quarta-feira, 29 de junho de 2011

AS ROSAS

Será que ela vai se lembrar?
De uma rosa outrora recebida?
Será que ela ainda vai amar?
O garoto que a deu com as mãos feridas?

A rosa era branca,
“Branca como suas asas, minha anja”
Branca como a paz que ela o passava,
Como a mão que o acariciava.

A rosa nela aos poucos cravava espinhos,
A medida que aquele recém-formado casal fazia seu ninho,
E aquela rosa branca foi tornando-se vermelha como a paixão,
Conforme aquele amor crescia em vão.

Aquilo aos poucos se fortificava, aquela felicidade,
Mesmo ela escondendo dele toda a verdade,
Escondia o quanto os espinhos a estavam machucando,
Escondia o tempo de vida que a morte ia dando.

Mas ele era esperto,
Percebeu que ao tocar o ponto certo,
A dor dos espinhos tornava-se fato,
E assim o sofrimento dela saía do anonimato.

Ele então se empenhou a cuidar dela,
Pôs si mesmo em uma cela, preso à ela,
Foi tirando cada espinho possível,
Achando ser um plano infalível.

Mas parecia que cada esforço era nada,
A cada espinho retirado ela piorava,
E foi aquele último espinho que ele retirou,
Que enfim a matou.

Tolo, mal sabia ele que aquilo que a machucava,
Era o que fazia ela viver,
Mal percebia ele que aquela rosa murchava,
Começando a enegrecer.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

A MAIS DURA CONFISSÃO

Os primeiros raios de Sol adentram meu quarto, invadindo-me o sossego da escuridão, fazendo-me abrir os olhos molhados de lágrimas ainda recentes de uma melancólica insônia, uma noite inteira no árduo trabalho de soluçar, faltar o ar, me debater e encharcar-me em tristezas.

Já me torna insuportável essa situação, essas memórias, que ao contrário das fantasias ciumentas de minha amante, são concretas. São todas coisas passadas, eu sei, e isso em nada altera meu presente, mas o simples fato de lembrá-las e pensar nelas já me promovem muita agonia, muita dor e inquietação. E por mais que eu tente fortemente apagá-las, como a maré insistindo em apagar o coração que fizemos na areia, há sempre alguém insistindo em me lembrar, seja proposital ou não. E diretamente ou não, isso dói...

Sou privado do descanso, do ócio e da reflexão, já não me sobra muito tempo pra isso, sou pressionado pelo capitalismo a conseguir um bom emprego e estudar bastante. Os bem-te-vis do meu telhado já devem estar sentindo minha falta, jamais voltei a visitá-los. Invejo-os, como queria ser livre como meus amigos bem-te-vis, ter asas que ao contrário das minhas, me fizessem voar. Vez ou outra um deles me aparece na janela, tornando a dizer “bem-te-vi amar”, “bem-te-vi chorar”, “bem-te-vi sofrer”, “bem-te-vi machucar”. É... Eu ando machucando muito não? Eu sinto tanto por isso, e sinto muito por pedir desculpas, sem jamais resolver nada.

Acontece que dói demais te ver chorar, sabendo que tem muita culpa minha nisso tudo, ainda mais lembrar o quanto você sorria no passado, sabendo que comigo já não sorri tanto. É querida, parece que os sorrisos não estão voltando às suas faces, acho que meu amor não foi o suficiente pra ter tamanho efeito. Você não imagina o quanto sofro por brigar tanto com você, alguém que amo demais. Deveríamos começar usar os lábios para curar, para pronunciar carinho, para nos amar, ao invés de usá-los como arma, para nos provocarmos, para nos ferirmos, para machucar um ao outro. E o pior de tudo, é saber que dessa vez é tudo culpa minha, toda sua dor é culpa minha.

De nada adiantou mudar nosso nome, se não mudamos o tratamento e a confiança. Mas não se preocupe, irei te virar de costas para não ver o quanto sofro, não precisará mais olhar para mim. Você seguirá em frente, mas não quer dizer que eu também vou me virar, continuarei olhando suas costas como sempre fiz, irei te abraçar e te envolver, te alisar e fazer todo o bem possível pra você. E você talvez me esqueça, pois não mais me verá, não mais me sentirá, não do jeito que costumamos fazer. Você vai sentir meu toque, vai sentir minha mão sem saber que é minha, ouvirá meu choro imaginando ser algum baralho qualquer, irá se molhar em minhas lágrimas achando ser apenas chuva.

Estou cansado de causar dor, não agüentarei o fardo de ter transformado um anjo numa besta. Não agüentarei mais tempo nessa rotina de estudar e chorar, disfarçando minha tristeza, fazendo-lhe pensar ser sono, fadiga ou cansaço, fazendo-lhe pensar que escondo meu rosto no travesseiro por querer dormir, quando só quero chorar.

