quinta-feira, 28 de novembro de 2013

OS AVIÕES SOBRE O RECIFE

"Atenção, senhores passageiros,
Estamos passando por Recife."

E que passagem essa,
Que meu coração acelera só ao imaginar
Qual dos prédios abaixo seria o seu.

E que passagem essa,
Que deixa aquele desejo de estadia,
Que me rouba o destino final
E me deixa a desejar que ele seja você.

"Atenção, senhores passageiros,
Faremos agora uma escala em Recife."

Que dor saber que aqui estou,
E nada posso fazer
Além de me ver partir.

E que estadia é essa
Que não dura ao menos um dia,
Que não dura ao menos o tempo
De um abraço teu.

"Atenção, senhores passageiros,
Aqueles com conexão em Recife, favor desembarcar."

E que maldita conexão
Que não me da o tempo de te ver,
Que não me conecta à você.

E que maldita ironia,
De estar aqui, pouco tempo,
Tão próximo,
Mas ao mesmo tempo tão distante de você.

"Atenção, senhores passageiros,
Chegamos ao nosso destino final, Recife."

E que besteira minha sonhar
Que a saudade se mata
Com um falar de frases,
Um escrever de textos,
Um simples desejar estar.



terça-feira, 12 de novembro de 2013

VERSOS DE TERÇA

É terça-feira
E vejo os bares todos lotados.
É terça-feira
Mas o barulho dos copos a brindar enche a rua.
É terça-feira
Mas cervejas são derramadas nas mesas
E amigos viram copos inteiros pra saudar
A forma com que a folha da 5ª árvore à direita caiu na mesa ao lado.
Essa cidade não mede dias, não mede doses, não mede o tempo...
Essa cidade não faz sentido...
É terça-feira
E vejo um bêbado sem camisa cantando uma pipoqueira.
É terça-feira
E os estudantes voltam pra casa com seus violões
E seus amores quebrados, vividos, sonhados ou conquistados.
É terça-feira
Mas aguardo o meu amor em casa.
Essa cidade não faz sentido...
Aqui o carnaval dura o ano inteiro,
A boemia é levada à sério demais
E nem mesmo os Sóis e chuvas obedecem alguma lei aqui.
Hoje é terça-feira...
Mas volto sóbrio pra casa.

domingo, 10 de novembro de 2013

PONTE-(A)MAR

Vou olhar a maré,
E ter fé de que um dia
Ela traga você pra mim,
É o fim que nos aguarda.
Então guarda essa reza vã
Que ainda vamos nos ver
Num outro amanhã.

Vou olhar o mar
Que nos separa e nem repara
No sal que joga na ferida
Ainda aberta, esquecida,
Que ainda aperta o peito
Certo de que não vai doer
Nem arder por você.

Não vale a pena jogar sal
Num mar de lágrimas
Por quem já se afogou.
Seria loucura dizer
Que vou nadar o mar inteiro por você?

Vou olhar a maré,
Que vem e vai como a vida,
As mulheres e os amigos.
Que carrega o infinito numa onda,
Que te afoga e te arrasta
Pro fundo do oceano
Que me separou de você.

Vou olhar o mar
Que limpa a pele, que lava a alma,
Que não se acalma enquanto o céu
Não parar de chorar
Pelo encontro de dois anjos
Que voaram o mar
Apenas para se encontrar.

Não vale a pena jogar sal
Num mar de lágrimas
Por quem já se afogou.
Seria loucura dizer
Que vou nadar o mar inteiro por você?

Mar que alimenta,
Que mata de fome,
Que tenta sem fim
Nos tornar homens e tal,
Homens de sal que se dissolvem
Ao chorar no mesmo mar
Que nos ensinou a amar.

Mas não se entristeça
E nem se esqueça
Que o mesmo mar que nos separa
É a ponte que repara a distância,
Que mata a ânsia
Que a gente tem de se encontrar
Para nos amar.

domingo, 27 de outubro de 2013

AMANHECER

Nasce já tarde a aurora
E as horas vão embora.
Sobe o Sol no céu,
Que cobre tudo com seu véu de luz.

Abrem-se os olhos
Que não dormiram,
Fecham-se os olhos
Que não sonharam.

O sonho nu e cru adormece.
Resplandece o Sol
Nos olhos de prece
Daqueles que só querem dormir.

Daqueles que acordam pra rotina,
Pro trabalho sufocante.
A faxina angustiante
É do Sol, sua sina.

Varre toda a noite em sua faxina,
Apaga as estrelas que deixaram acessas,
Adentra o recinto sem nem abrir as cortinas
E sinto como se tirasse de mim a poeira.

Besteira pensar que o Sol vive pra gente,
Crente, desiludo-me ao ver o Sol poente,
Deixando para trás sua aurora
Para depois vê-lo nascer novamente.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

QUANDO VOCÊ VIER

Quando você vier,
Antes mesmo de chegar,
Vou ansioso estar,
Esperando minha mulher.

As comidas mais caras irei comprar,
Mas é a sua escolha que vou aceitar,
Então de tudo vou desistir,
Pois sei que é a pizza na geladeira que vai preferir.

Vou comprar velas e um bom vinho,
Pôr incensos em todo o AP,
Te encher dos mais plenos carinhos
E dormir olhando você.

Vou pedir com aquele olhar cabisbaixo
Pros vizinhos falarem mais baixo
Para eu poder ouvir seus gemidos de amor,
Debaixo do cobertor.

