoas que virão. Faço esse texto para abrir meu coração. Faço esse texto para abrir meu livro ao registro de novas histórias e novos amores. Faço esse texto para limpar a pele que aguarda novas cicatrizes. Faço esse texto para despedir-me do velho. Faço esse texto para me despedir dos que sairão da minha vida, mas principalmente para dar boas vindas ao que entrarão. Faço esse texto para dar boa noite a mim mesmo, pois é durante a noite que o dia melhora. Faço esse texto para mim, para você, para todos que precisam recomeçar.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

O CONTO DE UM FAROL E UM AMOR

   Estava em uma de minhas viagens quando cheguei numa cidadezinha de interior, a chuva começava a piorar e não haveria jeito de continuar meu caminho. Logo, optei por passar a noite em algum hotel pela cidade. E que noite havia de ser aquela, a chuva carregava tudo com seus ventos fortes e estrondosos, quase como se quisessem limpar aquela cidade, limpar todas as impurezas dos corações negros que habitam em todo o lugar.

   Entrei em um hotel de três andares chamado "Recanto do Caboclo". O térreo servia de bar, um encontro para os habitantes locais. Havia um homem atrás de balcão que parecia ser tanto o barman quanto o gerente do hotel, as prateleiras mostravam algumas poucas bebidas (a maioria parecia ser algum tipo de cachaça barata) e as mesas mostravam algumas poucas pessoas à conversar e beber. O lugar não era muito arrumado: as cadeiras de madeira pareciam um pouco velhas e algumas estavam tortas ou bambas, assim como umas poucas mesas, mas o estabelecimento era bem limpo. O local me lembrava mais às tabernas da idade média do que um simples bar do século XX.

   Falei com o barman/gerente e fiz questão de arranjar um quarto cuja vista desse para o mar. Subi as escadas com minha a pouca bagagem e sentei na escrivaninha do meu quarto. Acendi a fraca luz e pus-me à escrever. Logo os trovões começaram a roncar e relâmpagos podiam ser contemplados com baixa frequência no céu escuro. "Aposto que se não fosse por essa tempestade o céu daqui estaria lindo e cheio de estrelas" - pensei. Meu hotel ficava na parte "alta" da cidade, o que me proporcionava (na minha opinião) uma vista mais ampla da pequena cidade. Eu não podia ver o mar em todos os seus detalhes, mas eu notava os movimentos violentos de suas ondas contra o porto. Notei também algo que me incentivou a curiosidade: haviam dois faróis na cidade, e suas distâncias não eram longas, o que me pareceu, na minha leiga opinião, um grande erro. Deixei-me divagar sobre o assunto e acabei perdendo a concentração no que estava escrevendo. Depois de cerca de uma hora pensando sobre o assunto enquanto tentava continuar minha escrita de onde havia parado, desci para o térreo, cujo barulho de bêbados e copos tilintando em brindes feitos a qualquer coisa ainda permanecia. Perguntei ao gerente o porquê de haver dois faróis na cidade. O bom sujeito me respondeu que era uma longa história, mas o primeiro farol havia sido tornado um patrimônio local e logo foi feito de ponto turístico, então foi feito outro farol para substituí-lo.

   Suspirei... Bebi a melhor cachaça que eles tinham (o que já não era muito boa) e, enquanto rodava o copo vendo aquela última gota girar em torno dele, pedi ao barman para que me contasse toda a história, afinal, meu sono já havia ido embora por completo. E então ele começou...

   "Ah, meu senhor, é uma história muito bonita, o senhor gostará. Há alguns anos, não mais que cinco décadas, vivia um pescador nesta cidade, seu nome era Heitor. Seu barco era o melhor que já havíamos visto (para um barco de pesca, claro), ele sempre pescava em alto mar com uns poucos homens. Seus lucros quase sempre serviam de incentivo à cidade e ele era mais adorado que qualquer pessoa que já pisou nestas terras, mais até que nosso bom prefeito. Era realmente uma pessoa de bom coração, esse Heitor."

