domingo, 30 de novembro de 2014

VERDE

Vede o mar verde,
Verde a rede de folhas,
Olhas o verde que corre
E escorre tal é a sede da cachoeira.
Beira o verde da montanha
Que se assanha
Ao encontrar o verde do mar.
Vede que todo o verde aqui está.

terça-feira, 18 de novembro de 2014

TEU

É teu o sorriso
Que rasga-me a face
De orelha a orelha,
Como um animal
Com a boca escancarada,
Pronto para devorá-la
Na primeira dentada.
É tua essa sensação
No fundo da barriga,
Essa ansiedade que me devora
Com a vontade de devorá-la.
São teus esses batimentos acelerados,
Esse amor insaciável,
Essa dor que me escancara,
Que me dilacera.
Tudo o que faço,
Tudo o que penso
Tudo o que sinto,
E tudo o que sou.
É tudo, simplesmente, teu.

sábado, 15 de novembro de 2014

TRONCO

As folhas caem no outono
E o inverno rigoroso vem.
As folhas agora são outras,
Sopradas por ventos diferentes,
Trazidos por massas de ar diferentes.
E o sal que jaz neste solo pobre
Não é o suficiente para me matar.
Mas mesmo assim eles querem me derrubar,
Eles vem com suas serras e machados,
Eles aparecem com máquinas cada vez maiores.
Mas eu sou filho de Gaia,
Sou filho da Terra.
Minhas raízes estão bem amarradas
Às minhas convicções,
Mas sempre abertas à novas,
Sempre aberta às mudanças,
À primaveras e  aos outonos,
Às chuvas e às secas.
Mas eles vem novamente,
Querendo que eu entregue a papelada,
Que eu abra espaço pra expansão.
Eles vem com lanças-chamas,
Mas eles já não sabem que as folhas são outras
Que a casca já está rígida
De todos os cortes
Que os outros casais faziam.
Eles não sabem que
Tudo que um dia me queimava,
Hoje me apaga.

terça-feira, 11 de novembro de 2014

GUIA

Até mesmo no escuro deste quarto
Tu me iluminas com tua luz infinita,
Me iluminas a ponto de escrever
Mesmo em um momento desses.
Tu és minha estrela guia,
És um meteorito a lançar
Rastros de poeira cósmica
Para eu seguir.
E se algum dia eu vier a morrer,
Sei que também serás minha Caronte.
Mas hoje, nesta cama,
Tu deixastes que eu fosse o maestro.
Pôs tuas belas mãos nas minhas
E me deixou conduzi-la nessa dança de amantes.
E, meu amor, não há alegria maior
Do que dançar com você,
Do que amar você,
Sem fronteiras, sem limites,
Sem razão ou porquê,
Amar você até que a orquestra cesse,
Que a luz apague,
Que a estrela se torne um buraco negro
E o meteorito perca seu brilho
E seja tragado por tal estrela morta...
Até que Caronte venha e me guie para longe daqui.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

AMANTES

Será que você faz alguma ideia,
Durante este sonho pífio,
Que estou aqui escrevendo e te olhando?
Vendo teu corpo coberto pelo cobertor,
Vendo teus olhos fechados,
Duas jóias mergulhadas
No fluido dos sonhos,
Vendo sua respiração,
Indo... E vindo...
Como calmas ondas em uma praia,
Como nós dóis, momentos antes,
Indo e vindo... E indo... E vindo...
Mas não éramos calmos,
Éramos ondas de tempestade,
Devastando, erodindo.
Éramos amantes,
Carregando amor em nossas ondas.
Somos amantes,
Repousando da forma mais pura,
Da forma mais serena
Que dois amantes poderiam estar.

domingo, 2 de novembro de 2014

AS RUAS QUE ME TOMARAM A POESIA

Acho que em algum beco úmido
Por dentre tantos desta vida seca
Esqueci a poesia.

Em qual ruela fria e cheia de neblina
Em qual esquina suja e mal iluminada
Ficou a poesia que caiu do meu bolso?

Será que furtaram-me a poesia?
Socorro! Furtaram-me a poesia!
Acuda! Acuda! O furtador era igual a mim.

Alguém, ajuda-me a encontrar
As rimas pisoteadas que larguei
Em alguma calçada de mármore.

Alguém, por favor,
Diz que encontrou a metáfora
Que eu abandonei em praça pública.

Já conseguiram achar quem furtou-me a poesia?
Já o disse, ele é igual a mim.
Sim, pode me prender
Fui eu quem esqueci o que é ser poeta.