Vou te mostrar todos aqueles lugares
Que um dia sonhei mostrar,
E te beijar em todos locais
Que um dia sonhei beijar.

Feliz vou permanecer
Durante o tempo que te anteceder,
E triste vou estar
Se algum dia me deixar.

Vou te esperar de pé,
Permanecer feliz a vida inteira,
Vou sonhar tantas besteiras,
Quando você vier.

domingo, 20 de outubro de 2013

PHOTOPHOBIA

Damn this photophobia,
Leaving me alone in the dark.
Damn this fear from this intense light
That hurts my eyes.
Damn this photophobia,
I can't stare directly at her.
Damn this fear from her,
She can illuminate my heart.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

PRA PREENCHER O CADERNO

Eu não sei mais escrever.
As engrenagens travaram
E o sistema ficou confuso.
Me vêm umas frases, uns lampejos,
Um pequeno fiapo de poesia
Que passa e se esvai.
Tento pôr minha inspiração no papel
Mas as palavras vacilam,
A conjuntura textual é feia.
Tiro as rimas, tento fazer algo sem métrica,
Sem muito padrão,
Pra ver se fica mais fácil, se flui,
Se não sou eu quem estou me forçando.
Virei escritor de frases, de textos pela metade,
Virei sonhador de realidades.
Não me faltam histórias,
Não me faltam sentimentos,
Emoções, acontecimentos e nem inspiração.
Mas as palavras travam,
A tinta falha e o pulso dói.
Estou ficando agoniado e desesperado,
A inércia poética me consome,
O sedentarismo literário me corrói.
Tenho tantas histórias,
Tantos pensamentos,
Tantos sentimentos e emoções
Gritando para serem carimbados em um papel qualquer...
Mas tudo que consigo é esse desabafo, essa metalinguagem,
O meu velho conselho de escrever sobre o não-escrever,
De escrever sobre a falta de inspiração
Ou seja o que for que te trave
E esperar que assim as travas sejam desfeitas,
Lubrificando as palavras
E fazendo as engrenagens voltarem a rodar.
Pra que assim minhas frases, inspirações e textos pela metade
Possam sair da minha cabeça e correr como um rio para os dedos,
Descendo como em uma cachoeira até o papel.
Pra encher meu caderno,
Pra esvaziar minha cabeça,
Pra me fazer escritor de textos completos.

sábado, 21 de setembro de 2013

AMOR AO FRACASSO

Eu, que amo desenhar,
Não sei nem contornar a própria mão.
Eu, que amo tocar,
Sou um fracasso no violão.
Eu, que amo dançar,
Não tenho ritmo e nem coordenação.
Eu, que amo cantar,
Não tenho voz bonita e nem bom tom.
Eu, que amo escrever,
Só faço rima com "ão".
E eu, que amo amar,
Às vezes julgo nem ter coração.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

SAMBA DO ESQUECE(DOR)

Meu coração ta batendo no ritmo do bumbo
Meu pé ta voando ao som do cavaquinho,
Eu tiro o chapéu pra moça la no canto
E depois de uma dança eu saio de fininho.

Querida, nem repara que o quadril se mexe
Nessa dança eu vou sambando muito bem sozinho
Eu vou seguindo o bloco pela Zona Sul
E já no fim do dia eu sigo o meu caminho.

Abre alas, amor,
Abre alas, querida,
Abre alas que eu vou sambar
O quanto você ta esquecida.

Vou conduzindo o bloco até a tua rua,
To indo sambar bem no meio da tua avenida,
Eu vou sambar bonito bem na tua cara,
Que esse carnaval vai marcar a tua vida.

Querida, não sei sambar mas eu sei pisar
E em você eu vou pisando com muito jeitinho,
Não vem me mostrar seu samba superficial
Pra no final da noite vir me pedir carinho.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

NÃO MAIS O GAROTO DO COLAR COM UMA PALHETA DOS BEATLES

   Acabei por perceber um dia que meu amado colar da palheta dos beatles não se encontrava mais em meu pescoço. Sem eu nem notar, aquela palheta foi perdendo a cor, ficando esbranquiçada até que caiu. Assim como eu, assim como aquele garoto bom e gentil que tinha aquele velho sonho de fazer as pessoas sorrirem. Ao perder a palheta eu perdi uma parte de mim, perdi uma promessa e não fui capaz de cumpri-la. Perdi a parte de mim que eu gostava de pegar e olhar para simplesmente me lembrar quem sou, e lembrar acima de tudo os meus valores... Sinceridade... Palavra... Quando foi que comecei a quebrar promessas? E "All You Need Is Love"... Do que vale dizer se já não sinto há tanto tempo? Sem minha palheta pra me lembrar quem sou eu acabei me tornando alguém diferente, mais filho-da-puta, menos gentil, menos paciente... Mas ai percebi que não... Eu estava me tornando essa pessoa aos poucos, por isso a palheta perdia a cor. Eu não a perdi, apenas não a mereço mais. Mas acho que já não preciso daquela palheta velha pra me lembrar quem sou, agora tenho ela. Sim, ela me faz ser alguém melhor, ela me faz voltar a acreditar no amor e em todos aqueles sonhos bestas e infantis que eu gostava de acreditar. Eu não preciso nem olhá-la, eu simplesmente sinto-a em todos os momentos e o simples pensar nela já faz com que eu me sinta um pouco mais eu. Acho que está na hora de pôr outra palheta no pescoço e fazer novas promessas. E que dessa vez durem pra sempre. E que eu não precise olhar prum objeto pra lembrar o que é certo ou quem sou, que eu precise apenas pensar nela...

domingo, 1 de setembro de 2013

PEDE UM SAMBA

Pede um samba
Que meu pé de samba
Quer sambar por aí.
Quer esquecer,
Não quer sofrer,
Quer amar.
Quer mostrar que sabe rodar.
E rodando vai por entre outras mulheres,
Até se desfazer em samba,
Bambas pernas de sexo e samba.