   "Um dia ele foi convidado pelo atual prefeito à jantar em sua casa. O pescador, lisonjeado, aceitou o convite logo de cara. E foi neste jantar que ele conheceu Ana Clara, a filha mais velha do prefeito. Ana Clara tinha apenas dezessete anos, enquanto Heitor tinha vinte e cinco. Eles viveram um romance às escondidas até que Ana Clara completasse seus dezoito anos. Todo dia que Heitor ia adentrar o mar para pescar ele se despedia de Ana Clara com um longo beijo e partia, muitas vezes eram viagens de dias e dias e Ana Clara sempre o esperava no porto. Depois de atingir sua maioridade o romance dos dois foi declarado à todos, e com a aprovação do prefeito, os dois se casaram e começaram a viver no farol da cidade. Heitor ia pescar e Ana Clara trabalhava no farol, ela dizia ser a luz guia dele, sempre esperando e guiando a volta de seu amado."

   "Depois de pouco menos de dez anos, surgiu uma tempestade enorme, bem maior que esta que vemos no céu de hoje, senhor. Algumas casas foram derrubadas, a água invadiu a cidade, os trovões gritavam e os relâmpagos mostravam sua ira. Contam que foi nesta noite que Heitor morreu, pois seu barco jamais voltou a este porto... Dias se passaram e ele não havia retornado, as mulheres dos marinheiros que velejavam com ele já haviam aceitado seu infortúnio destino. Mas Ana Clara permanecia todo dia no farol, ela dizia a si mesma que ele apenas demorava demais, mas que ele ia voltar, ele ia voltar para os braços dela e matariam todas as saudades, todo o amor e o medo, implodidos durante uma noite na cama. Mas ele não voltou...

   "No mesmo ano Ana Clara veio a falecer, ficou doente e fraca pela depressão causada pela ausência do marido. Mas ela jamais perdeu a fé, ainda doente e até o último dia da sua vida ela ainda continuava olhando o mar na esperança de que ele retornasse..."

   Eu, que já havia de estar levemente embriagado, limpei o pouco do úmido que se formava em meus olhos e elogiei a bela história. O bom senhor me interrompeu antes que eu pudesse falar algo e acrescentou:

   "Não fique achando que a história terminou. No ano seguinte ao falecimento de Ana Clara foram achados os vestígios do tal barco, e dizem que apenas reconheceram o cadáver de Heitor porque ele se encontrava com um colar de prata amarrado ao pulso, como se o estivesse agarrando, e nele, continha a foto dos dois... Em seu último momento ele apenas pensou em Ana Clara..."

   "A história foi tão comovente que o farol foi promovido a patrimônio local e foi construído outro para substituir sua função. Contam as lendas que o espírito de Ana Clara vagava pelos farol esperando seu amado que nunca chegava..."

   Agradeci a história, paguei o que devia e subi ao meu quarto. Notei que a tempestade se acalmara e olhei pela janela para o farol antigo imaginando toda a agonia da amante que ali havia morrido. Escrevi a história que havia ouvido e pude então dormir para poder continuar minha viagem no dia seguinte.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

ACHO QUE NÃO PRECISAMOS DE MAIS NOMES

Oh, minha querida,
Não chores pelo que se foi,
A gente se foi, mas eu continuo aqui,
Você tem o resto do seu mundo inteiro sob seus pés.
Você ter sentido dor não lhe da o direito de me machucar,
Pois sabe que não é minha intenção,
Sabe muito bem que desejo apenas teu sorriso.
E se for chorar, ao menos me diga,
Porque eu vou até onde for para poder secar suas lágrimas.
O amor não vira ódio, querida,
A dor mal utilizada é que vira.
Sabe aquelas duras palavras que me disse?
Elas continuam no meu ouvido, na minha mente,
Elas machucam sabia?
Mil perdões por ter-lhe entregue palavras duras também,
É só que... Revidar rispidez e frieza com carinho e gentileza...
Isso já não dava pra mim,
Machucava, fazia eu me sentir um tolo...
É aquele maldito orgulho de novo,
Como eu desejo voltar e não tê-lo.
Sabe... Você pode bater em mim se quiser,
Pode me machucar se for fazer sua dor passar,
Eu irei receber todas suas ofensas e tapas...
Com um sorriso no rosto e lágrimas nos olhos...
Eu não vou parar de te desejar o melhor...
E quando seus braços tiverem cansados de tanto me esbofetear,
E seus lábios tiverem cansados de tantas palavras pesadas,
Eu vou lhe abraçar,
E lhe darei meu ombro novamente para você chorar.
Até você sorrir, até você sorrir...
Sem brincadeiras tolas e jogos de criança,
Sem fingimentos e sem ferimentos,
Lhe darei um sorriso sincero.
Só peço que não entre nessa rua escura,
Lá eu não posso te ver, não posso cuidar de você,
Não entre nessa rua que não se entrelaça à minha,
Eu te quero sob às luzes de meus postes de avenidas coloridas,
Te quero sorrindo, sorrindo junto à mim,
Quero seu ombro para poder chorar de novo,
Quero nós, de um jeito diferente do que era,
Mas não menos bonito,
Tão bonito quanto um dia já foi...