Eu aceitei você querida, aceitei nosso nome, aceitei e retribuí com amor todos seus “beijos cheios de”, aceitei as cores que você me oferecia quanto tudo estava negro e eu não possuía visão. Aceitei o verde com o vermelho, o azul com o branco. Aceitei todas as suas cores uma a uma e voltei a enxergar, mas a realidade não está boa meu bem, ela machuca tanto quanto minha cegueira e a ausência de cores.

Está na hora de encarar a verdade, de pular do telhado, de quebrar o coração e morrer. Está na hora de não olhar sua face, pois cada vez que a vejo, eu só sinto amá-la, só sinto desejá-la, querê-la, beijá-la. E nada disso pode continuar, pois na ausência do seu rosto, o resto é dor minha, é dor sua. Todo meu amor e desejo por você não foram suficiente, não me fazem feliz, e acima de tudo, eu não te faço feliz. Mesmo que você diga que eu faço, eu não faço por completo, e te fazer parcialmente feliz me faz completamente infeliz.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

ESTILHAÇOS

Escorre-te a lágrima,
Quebram-se os sonhos,
Cortam-te os estilhaços,
Penetram-se no seu corpo,
Jorra-se o sangue enferrujado.
Desiludem-se os amores,
Fogem-te os sorrisos,
Faz-se a chuva,
Propaga-se a dor.
Desvendam-se as mentiras,
Odeiam-se os amantes,
Magoa-se sozinho,
Apaga-se o sentimento.
Incomoda-te os estilhaços,
Espalha-se a dor,
Percorre-se o corpo,
Torna-se frio.
Acabam-se as primaveras,
Começam-se os invernos,
Murcham-se as flores,
Murcham-se os corações.

domingo, 19 de junho de 2011

TEORIAS SOBRE VODKA E UNIÃO

Ergam os copos irmãos! Vamos brindar à nossa união! Ou qualquer outra desculpa que podermos achar! Pois não é com qualquer um que compartilhamos tamanha sensação. Garganta queimando, olhos vermelhos, não é sempre que podemos aproveitar. Vamos agora nos deliciar, com todo esse formigamento que nos percorre o corpo, a visão embaçada que nos fere o olho.

É incrível como apenas beber com um amigo já nos promove união, vivemos em um mundo de banalidades, onde amamos quem não conhecemos, onde nos interessamos apenas sobre os programas de ontem, os filmes de hoje, e o futbol de amanhã. Tudo o que falamos é sobre coisas externas à vida, coisas que em nada promove confiança, ninguém se interessa em saber pelo que você já passou, suas expectativas, seus pensamentos, seja sobre a vida, o futuro, o mundo ou os seres humanos. Ninguém quer saber sobre suas filosofias, questionamentos, nada. O que realmente tem valor e promove confiança, ninguém jamais se interessa em saber.

Porém, quando estamos tontos e fora de si, nós falamos sobre nós mesmos, falamos sobre vida e decepções, expectativas e filosofias. Então, caros leitores preconceituosos, não venham me julgar e dizer que falo sobre álcool ou filosofias de bêbado, o que realmente estou dizendo talvez vocês, leitores cegos, não percebam, talvez porque a mente de vocês parou a leitura no primeiro parágrafo. O que realmente tento falar é sobre a banalização da amizade, sobre união e confiança, coisas que pelo visto são raras hoje em dia.

Então venham irmãos! Fodam-se agora os leitores que nos põem taxas, que não nos entendem. Vamos virar este néctar de anti-lucidez, ao menos que por cinco segundos. E então podemos falar aquilo que tememos dizer, poderemos esquecer, esquecer o mundo, mas jamais as memórias.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

O GAROTO SEM NOME

Era noite, estava muito frio, frio como um coração vazio. Um garoto andava sozinho tendo apenas seu cigarro para se aquecer, casaco preto, mãos no bolso, cabelos despenteados. Os poucos que o olhavam era com o único propósito de dar-lhe taxas apenas devido a sua aparência fora de um padrão, mal sabiam eles a dor que outrora o garoto sentiu.

- Ei! Você! Ei garoto! Estou falando com você!

Uma garota linda chamava-o, corria atrás deles gritando enquanto ele não se dava nem ao trabalho de virar-se. Era uma garota bela, simplesmente bela, como poucas eram, era bela, porém não se permitia ser. Ela o alcançou e pôs a mão seu ombro virando-o para indagar:

- Ei, eu estava te chamando, você não ouviu?
- Quê? Ah! Eu ouvi sim, mas só atendo aqueles que me chamam por um nome.
- Qual seu nome então?
- Eu não sei, não tenho. Jamais me deram um nome.
- Como assim não tem um!?