Pede um samba
Que meu pé de samba
Quer sambar por aí.
Quer se divertir e sorrir,
Quer sentir o Brasil na pele
E a mulher no corpo.
Quer sambar um pouco
Porque ta morto dessa vida sem cor.
No samba não há dor
No samba não há dor.

sábado, 24 de agosto de 2013

O LAÇO DA TUA SAIA

Faço o passo à passo,
E com um compasso
Eu refaço os seus passos
Que são um círculo infinito.
Visto que despercebido
Eu não passo,
Eu não sei mais o que faço
Pra acabar com esse espaço.
Eu refaço o contrapasso
E tento alcançar o laço da sua saia.
Caia, mas por favor não vaia
O meu fracasso porque meus passos
Foram só pra te seguir.
Fico no espaço vasto
Que me permitir
Roubar o laço da tua saia
E te ver sorrir.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

TUA CASA, MINHA MORADA

     Escrevo-te aqui o que teus ouvidos por tanto tempo se recusaram a ouvir de meus lábios, as palavras que guardo desesperadamente comigo aqui dentro. Amo-te. Quero-te, quero teus cabelos que sonho alisar, toda sua face bela e serena, teus seios que anseio para dormir recostado à eles, tua mão para que se prenda à minha, teus dedos para alisar-me a face e tuas pernas para elevar minha libido. Mas acima de tudo anseio por duas coisas, pelo teu coração, para alegrar-me a alma e retribuir-me o amor, e pelos teus lábios, para selar este meu sonho tolo que é tê-la. Sei que estás deveras machucada, mas peço que isso não lhe impeça, peço para que abra-me as portas do teu coração e me deixe entrar, não lhe peço-o por completo e nem lhe peço moradia, teu coração é tua casa e tudo que lhe peço é uma visita. Quero te provar que eu posso fazer você ser uma pessoa mais feliz, que posso consertar os danos dessa tua casa. Posso reerguer quatro paredes para a gente, posso consertar o vidro quebrado daquela janela e até pôr-lhes novas cortinas. Posso ajeitar aquele pé torto da sua mesa de jantar e lustrar todas as cadeiras. Posso pintar as paredes que estão descascando e até mesmo consertar a televisão. Posso lavar tua louça e tuas roupas sujas, tirar a poeira e as lágrimas que estão embaixo do tapete ou atrás dos móveis. Posso ser teu eletricista, encanador, marceneiro, arquiteto, pedreiro, ou qualquer outra coisa que lhe reerga a alma, só lhe peço como pagamento que chames o chaveiro para que mudes a fechadura de forma que se ajuste à minha chave. Amo-te, e por isso quero, acima de tudo, provar-te todas as palavras aqui escritas, amá-la por inteiro e todos os dias e pagar, assim, o aluguel dessa casa que pretendo morar. Isso tudo há de ser apenas o mínimo que posso fazer por ti. É o mínimo que posso fazer por quem entra dessa forma na minha vida, encarando-me com esses teus olhos gentis e reestruturando todo o desmoronamento da minha moradia sem ao menos tentar. Entrastes para devolver-me à mim mesmo, para lembrar-me quem sou e lembrar-me o que tenho. E o que tenho é amor, depois de tanto tempo eu o tenho novamente, o tenho por ti. E por isso devo-te todos os agradecimentos, todas as pobres recompensas de quem acaba de reconquistar sua casa. Fizeste tudo isso por mim, então o mínimo que lhe peço é que me deixe agradecer, fazendo-lhe o mesmo que me fizeste e um pouco mais, amar-te.

domingo, 11 de agosto de 2013

CRIA(TI)VIDADE

Até pouco tempo atrás
Eu havia de ser um poeta, um escritor.
Me inspirava pelas grandes e pequenas coisas,
Fossem minhas ou de outros.
Mas então que me aparece você,
Com todo seu ciúme dos meus outros assuntos
E dos meus outros poemas,
E me rouba a inspiração, a criatividade.
Virei um escritor egoísta,
Já não tenho empatia pela história dos outros,
Apenas pela nossa.
Já não tenho interesse na beleza da vida,
Apenas na tua.
Todos os meus versos viraram sobre você,
Todas as estrofes viraram sobre nós,
Todas as minhas rimas forçadas
Terminavam com o seu nome
E todo o texto tinha a sua assinatura ao lado da minha.
A poesia virou minha cria à ti, vida,
De fato, minha criatividade é toda tua.
Me tornei uma fraude,
Um desabafador que escreve à dois.
Já não sou poeta,
Não sou escritor algum,
Sou apenas um amante.
E a pior parte disso, querida,
É que eu gosto.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

MADRUGADA VAI, EU FICO, MADRUGADA FICA, EU VOU

Meu amor, olha lá
Que vem chegando a madrugada,
A minha hora já é dada
E agora devo partir.
Olha lá que já ta tarde,
Não tarda pro sono vir.
Sei que você não pede pra ficar,
Mas é minha escolha demorar
E roubar um pouco mais do teu olhar.
Só lhe peço um beijo de boa noite
Pra poder dormir uma noite comprida,
Sonhar sonhos contigo
E acordar de bem com a vida.
Que amanhã acordo cedo,
Alguém tem que pôr comida na mesa
E um anel no seu dedo.
Olha lá, meu amor,
A madrugada já vem vindo,
Vamos seguindo o nosso caminho
Que nosso destino final
Espera nos ver dormindo juntinhos.