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

MENTIRAS PARA A LUA

Ela caminhava descalça,
Por solos quentes e terras secas,
O calor do Sol lhe secava,
Retirando sua vida aos poucos.
E ela mentia para a noite,
Sim, ela mentia para a noite.
A Lua, comovida por seu sofrimento,
Prometeu-lhe uma noite cheia de estrelas,
Prometeu-lhe gélidos ventos para suavizar o que o Sol havia queimado,
Prometeu-lhe a escuridão para envolvê-la e abrigá-la.
Mas ela mentiu para a noite,
Sim, ela mentiu para o noite.
Mas mesmo as sombras, ventos, estrelas e escuridão,
De nada adiantariam,
Pois ela insistia em andar sob a luz do Sol,
Queimando seus pés, sozinha num deserto árido.
Foi porque ela mentiu para a noite,
Sim, ela mentiu para a noite.
A lua veio enquanto o Sol ainda queimava,
E como poderia isso?
A Lua não fora capaz de competir com o brilho do Sol,
Ela acabou também por se queimar.
Tudo porque ela mentiu para a noite,
Sim, porque ela mentiu para a noite.
E quando o Sol se foi, a Lua já havia se queimado demais,
Já não restava forças para suavizar,
E então a garota suplicou tudo o que lhe foi prometido,
Mas a Lua já não tinha nada para oferecer.
Esse foi o preço pago por ela ter mentido para a noite,
Sim, ela mentiu para a noite,
Mentiu dizendo que já não era dia.

domingo, 11 de dezembro de 2011

AMOR EGOÍSTA

Venho observando de muitas maneiras a tal "maneira de amar", venho percebendo que até no amor existe egoísmo, coisa a qual poucas pessoas percebem. Mas alguém já parou pra pensar nisso? Muitas pessoas amam e querem pra si, enquanto outras amam e querem fazer feliz. A maioria das pessoas quer alguém por essa pessoa fazê-la feliz, mas sem se importar com a felicidade dela, é um amor egoísta, percebe? Normalmente essas pessoas não pensam no parceiro, e só fazem sacrifícios por ele depois que eles ameaçam deixá-lo(a) - pois abalaria a felicidade deles - é uma coisa meio de sofrer primeiro e ganhar depois. Chega a ser deprimente como o ser humano age em certas ocasiões, o quanto ele consegue corromper até mesmo o amor e torná-lo algo tão egoísta. E desse amor egoísta nascem brigas e insatisfações, nascem lágrimas por não receber o devido valor, nasce o tradicional "ódio pós-término", coisa a qual eu jamais entendi e jamais senti, e acho que ninguém jamais sentiu por mim(posso até estar errado). Prefiro ainda aquelas pessoas que sabem amar se importando, aquelas que querem fazer o bem ao próximo, aquela que mesmo sem estar com a pessoa que desejam ainda o fazem, ainda torcem pela sua felicidade. Pois essas pessoas, sim, sabem amar. Então aqui vai um recado: se alguém o faz feliz, torne essa pessoa feliz também, pense nos sentimentos de cada pessoa e se importe mais com os outros, faça sacrifícios por aqueles que ama, mesmo que isso doa em você, não odeie a rejeição ou o término, mas guarde pra si as memórias boas, cuide e proteja alguém que um dia já foi tudo pra você. Não se afaste das pessoas que você ama e não se afaste das que amam você. Apenas cuide bem do seu amor, mesmo que as coisas não sejam como você quer.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