A garota estava espantada. O garoto provavelmente já acostumado com tamanha reação olhou para o alto dando mais uma longa tragada, logo depois olhou o relógio e disse “sente-se, irei explicar-lhe”. Os dois então sentaram em um banco debaixo de uma árvore, mas antes do garoto ter a chance de começar a explicar a garota interveio-lhe.

- E seus pais? Seus amigos? Jamais lhe deram um nome?
- Meus pais pouco se importavam com meu nome, meus amigos já me deram vários nomes, mas são todos apelidos, nenhum deles é realmente o nome que espero ter, mas não os cobro nada, pois não é deles que espero nomeação.
- E de quem seria então?
- Alguém que eu amasse e que me amasse também, uma mulher que conquistasse meu coração e que eu pudesse conquistar. Mas apesar de todas as mulheres com quem me relacionei terem me tratado com carinhos e espinhos, nomes bonitos e cheios de afeição, nenhuma delas jamais me deu um nome...
- Meu Deus! Mas isso é tão triste...

A garota encheu os olhos de lágrimas, o garoto olhou com os olhos vazios, por pura curiosidade ou por amor talvez, afinal como podia interessar-lhe aquela estranha? Por mais que houvesse uma sensação de conhecê-la há anos, ele não sabia nada sobre ela. Mas ele sentiu nela alguma coisa, alguma coisa que a remetia ao passado. Sua mente viajou, lembrou do tempo que possuía asas, seus olhos de repente voltaram a si, ele sentiu compaixão pelo estado daquela garota, pena não, compaixão. Ele, curioso, acendeu um segundo cigarro e levou-o à boca. Sendo tirado pelas mãos da garota que agora estava aos prantos.

- Largue isso! Isso não te faz bem!

O garoto nada disse, apenas consentiu, olhou curioso para toda sua preocupação e depois pegou sua mão como que para senti-la.

- Como pode jamais ter tido um nome?
- Talvez porque eu não exista realmente. Sei lá, eu me sinto sendo o passado e o presente, às vezes sou apenas um dos dois, mas jamais sou o futuro, eu não o enxergo, ele não chega para me incorporar.
- Mas isso não pode continuar assim! Já sei! Dar-lhe-ei um nome então!

Suas pupilas se dilataram, ele estava perplexo, como poderia aquela desconhecida dar-lhe um nome? E o mais curioso, sabia ele, é que ele queria que ela o desse, ele não o rejeitaria, pois ele a amava.

- Por que me daria um nome? Mal me conhece...
- Porque te amo...

Aquelas palavras foram o suficiente para o garoto entregar-se de coração, sentia ele como se ela fosse dele e vice-versa.

- Então me dê um nome, e me chame por ele, mas que não seja apenas entre quatro paredes, e eu serei seu enquanto assim me chamar. Dê-me um futuro, e eu serei ele, seu futuro, porque já hei de ser seu passado e seu presente.
- Chamarei-lhe então de Lucky, meu amor. Pois teve a sorte de receber, enfim, um nome, e este dado por mim. E eu tive a sorte de encontrar-lhe e poder dar a você tamanho nome, pois seu nome é meu também.
- Então por esse nome agora atenderei, basta usá-lo.

Era meia-noite quando aquele recém-formado casal havia se beijado, e o garoto pode enfim, talvez, sorrir, pois antes era ninguém. Depois a garota disse que tinha que ir, pois já era passada sua hora, mas disse também que voltaria e saberia o encontrar.

- Posso perguntar-lhe duas coisas antes de ir?
- Claro, meu amor.
- Eu nem ao menos sei teu nome, e muito menos o motivo por ter me chamado.
- Porque achei que te conhecia, achei ter visto em você o pequeno garoto que conheci quando criança, e agora sei que realmente é você, pois lembro de ter me apaixonado por aquele garoto sem nem saber seu nome... E quanto ao meu nome? Eu não tenho um, eu tive um há muito tempo atrás, mas talvez por desuso ou por outro motivo, ele se perdeu... Achei que jamais teria um nome novamente, mas então encontrei você... Então, me dará um nome querido Lucky?

