terça-feira, 26 de janeiro de 2016

A DURA QUEDA DE UMA PENA

Olho pela janela, distraído
E vejo uma pena,
Que cai suavemente
Carregada pelo vento,
Carregada pelo tempo.
Procuro pelo pássaro
Cuja pena sente falta
E o encontro já longínquo,
Em um pleno e belo vôo alto.

Me vejo refletindo
Sobre a diferença
De uma pena em um pássaro
E a mesma agora ao vento.
Certamente, presa à ele,
Tinha um peso e uma função
Que a brisa tratou de carregar.

E quantas coisa nós também
Já não carregamos conosco
Como Atlas segurando o Mundo,
Apenas para descobrir,
Ao deixar o Mundo cair
E o tempo o levar,
Que, na verdade,
Não passavam de penas?

Então nos encontramos
Em pleno vôo rasante,
Que é o máximo que nós,
Seres tão pesados
Em nossas próprias penas,
Conseguimos dar.
Assim como o pássaro,
Que nem percebe ou sente falta
Da pena que perdeu,
Que nem o chão ainda alcançou.

Temos que aprender
A desapegar mais,
Ser menos homem
E mais pássaro,
Pois o que passa,
Nós não podemos prender,
Temos que deixar passar
Como os pássaros passarão
Sem suas penas.
Temos que largar
O que não nos falta
Ou não nos satisfaz.
Pois até mesmo os pássaros quando voam,
Deixam uma pena para trás.

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

VADIA POR UM DIA

Se eu fosse mulher por um dia,
Seria certamente uma vadia.
Entre rodas dançaria,
Entre corpos rodaria.
Faria do meu corpo
O que bem entender,
Afinal, já não é o que eu,
Homem, estou a fazer?
Seria dona de mim
Como de mim,
Já sou dono, sim.
Daria meu corpo
Para quem eu quiser,
Assim como já o faço,
Sem precisar ser mulher.
Mas mesmo assim
O mundo gritaria:
"É vadia! É vadia!"
Vestiria roupa curta,
Ouviria que sou puta.
Puta por ser mulher.
E se algum cara,
Sabe-se lá de onde vier,
Viesse me apalpar,
O apalparia a face
Sem hesitar,
Com o punho fechado
Que é pra aprender a respeitar.
Se eu fosse mulher por um dia,
Sorriria até o Sol nascer,
Sob um coro que não cessaria
Enquanto homem eu não voltasse a ser.
Mas mesmo assim,
Sob tal coro, eu sorriria.
"É vadia! É vadia!"

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

SO(U)RRISO

Minero alegria,
Destilo felicidade,
Extraio das mais simples coisas
O sorriso.
Dos ventos frescos
Nos dias quentes,
Do gramado de folhas
Coloridas caídas no parque,
Do bocejar tranquilo
De um animal na rua,
Do puro sorriso alheio,
Do puro sorrido dela.
Levo a vida tranquilo
E canto com os pássaros
Por onde passo,
Faço o bem aonde eu posso,
Sorrio e amo
Até quem não me pode retribuir,
Até quem não merece
Mais do que educação.
Pra quem já esteve
No fundo do poço
E voltou com vida,
Qualquer melancolia pequena
É motivo de festa,
Qualquer sorriso é gargalhada.