OLHOS DE MARFIM

Ah, minha querida, meu amor,
Meu anjo de marfim,
Minha dama cujo nome me clama,
Não me dissestes o queres de mim.

Não que tenha dito eu,
Mas deixo claro à ti e à todo o réu,
À todos os detetives e leitores desse velho papel,
Os sentimentos e intenções que pra ti guardei.

E nem precisei jogar a garrafa no mar
Pra alcançar o horizonte desses teus olhos frios,
Apenas precisei em silêncio gritar
Para ver chegar a mensagem que para ti guardei.

E vendo-lhe ler a mesma carta na qual chorei,
Com esses teus olhos vazios de marfim,
Frios, duros e opacos como teus sentimentos por mim,
Penso que devo, talvez, desistir.

Desculpa se minhas conclusões são errôneas,
Mas o que mais reservaria o meu fim?
Se apenas vejo-te me afastando,
Não seria também o teu coração de marfim?

Brincando friamente com o meu
Nesse jogo sem fim
Onde eu não sei nem as regras,
Apenas rezo e peço trégua.

Perdão, perdão por atribuir-lhe pensamentos tão ruins,
Estou retornando à costa
E saindo do mar dos teus olhos duros.
Talvez nem ouças mais falar de mim.

Mas se não é o que queres então mande-me um sinal
Uma correnteza ou uma onda desenhada nos teus olhos opacos
Que me faça desistir de pensar-lhe mal
E remar de volta à teus olhos de marfim.

Em mim, sabes bem,
Que por ti só há amor,
Talvez algum dia ainda me permitas
Ver teus olhos com outra cor.

Mas por hora,
Te olho e só enxergo marfim,
Mar fim,
Mas, fim.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

EU, VOCÊ E O NOSSO RELÓGIO

Eu aqui contando as horas,
Olhando para aquele relógio
E vendo seus olhos me encarando
E fazendo tic-tac.
É fato que nosso tempo vai chegar,
Mas ainda assim eu fico olhando o relógio
E resistindo ao impulso de ir adiantar as horas,
Embora saiba muito bem
Que não podemos ficar adiantados no tempo.
Pra tudo tem a sua hora e a gente também tem a nossa.
Mas essa hora é você quem diz,
É você quem vai lá toda manhã atrasar aquele relógio
Apenas para que seus olhos me encarem mais um pouco.
Aí eu te olho decepcionado e você ri
Como se isso tudo fosse só uma brincadeira.
Mas não se brinca com o tempo
E não se brinca com um coração.
Só espero que você não adie para sempre a nossa hora,
E peço que quando, e se, ela chegar,
Você adiante o relógio,
Compensando assim o nosso tempo perdido.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

8 DIAS SEM ELA

Eu estive vazio por tanto tempo,
Meu coração era a casa abandonada
Que você encontrou naquele dia de sábado.
Era como uma casca cheia de ar,
Sem haver se quer uma mulher que a fizesse pulsar,
Até que você veio a preencher naquela tarde de domingo.
Eu, por tanto tempo,
Não fui eu mesmo.
Eu guardei para alguém,
Não sei quem,
O eu que eu havia deixado de ser.
Você pode ser aquela quem espero há tanto tempo,
Percebi que poderia ser você naquela manhã de segunda.
Então eu achei que eu poderia ser eu mesmo,
Mas só eu mesmo não é o suficiente pra você.
Acho que você prefere outra pessoa,
Foi o que percebi naquela noite de terça.
Acho que você prefere outra coisa,
Guardando pra si os seus planos secretos para mim
E silenciando tudo que lhe aflige.
Só peço que me conte seus problemas,
Sua vida, sua história.
Vamos nos conhecer melhor,
Vamos falar sobre nós mesmo num pôr-do-sol de quarta.
Eu posso ser o mais fiel dos teus ombros
E o mais compreensível dos teus ouvidos,
Só peço que me deixe ser o único dos seus lábios.
Deixa eu te ouvir, te falar,
Simplesmente fazer você sorrir.
Deixa eu ser o teu amigo nesta tempestade de quinta.
Mas se teus lábios não se abrem à minha boca
Ao menos deixe que se abram aos meus ouvidos.
Eu posso ouvir suas confissões debaixo do meu guarda-chuva
Que uso pra proteger só a você
De uma chuva de sexta.
Quem sabe um dia eu não te faço mudar de ideia,
Quem sabe um dia você não me ame
E a gente se beije numa madrugada de sábado.
E quem sabe depois nós não veremos o amanhecer de um novo domingo.

domingo, 7 de julho de 2013

SOBRE A SUA NUDEZ

Sempre achara teu corpo perfeito,
Não apenas do pescoço para baixo,
Mas você inteira é meu deleito.
Era o meu sonhar cabisbaixo.

Mas tudo mudou naquele momento
Em que, atento, vi você me atirar na cama
E deixar teu vestido cair ao chão,
Me dando a mais perfeita visão.