A CASA DO PESADELO

Era uma casa incrivelmente bela,
Uma casinha azul, número 23.
Nos fundos havia um quintal
Onde eu cultivava morangos,
Havia também uma rede amarrada à uma árvore,
E um banco para dois.
Haviam poleiros onde os pássaros me visitavam
Trazendo uma bela canção,
E também beija-flores
Que vinham elogiar meus lírios.
Havia um violão apoiado na árvore,
Cujas cordas empoeiradas já cansei de tocar,
E o pequeno lago no quintal
Ainda carregado de peixes coloridos que eu cultivava.
Vocês devem estar a pensar,
"Mas esta é uma casa dos sonhos",
Porém ainda faltam fatos a comentar...
Os morangos que rego,
Antes eu regava ao lado dela,
Jogávamos água um no outro, sorríamos.
A rede em que durmo,
Antes ela vinha se deitar comigo,
Nós dormíamos olhando o céu estrelado.
O banco o qual nem ouso tocar,
Antes nós sentávamos para conversar,
Ela sempre com a cabeça em minha perna.
Os pássaros que me trazem seus cantos,
Antes silenciavam ao canto dela à mim.
Os beija-flores que beijam meus lírios,
Antes invejam a flor que eu beijava.
O violão cujos acordes chamam lágrimas,
Antes chamavam sorrisos ao rosto de minha amada.
E os peixes coloridos já não tem graça sem as cores dela,
Pois o resto agora é preto e branco.
Vivo todo dia a morte de minha amada esposa,
Desde que ela se foi,
Vivo às metades,
Em um eterno pesadelo,
Onde cada casca de parede nesta casa,
Me lembra do inteiro perfeito que fomos,
E que tudo perdeu o significado,
Ou a menos a metade mais importante dele.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

A DOENÇA DA DISTÂNCIA

Onde estás, minha amada?
Aqui os dias hão de correr tão vagarosamente.
E já não me resta mais nada
Se não tua lembrança em minha mente.

Por que impomos tão longínqua distância,
Se longe de ti sinto até ânsias?
Sem ti hei de adoecer,
És como droga, fazendo-me morrer.

Meu corpo de ti necessitas,
Necessito de tua cabeça deitada em meu peito,
Cuidando aos poucos de minhas feridas,
Enquanto em teus lábios me deleito.

Por que há de me causar tamanha enfermidade?
Só lhe pode ser fruto da saudade,
De teu sorriso, tua boca, teu corpo,
Sem ti hei de me sentir morto.

Então vem, voe até mim,
Pois minhas asas já não podem me levar a ti.
Vem, repouse tua mão em minha face, assim,
Sim, apague a dor que já vivi,
Leve embora as memórias de um passado ruim
E acabe com a distância que me traz esse sofrimento sem fim.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

UM AMOR MORTO

Era uma noite escura e fria,
Minha amada, em nossa cama jazia,
Enferma, tossindo sangue nos lençóis,
E ela me suplicava, quase sem voz,
"Não sofras por me perder,
Siga em frente, continue a viver,
Já não me resta muito tempo,
Oh querido, eu lamento, eu lamento,
Lamento que o "para sempre" não venha a existir,
Mas por favor, que isso não lhe impeça de sorrir,
Eu queria estar com você eternamente,
Mas não era esse o plano que Deus tinha pra gente."
E enquanto as lágrimas corriam nossas faces,
Ela expelia mais daquele elixir escarlate.
Eu, ajoelhado do lado dela,
Iluminados pela luz de uma bruxuleante vela,
Segurava sua fraca mão,
Enquanto lhe pedia aos prantos, "não me deixes não".
Eu suplicava a Deus por mais tempo,
Enquanto ela suplicava o fim daquele tormento.
Eu a beijei numa tentativa tola de dar-lhe minha vida,
E aquele momento acabou por ser nossa despedida,
E tudo se passou tão rápido,
Os olhos dela se fecharam,
As janelas bateram e quebraram,
O vento soprou, a vela apagou,
E a escuridão foi a única que restou.
E como poderia eu deixá-la partir?
Sem ela eu não conseguiria existir,
Eu gritava aos céus, "Levem-me também!",
Uma falha tentativa de ser atendido por alguém.
Recusei-me a acreditar que era real,
Culpei a Deus tamanho mal,
Culpei o mundo por tê-la perdido,
Culpei até a mim por ter deixado que ela houvesse partido.
Gritei a Deus, "Você não ficará com ela!",
Ele me respondeu batendo a janela,
Era como uma tentativa de lembrar-me que ela partira,
Mas só serviu para aumentar minha ira.
Eu chorava e gritava feito louco,
Soluçava, rouco.
Comecei a socar a parede,
"Vede!
Meu punho por ti está sangrando,
Está gostando, senhor? Está gostando?"
E em meu acesso de fúria vi a noite se prolongar sabe-se lá por quanto tempo,
O tempo se recusava a livrar-me do tormento.
Não sei quando ou como, mas apaguei,
E sabe-se lá quanto tempo depois, despertei,
Acendi um lampião e comecei a mirá-la,
"Não, não vou deixá-la,
Não será a morte que irá nos separar,
Continuarei a te amar, vou sempre te amar."
Chorei por minha amada em seu sono eterno e deitei ao seu lado,
Ela estava pálida, como jamais havia estado,
Acariciei sua face enquanto chorava,
Beijei os lábios da mulher que tanto amava.
Eu não poderia deixá-la esquecida a sete palmos do chão,
Decidi que viveria comigo então,
Eu jamais a enterraria,
Jamais a esqueceria.
Fui despindo a seda que ela vestia,
Enquanto minha língua espalhava amor pela pele fria,
Prostrei meu corpo sobre o dela,
Olhei mais uma vez o quanto era bela...
Eu chorava, chorava enquanto a amava,
Do mesmo jeito que eu sempre havia amado,
Mesmo que o espírito dela houvesse sido roubado.
Acordei ao seu lado tempo depois,
Percebi que já não existiria "nós dois",
Não haveria risos, café na cama,
Nem dança com a bela dama,
Só haveria o "eu sozinho",
A tempestade tirara o outro pássaro do ninho.
Chorei novamente,
"Estarei com você eternamente,
Se não na vida, então na morte,
Mas te amarei e por ti morrerei,
Apenas para estar ao lado teu,
Adeus, mundo, adeus..."
E com este último sussurro,
Peguei a arma no criado-mudo,
E engoli seu tiro,
O mundo escureceu, eu havia morrido...
Morri sorrindo...
Pois ao encontro de minha amada eu estava indo.
"Para sempre... Para sempre, querida...
Será na morte o que não foi na vida..."