quinta-feira, 9 de junho de 2011

SENTIMENTOS DE PAPEL

Sou um covarde,
Refugio-me em meu caderno,
Pois tenho medo de te machucar,
Me machucar, ou machucar qualquer um.
Tenho medo de gritar, de lutar,
Então ponho exclamações,
Ponho interrogações,
Questiono-me ou os faço questionar.
Escrevo por temer,
Por vergonha, por fantasia,
Por amar e chorar.
Tenho vergonha em não ser
Tudo o que eu queria ser pra você,
Então fantasio-me, ponho-me asas e cicatrizes,
Crio lugares que jamais poderei te levar.
E isso me frustra, o real me frustra.
Tenho vergonha de mostrar lágrimas,
Então choro no papel,
Deixo marcas pra você desvendar.
Tenho vergonha em lhe dizer o quanto te amo,
Então faço meu caderno falar,
Dou-lhe boca, lábios, língua,
E em você ponho ouvidos.
Demonstro meus sentimentos de papel
Escritos em cifras sem som,
Os mostro às minhas namoradas de origami,
Que sou capaz de desmanchar em poucas lágrimas.
Falam que sou uma pessoa fechada,
Porém meu caderno sempre esteve aberto,
Com todas as linhas, interrogações, exclamações,
Vírgulas, pontos e reticências,
Porém ninguém jamais se preocupou em ler.
É óbvio que algumas coisas estão borradas ou apagadas,
Preciso de uma borracha de vez em quando,
Ou então seríamos linhas atrás de outras,
Rabiscos frustrados,
Acúmulo de tinta...
Se eu não tivesse uma borracha,
Eu seria tudo,
E aí está o problema...

quinta-feira, 2 de junho de 2011

LABIRINTO


Corro, corro desesperadamente, vejo você fugindo e jogando cacos de vidro por onde passa. Eu corro atrás de você e cada passo é mais doloroso que o anterior, o ar começa a fugir do meu peito, minhas pegadas de sangue mostram o quanto já corri. Resolvo deitar, ali no vidro mesmo, que outro lugar haveria? Até o repouso é uma tortura, minha cabeça dói como se fosse explodir, perco o equilíbrio e mesmo deitado, tudo ao meu redor gira, aperto minhas mãos contra a cabeça, grito... Ninguém escuta... O ar falha cada vez mais, é como se houvesse um peso de uma tonelada sobre meu peito, respirar dói e cansa gradativamente mais, até eu desejar parar, e acredite, como eu queria isso, muitas vezes desejo desesperadamente. Queria que o ar acabasse de vez, ao invés de apenas falhar, seria tudo mais fácil, afinal, somos valorizados apenas em leito de morte, enquanto vivos apenas nos menosprezam. Levanto devagar com a mão no peito, sem forças, sem ar, minha respiração cada vez mais ofegante, sentia como se fosse desmaiar, minha visão começava a ficar turva. Continuei andando, não no seu rastro de vidro, fui pra outro lugar... Mas não tinha outro lugar pra mim... Ouvia os lobos miando nas colinas, o vento rindo da minha humilhação, e então meus passos lerdos rapidamente me levaram a uma porta, eu a abri e entrei. A mesinha ao lado da porta me oferecia uma navalha e um cigarro, aceitei de bom grado e subi as escadas no teto, ou será que estava descendo? Eu já não sabia mais de nada, me apoiei no corrimão para não cair, a outra mão apertando o peito, entrei em outra porta, outra escada, porta atrás de outra e me deparei no mesmo lugar. Ar... Precisava de ar, eu sempre fui o oxigênio, agora era eu quem precisava dele, precisava de mim mesmo? Ou será que eu necessitava de carbono? Poderia respirar por fotossíntese ou simplesmente me combustar ali mesmo, afinal não seria eu o oxigênio? Nada mais fazia sentido. A única coisa que sempre me fazia sentido era o amor, e agora a única coisa é a dor, uma certeza absoluta de uma tristeza enorme... Por quê? Eu não sei, não tenho certeza, os pássaros voavam saindo do teto e tentando me responder, sobrevoavam minha cabeça como pensamentos soltos, sem dono... Mas espera, se eu estava no teto não estariam eles saindo do chão? Cansei de pensar, afastei-os e continuei, continuei confuso. Confuso, aí está outra coisa que sempre tenho certeza, sou confuso, e tenho certeza disso, certeza que não tenho certeza de mais nada além disso, confuso como um antílope ao dar o bote no leão, como o tubarão que voava no escuro. Continuei degrau por degrau, porta por porta, avançando rapidamente até a morte enquanto andava vagarosamente com a mão no peito. As cores começaram a entrar em estado de fusão, e logo em seguida ebulição, só me restará o negro, a ausência, sentei em um degrau e chorei, chorei sem nem saber o porquê. Assustei-me com as mãos que vinham da parede, elas me puxavam sem aviso, pareciam querer ajudar, mas eu tinha medo. Então as afastei também, ergui minhas asas, levantei vôo no meio da escuridão, sem nem respirar, bati contra o chão diversas vezes feito mosca em janela, até que do escuro, passo ao escuro, tudo estava negro e sem que eu houvesse percebido, eu tinha desmaiado. Abri os olhos ainda fracos, olhei entre as cores através da minha visão ainda embaçada, havia ar, havia respiração, havia uma moça passando sua mão em meus cabelos e apoiando minha cabeça em sua coxa, fechei-os novamente, e então já não havia mais nada, não havia mais esforço em respirar, não havia mais vida pela qual lutar...