Eu nem me importei de ter sido eu o atirado
Ao invés da dama,
Pois durante esses segundos demorados
Me clamava a tua chama.

Os seios, belos e fartos,
Levemente cobertos
Pelos cabelos dourados,
Eram um pecado certo.

Deixou-me boquiaberto
Com essas tuas pernas e coxas,
Minha libido estava louca,
Meu corpo a queria toda.

Fui chamado
Pelo calor que tinha entre tuas pernas,
Hipnotizado, puxei-a com ardor
Querendo consumir aquela vontade eterna.

Pus uma mão em teu seio com fervor
Enquanto a outra apertava tuas costas contra mim
E assim beijei-a com vontade e desespero,
Deixando minha língua lutar contra a tua, enfim.

Inspirei e senti teu cheiro,
Teu perfume de jasmim
Me embriagava por inteiro,
Era o cheiro do nosso amor primeiro.

Girei-a contra a cama,
Deixando-a por baixo de mim,
E despi-me por completo,
Deixando ambos nus, enfim.

Enchi teu corpo de afeto,
Assim, a mão que estava no seio
Desceu às nádegas,
E a língua que estava na tua, desceu, cálida.

Desceu ávida a encontrar
Aquele calor que tuas pernas guardavam,
E assim, terna, a achou,
E lá demorou até que as pernas choraram.

Então projetei-me sobre ti
E senti teus dentes quando a penetrei,
Penetrei-a uma vez, duas, três,
Penetrei-a até que seu gemido final me satisfez.

E então caí ao seu lado e fiquei,
Lado à lado respirando cansado,
Imaginando o que isso tinha significado,
Mas as dúvidas evitei.

Olhei diretamente em teus olhos
Acariciei tua face suavemente,
E, carinhosamente,
Me inclinei e te beijei.

Tua nudez hipnotizou minha mente,
É o que ela faz comigo,
Um desejo infinito,
O amor que meu coração sente.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

SOBRE AMORES E CIGARROS

Não sei porquê insistes em dizer que somos tão diferentes,
Talvez o teu hollywood azul não combine com o meu marlboro vermelho.
Talvez o amor seja como um cigarro,
Você o traga uma vez
E depois a vontade só aumenta,
Você quer tragar a segunda, a terceira,
E quando você menos percebe já é um fumante,
Já é um amante.
Já está tragando a pessoa com tanta vontade e prazer,
Inspirando-a e puxando-a pro coração...
Tem gente que consegue prender o ar,
Mas a maioria acaba soltando...
Às vezes você quer parar mas o vício não te permite,
Às vezes você quer fumar mas não tem nenhum cigarro,
Não tem nenhum amor pra você.
Foi por isso que você me disse que estava tentando parar,
"Quero parar,
Quero sair do vício,
Isso faz mal".
Mas eu sempre digo que é melhor morrer com câncer de coração
Mas morrer tendo amor,
Do que viver com o coração limpo e vazio.

domingo, 30 de junho de 2013

MADRUGADA

Nesta madrugada
Nada me desconcentra,
Nesta noite pobre
Tu és a minha venda.

Nesta madrugada
Nada me cobre,
Nossas roupas jazem no chão
Depois de bebermos aquele odre.

Nesta madrugada
Nada é em vão,
Qualquer palavra ou tentativa
É feita com razão.

Nesta madrugada
Nada me esquiva,
Minhas mãos te prendem à mim
Enquanto faço com que se sintas viva.

Nesta madrugada
Nada tem fim,
Nosso amor infinito
Da luz àquela sala de marfim.

Nesta madrugada
Nada foi dito,
O olhar era uma palavra
De sentimentos mistos.

Nesta madrugada
Nada me trava,
Mesmo preso àquela sala,
Eu ainda te admirava.

Nesta madrugada
Nada me cala,
É simplesmente normal
Amá-la.

Nesta madrugada
Nada é real,
É tudo uma ilusão,
Fruto do desejo carnal.

Sim, carnal,
Mas não me julgues não,
Afinal, não seria feito de carne
Também o coração?

domingo, 23 de junho de 2013

LIVRE PARA VIVER

Acho que talvez até pareça covardia vir te dizer com uma caneta o que poderia ser dito com os lábios, mas acho também que se olhasse para seus olhos ao te dizer isso meus lábios falhariam e perderiam a tinta. Tenho que te dizer que você é o amor da minha vida, sempre foi, desde aquele "oi" até depois daquele "adeus". Mas dói-me dizer o que todos sabemos: talvez jamais ficaremos juntos. Quem sabe em um futuro muito distante talvez. Então só resta acreditar naquela promessa de que nos reencontraríamos depois de anos, mas eu tenho medo do que possa acontecer durante esse tempo. O "pra sempre" é uma incógnita de uma função de duas variáveis indefinidas e é fato conhecido que o tempo dessa promessa é inversamente proporcional ao "pra sempre". É muito tempo pra esperar por você sozinho. São muitas pessoas pra conhecer, muitas pessoas para eu conquistar, muitas pessoas para me conquistar. São muitas oportunidades e probabilidades que tenho medo de tentar. Acho que tenho medo de te esquecer, tenho medo de que ninguém seja tão bom pra mim quanto você foi, ou talvez meu medo seja que alguém seja tão bom quanto você, eu não sei ao certo. Não é nada contra você, querida. Mas sabemos que paciência não é uma virtude minha e que solidão não é um gosto meu. Por isso eu arrisco todas as chances que me são dadas, mas sempre com um pé atrás, sempre com aquele maldito pé que não sai da nossa cama, que insiste em te esperar lá ainda. Eu arrisco cheio de medo os lábios que me são oferecidos e espero não amar nenhum deles. Acho que está na hora de parar de me preocupar com a possibilidade de você me odiar, ou com a probabilidade de eu te esquecer. Está na hora de viver o tempo preciso até que a hora prometida chegue, e simplesmente viver sem medo. Eu quero ser livre para amar e isso é tudo o que eu tenho a dizer.