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

O PORTEIRO

   Era um senhor já idoso, deveria ter uns setenta anos - mesmo que seu vigor demonstrasse juventude. Chamava-se Luis Roberto, era calvo - salvo uns resquícios de cabelos branco na parte posterior da cabeça. Seus olhos são de um azul desgastado pelo tempo, vítima de erosão, porém ainda bem vivos. Trabalha como porteiro no edifício em que moro. Mas também já fora chaveiro, segurança e encanador.

   O senhor Roberto (ou seu Roberto, como o chamávamos) era um sujeito bondoso, sorridente. Sempre havia algum morador conversando com ele. Sempre fora bom ouvinte e bom aconselhador, nos ajudava sempre que precisávamos, sempre sendo simpático. Mas apesar de sempre ajudar os outros, ninguém jamais perguntou pelo que ele passava, apesar de que duvido que ele respondesse, sempre fora um homem misterioso.

   Em uma de nossas conversas eu o perguntei como ele conseguia fazer até as pessoas mais fechadas se abrirem com ele, enquanto eu sempre tentara ajudar as pessoas mas sem sucesso algum. Usando seus dons de chaveiro ele me respondeu "é só uma questão de usar a chave certa, existem cadeados mais fáceis, que abrem com chaves diferentes, porém alguns precisam de uma chave precisa. Você tem que analisar o cadeado e ver qual seria a melhor chave. Lembrando também que não é só porque algo é bem protegido que valha a pena ser descoberto, e nem que seja grande ou valioso, ou valioso pra você. Algumas coisas são melhores guardadas e muitos segredos e tesouros podem não ter o impacto em você que tem na pessoa que o possui, você jamais pode desvalorizar isso e deve sempre entender as necessidades de cada pessoa". E ainda, com seus dons de segurança, acrescentou que "você deve lembrá-las (as pessoas) que em uma casa fechada não se vê os perigos que se aproximam, sempre deve haver aberturas para termos segurança. Além do que, se nada entra, nada sai". E depois usou de seus dotes de encanador para acrescentar que "Todos precisamos de um cano de escape, se as coisas acumulam, elas tendem a explodir ou falhar. Precisamos canalizar nossas dores".

   Eu já estava a chegar à minha conclusão depois de ouvir e me encantar com seus conselhos quando ele, como bom porteiro, me disse "só não ache que tudo é um trabalho seu ou que tudo depende de você ou do seu esforço. Elas (as pessoas) podem ter seus encanamentos, podem até ser casas ou cadeados, mas também são porteiros, elas escolhem quem entra, então mostre-se bom, bem intencionado, mostre-se digno de entrar no coração das pessoas..."