quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

SOBRE MINHA ETERNA VONTADE DE DANÇAR



Às vezes tenho essa sensação estranha... De que não importa o quanto eu beba, dance, pule ou qualquer outra coisa... Eu não consigo ficar feliz por completo. Não por eu ser triste, não. Mas por eu ser tão feliz que minha felicidade e animação simplesmente não acabam. É uma sensação boa essa... Quando ela bate ela simplesmente não passa, e nada me resta a fazer se não pôr uma música e dançar pelo resto do dia, nem que seja comigo mesmo.

sábado, 19 de janeiro de 2013

AVÔ

Olhando para meu avô eu às vezes até fico a pensar que talvez a velhice não seja tão ruim.
Olho para ele andando com aqueles passos lentos e cansados,
Seus problemas nas articulações, pele, rim ou seja lá o que mais.
Mas principalmente eu olho pro seu problema de audição, de todos seus dons, o maior.
Ele não nos ouve, ele não os ouve.
Nada chega em seu ouvido à menos que ele queira,
Oras, não seria isso uma benção?
Ter toda a confusão e os gritos do mundo silenciados na sua cabeça?
E é exatamente isso que ele faz, se tranca lá na cabeça dele,
Onde ele recita aquelas poesias e ouve aqueles sambas que ele gosta.
Toda vez que me pego olhando-o ele está lá, naquele mundo dele,
Alheio à toda a conversa, à todo o barulho,
Cantando o seu sambinha com tanta felicidade.
Às vezes eu até o pego dando uns passinhos, pegando um ritmo,
Como se todo o samba estivesse à sua volta.
Ele não é nenhum velho débil ou doente, não, ele apenas faz de seus problemas seus dons.
Pois quando ele abaixa aquele muro de surdez que separa o mundo dele da realidade
Você vê o tamanha de cultura que transborda,
Desde suas poesias de Augustos dos Anjos e outros poetas não tão prediletos como ele,
Até seus sambas cariocas daquela época de ouro onde todos se uniam na Lapa para sambar.
Eu o olho e sorrio, penso que se for para me tornar um velho,
Aquilo que mais tenho medo de ser,
Gostaria de ser como ele.
Cheio de cultura, alegre, cantando e dançando uns sambas ou um rock,
E com um problema de audição pra me separar desse mundo que faz tanto barulho.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

TEMPESTADE

Você é como a tempestade,
Chega como se tudo fosse destruir.
Por isso as pessoas te temem,
Fecham-te suas portas e janelas.
Mas elas não percebem a beleza da tempestade como eu.
Elas não vêem na chuva que as molha,
A água fria que acalma e traz paz.
Elas não vêem no vento que tudo parece querer derrubar,
Uma brisa que apenas quer afagar seus cabelos
Ou até mesmo a adrenalina de o enfrentar.
É por isso que as outras pessoas não amam as tempestades como eu.
É por isso também que a ti eu abro minhas portas e janelas,
Pois amo a chuva, o vento, ou até mesmo os relâmpagos.
Amo cada parte desse todo que é uma tempestade,
Da mesma forma que amo cada parte desse todo que é você.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

VAZIO

Arrumei-me, vesti aquela jaqueta de couro que eu tanto gosto,
Pus aquele perfume que elas tanto gostam, e saí.
Acendi um cigarro, olhei para o céu,
Dei um longo suspiro e voltei a caminhar com minha mão no bolso,
Rumo à mais uma noite.
Eu já havia me acostumado com aquele buraco,
Aquele vazio que agora jazia em meu peito.
Também havia me acostumado a preenchê-lo apenas momentaneamente,
Pois era a única maneira que eu havia encontrado.
Com uma garota apertada entre os braços
E sua língua a se enroscar na minha.
Nada mais me preenchia,
Ninguém mais me preenchia,
Por isso gostava daqueles momentos,
Por alguns instantes eu me sentia cheio,
Não completo, cheio.
Sentia como se tivesse um coração ali novamente,
Mesmo que não batesse por amor.
Ele batia era por adrenalina,
Batia por desejo,
Desejo de possuir seja quem fosse a garota na minha frente.
E foi em uma dessas noites vazias e animadas em que notei...
O mesmo desejo corria nas veias da garota
Cujas unhas arranhavam-me as costas.
Foi assim que acabamos em um motel qualquer por perto dali.
Quando terminamos, acendi um cigarro
Enquanto a cabeça dela repousava acordada em meu peito,
E sussurrei, como quem falasse apenas para si mesmo,
"Ninguém preenche meu vazio por completo."
Ela me olhou como que para se certificar de que eu havia dito algo,
Mas então percebi que ela não havia ouvido direito.
Respondi: "não é nada... Hum... O que você viu em mim?"
Com uma pergunta que continha um misto de curiosidade e surpresa.
Ela olhou bem nos meus olhos e disse: "três coisas",
Indicando um número três com os dedos.
"Primeiro, seus lábios, gostei deles e desse seu piercing.
Segundo, seus cabelos, eles são lindos e cheios,
Daquele jeito que é legal agarrar durante o sexo."
Sorri e passei a mão no cabelo
Lembrando do momento em que ela os agarrara.
"Em outras palavras, bem... Você é bonito,
Mas a terceira coisa acho que supera as duas primeiras."
Apaguei meu cigarro que já estava no final
E prestei atenção naquele último motivo.
"Seus olhos... Eles são tão... Vazios... É... É belo...
Como se fossem cheios de mistérios e incertezas,
De um passado obscuro e um futuro incerto.
Mas não é aquele vazio de quem nunca foi completo,
É um vazio de quem foi completo mas se perdeu."
Acendi outro cigarro pra disfarçar a vergonha que sentia naquele momento,
Ou talvez apenas para me dar tempo para pensar no assunto,
Quem sabe até como resposta, ou como silêncio.
Eu estava nu naquele momento,
Mas só apenas depois do que ela havia dito que eu realmente me senti assim,
Nu, de uma forma que poucas vezes eu estivera na vida.
"Eu sei porque eu conheço, eu entendo o que é ser vazio,
Conheço e entendo porque também sou."
Surpreendi-me com aquilo,
Pensei até que ela poderia ser aquela quem taparia o buraco do meu peito,
Mas então, pra decepção da minha esperança mal formada, ela continuou:
"Mas meu vazio não está nos olhos e nem no peito,
Meu vazio está entre as pernas,
E hoje... Querido... (Ela descia seu indicador pelo meu corpo enquanto falava)
Você o preencheu muito bem."
Ela me deu um sorriso safado e quase gargalhei,
Mas acabei por tossir engasgado com a fumaça do cigarro.
Levantei da cama com meu membro viril ainda à mostra
E olhei para o teto como se pudesse ver o céu e suas estrelas através dele.
E ali fiquei, pensativo, até que soltei um longo suspiro e me vesti.
"É só mais uma qualquer,
Que preencheu meu vazio com alguma substância secundária à necessária,
E cujos fluidos permanecerão alguns dias,
Até que o vazio volte por completo novamente."
Disse-lhe que iria embora e joguei o dinheiro na cama para que pagasse o motel,
Então parei, parei pois percebi o que havia acabado de acontecer.
Eu havia jogado o dinheiro à uma amante de uma noite como se joga dinheiro às prostitutas,
Sem carícias e nem beijos de despedida,
Enchi-me por tamanha vergonha que meu vazio quase vazou.
Saí, triste, com meu último cigarro na boca, e pensando:
"No que é que eu me tornei?"