terça-feira, 18 de junho de 2013

A CORRUPÇÃO CUSTA SÓ VINTE CENTAVOS

   As ruas estão cheias, o movimento não para. Não é só os vinte centavos, não é só o aumento, é toda a história, toda corrupção acumulada em anos de silêncio e postagens de reclamação. É, eu que sempre duvidei vi com meus próprios olhos o Brasil sair de trás das suas telas de computador, vi com meus próprios olhos o Brasil se levantar e lutar pelos seus direitos e pelo que é certo. Eu vi o Brasil acordar. Eu vi milhares de pessoas à minha volta gritar pelos seus direitos e gritar com paz.

   No papel somos um país democrático, mas cadê a voz do povo nas decisões? Será que a nossa única participação é o voto (em quem escolhemos para nos roubar) ? Eles tentam nos calar quando falamos, quando damos nossa opinião e, principalmente, quando vamos de encontro à eles. Não somos uma democracia, somos uma ditadura implícita, somos uma "capitalismocracia" onde uns poucos mandam e controlam tudo visando seus próprios lucros. Fazemos parte de um país onde os maiores criminosos - aqueles que governam - ficam impunes. Onde a educação é falha, onde políticos ineficientes ganham milhões e professores dignos ganham uma miséria.

   Por isso venho aqui pedir todo o apoio possível, fazer deste movimento um ato de mudança no Brasil, por menor que seja. Não seremos uma revolta qualquer ou uma revolta por um motivo besta. Seremos uma daquelas que entrará para a história! Venham para as ruas, venham para as janelas! Apoiem da melhor maneira possível, pois estamos tentando mudar o seu país, estamos tentando devolver os seus direitos! Vamos gritar de forma pacífica tudo que ficou entalado por anos na garganta! Porque algum dia ainda estaremos no livro de história dos nossos filhos!

quinta-feira, 6 de junho de 2013

COMPANHEIRA SAUDADE

Houve um dia em que tudo tive de mudar,
As pessoas, as coisas, os amigos,
O próprio lugar mudou de lugar.

E com isso veio a saudade,
Aquele sentimento que todos conhecem,
Que tudo invade.

Que puxa lágrimas aos olhos,
Como uma criança perdida
Puxando as mangas de um adulto num velório.

E assim foram seguindo meus novos dias,
Cheios de tristeza e músicas tristes,
Achando que essa saudade jamais acabaria.

E toda vez que me via naquela vida antiga,
Com todos meus velhos amigos,
A saudade simplesmente sumia.

Fez-se então um ciclo, com o tempo,
A saudade virou rotina e costume,
Hoje eu já quase não lamento.

Faço da saudade minha companheira e amiga,
Ela está sempre lá para lembrar
Que ainda amo cada um que deixei naquela vida antiga.

E agora quando retorno àquele lugar quase esquecido,
A saudade fica até com ciúmes,
Eu a esqueço num canto e já não choro com ela
Ao invés disso vou sorrir com um amigo.

domingo, 2 de junho de 2013

SOU O REFLEXO DO QUE TU ÉS

És a mulher da minha vida,
Em teu peito abriga
Meu coração
Que já não briga.
Sustenta vigas
Nessa relação
Já tão querida.

Mas se és o vento,
Me faço atento
À tuas calmarias
E tormentos.
E não lamento
Por ser fria,
Pois a ti esquento.

Mas se tu és rosa,
Te faço uma prosa,
Ó bela dama,
A mais formosa.
À desabrochar nervosa
Na minha cama,
És vida nova.

Mas se tu és minha,
Jamais ficarás sozinha,
Amor, te faço eterna
Companhia.
Talvez até faria
Da tua perna
Eterna moradia.

Mas se és apenas tu,
Sou também apenas eu,
O homem que tu fizeste teu,
Com o coração que há tanto tempo,
Já não é meu.

terça-feira, 28 de maio de 2013

EU - VOCÊ = SAUDADE

E às vezes eu me pego aqui
Pensando em você,
Na minha vontade de te ter pra mim,
Nas saudades de te ver.

Penso em tudo que faria,
Em tudo que diria e calaria,
Nas brincadeiras infantis
E nas coisas que não fiz.

Nas poesias e cartas que recitei,
Nos beijos que roubei,
E nos tapas que senti...
Saudades de você aqui...

Queria te ver novamente,
Sentir você me abraçando até tirar o ar,
Rir do jeito tolo que você mente,
E principalmente de te beijar.

Pôr suavemente na sua face a minha mão,
Sentir tua língua na minha,
Aperta-lhe as coxas com tesão
E simplesmente ter-lhe todinha.

De jogar você na cama
E suas roupas no chão,
De acender toda essa chama
E sentir sua paixão.

Sinto saudades de um sussurro no pé-do-ouvido,
De um gemido contido,
De um beijo apaixonado,
E de nós dois, lado à lado.

Sinto saudades de você na minha cama nas madrugadas,
De acordar nas alvoradas,
De um beijo de bom dia
E da sua pele fria.

Sinto saudades de você,
De cada parte e cada inteiro,
Do último beijo e do primeiro,
De todo o eu que você me faz ser.


segunda-feira, 20 de maio de 2013

UM BRINDE

Que jamais esquecemos o gosto da bebida,
Seja boa ou ruim,
Porque sabemos que ela será nossa amiga
Do começo ao fim.

Que jamais esquecemos o gosto que o álcool tem,
E da nobre sensação que ele traz,
Uma sensação capaz de te levar além
Do que você geralmente é capaz.

E que, principalmente, jamais esquecemos dos que conosco estão a brindar,
Dos que levantam seus copos em nossa presença,
Porque os amigos são para se preservar,
Mesmo apesar de todas as desavenças.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

EFEITO DO(R)MINÓ

Atrás de todo homem que ilude
Existe uma mulher que partiu seu coração e riu.
Atrás de toda mulher que parte corações e ri
Existe um homem que a usou.
Atrás de todo homem que usa
Existe um pai que o mal-educou.
Atrás de todo pai que mal educa
Existe uma esposa que deixa a cama vazia.
Atrás de toda esposa que deixa a cama vazia
Existe um marido que a destrata.
Atrás de todo marido que destrata
Existe uma mãe que o humilhava.
Atrás de toda mãe que humilha
Existe um pai que bate.
Atrás de todo pai que bate,
Existe uma mãe que morreu.
Atrás de toda mãe que morre
Existe um homem que mata.
Atrás de todo homem que mata.
Existe uma mulher que trai.
E atrás de toda mulher que trai
Existe um homem que ilude.

As coisas parecem mais fáceis quando culpamos alguém pelo monstro que nos tornamos...

terça-feira, 14 de maio de 2013

COMO TUDO PERDEU SUA COR

Acho que estou ficando velho, pai,
As coisas não tem sido as mesmas,
As coisas perderam seu brilho, pai.
O amor perdeu a luz,
A paixão perdeu a cor...
O fogo perdeu seu calor,
A coragem perdeu sua força
A força perdeu seus motivos
E os motivos perderam suas certezas.
É assim com você, pai?
O mundo gira e eu não sei qual direção sigo,
As folhas mudam e as páginas passam
Mas eu não sei quais palavras eu uso para as preencher.
Eu não sou nenhum poeta, pai.
As palavras são velhas e sem beleza,
As rimas, quando usadas, são clichês
E a caneta é só uma caneta qualquer e barata...
Ela não é uma pena,
Não dá asas aos meus pensamentos e sentimentos,
Não faz voar meus textos.
E mesmo àqueles que chegam a voar são apenas aviõezinhos,
Nenhum chega a ser um origami... Um pássaro batendo asas.
Vê? Até as metáforas perderam a graça, pai.
Pouco a pouco as coisas se perderam,
E fui com elas perdendo a cor,
Tornando-me gradativamente um ser acinzentado
Que aos poucos tornar-se-a preto e branco.
Torno-me o que as coisas tornaram-se,
Torno-me a forma com que as vejo,
Torno-me o nada que tudo passou a ser para mim.

sábado, 4 de maio de 2013

SE AMAR EM SEGREDO

Um beijo
Depois de ter se certificado de que ninguém está olhando.
Uma pequena atuação
Para todos terem certeza de que não nos gostamos tanto assim.
Uma discussão aqui e outra acolá
Apenas para dar vida à nossa mentira.
Vozes sussurradas
Pra ninguém saber que é com você que falo.
A maçaneta girada com cuidado
E passos de leve
Pra não acordar os que ainda dormem.
E só para ter certeza,
Uma mão na sua boca para abafar um orgasmo.
Debaixo de véus e mentiras
Nós nos amamos.
Durante o silêncio e a solidão
Nós nos amamos.
Sempre em segredo,
Sempre em segredo.
E depois de tudo,
Uma despedida antes do Sol nascer,
Porque ninguém pode saber que esteve aqui.
Entre a noite e suas sombras
Nós nos amamos.
Mas é tudo em segredo,
É tudo sempre em segredo.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

FECHOU POR FORA O QUE DEVERIA SER MANTIDO ABERTO POR DENTRO

Fechou a porta
Para não entrar mais ninguém,
Mas ninguém saiu também.

Fechou a janela
Para não ouvir o vento,
Mas ainda ouvia seus lamentos.

Fechou as cortinas
Para não ver a avenida,
E não viu também a vida.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

FRUTO PROIBIDO

O fruto proibido é doce,
Mas as regras não foram feitas para serem quebradas,
Pois isso seria apenas um fruto azedo.
O fruto proibido é doce
Pois é necessária a coragem para prová-lo.

O fruto proibido é doce
Assim como os corpos que os comem e se comem,
Como as bebidas fermentadas e destiladas de tal fruto.
Tão doce quanto o mel que jaz entre as pernas de uma mulher,
Quanto a droga que corre de mão em mão, de boca em boca.

O fruto proibido é doce,
É doce para aqueles que sabem degustar.
Para os que não, é apenas um fruto longínquo no topo da árvore.
Uma dúvida inalcançável,
Uma tortura repleta de medo e incertezas.

Mas o fruto que também é doce pode azedar,
Porque o doce vicia e nos sobe a cabeça.
O fruto é doce mas não sabemos aproveitar,
Não sabemos armazenar e nem a hora de parar.
Ele azeda porque não sabemos comer.

O fruto proibido é doce,
É doce demais para essas nossas bocas sem sal.

quinta-feira, 21 de março de 2013

AMANDO MENTIRAS

Você tentou, você apostou,
Jogou suas fichas favorecendo sua mentira
E acreditando nas chances matemáticas.
Achava que fingir ser alguém diferente ou melhor
Ia conquistar meu coração.
Então rolou os mesmos dados que sua vidente havia rolado,
Você tinha certeza que nessa aposta
Levaria não só a felicidade e as lágrimas que apostou
Mas também o coração que eu havia posto em jogo.
Você entrou nesse jogo
Com um personagem que não era você,
Você trapaceou no jogo do amor.
Você fez tudo isso e ainda levou um pouco além.
E eu? O que hei de fazer?
Eu me apaixonei por uma mentira.

segunda-feira, 4 de março de 2013

BAILE DE MENTIRAS

Me arrumo para uma festa e me olho no espelho
Mas não vejo o que queria ver.
Onde está aquele traje formal?
E aquela máscara que encomendei quando criança?
Me pergunto mas não me encontro...
Me contento e saio mesmo assim.
Mas então olho pros DJ's e penso...
Onde estão as bandas e as orquestras?
Onde esconderam os violinos?
Talvez tenham roubado de nós...
E essa platéia... Essa multidão...
Onde está o baile que me foi prometido?
Cadê a valsa que antecede um beijo?
Onde foi parar o "me concede a honra desta dança, minha dama?"
Cadê a beleza que os filmes me prometeram?
Onde estão os cavalheiros?
Deitados em suas camas numa hora dessas?
Lamentando um coração partido e se afogando em rum, talvez.
Procuro uma dama com um vestido reluzente e sedutor,
E uma máscara que seja de mistério,
Uma daquelas que esconde o rosto mas deixa o olhar.
Estou cansado dessas máscaras que escondem a personalidade,
Dessas que não são máscaras, que são mentiras,
Por isso joguei a minha também no lixo.
Aqui as coisas são agitadas, sem luz e sem brilho.
Onde puseram as taças? E o champagne?
Cadê o vinho derramado sobre as roupas?
E as roupas no chão que não foram lavadas?
Cadê o sexo apaixonado? E o acordar juntos?
Por que nos roubaram toda essa beleza?
Toda aquela música, as danças e as luzes?
Eu vou fazer meu próprio baile,
Com máscaras enfeitadas e roupas reluzentes,
Vou pagar o resgate do violino
E contratar o resto da banda.
Vou levar meu amor pra dançar valsa.
E tudo vai ser tão belo quanto deveria,
Quanto prometeram, quanto roubaram.
Vou fazer o meu próprio baile...
Nem que seja para eu fazer par comigo.

sábado, 2 de março de 2013

DIMINUIR DISTÂNCIAS NÃO AS ANULAM

É estranho como diminuir uma distância tão grande
Ainda deixa um encontro impossível.
Às vezes queria poder simplesmente me teleportar,
Aparecer aí sem mais nem menos
E ignorar toda a distância que a vida põe entre a gente.
Mas eu nada posso fazer,
Além de olhar pelo telhado do meu prédio
Imaginando pra que lado fica sua cidade,
Se você também estaria olhando pro céu agora,
E se o céu aí está tão belo quanto o daqui.
Olho pra praia desejando ao vento
Que ele carregue um punhado de areia até aí,
Apenas para te sujar e te deixar irritada.
Ou até mesmo que o vento carregue um lamento cheio de saudades
Para beijar-lhe os pulsos ou as bochechas.
Me frustra saber que diminuí muito mais que a metade da distância,
Mas que ainda assim você está tão longe.
Me frustra saber o quanto é difícil ter você por perto...
E que provavelmente isso nunca vai mudar...

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

ENTRA PRA FICAR

Entra, vem tomar um chá comigo.
Entra, deixa eu ser seu abrigo.
Entra, não peço nem educação,
Pode gritar teu palavrão,
Amaldiçoar a ocasião,
Jogar tuas roupas no chão.

Mas só prometa que não vai partir daqui...
Mas só prometa que não vai fugir de mim...
Mas eu quero a tua opinião sincera
Sobre aquilo que um dia fez você ir...

Diz, pra que tanto tempo debaixo de chuva?
Diz, se isso é mesmo uma ruga?
Diz, é mesmo preciso essa dor?
Levar embora meu calor?
Me bate à porta o meu amor,
E eu digo entra, por favor.


Mas só prometa que não vai partir daqui...
Mas só prometa que não vai fugir de mim...
Mas eu quero a tua opinião sincera
Sobre aquilo que um dia fez você ir...


Fica, deixa eu secar tuas roupas molhadas.
Fica, que essa guerra já ta acabada.
Fica, deixa eu tentar te convencer,
Em uma noite prazer,
Só assim vai entender,
Que eu também amo você.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

NÃO SE JOGA O QUE NÃO É UM JOGO

Sou teu único espectador,
Por detrás das cortinas assisto tua peça
Enquanto atuas com tanto fervor
Esperando que nada te impeça.

Não te assisto por prazer,
Assisto apenas por querer ver,
Ver o momento em que perderás tuas peças
E chutarás o tabuleiro com ar de derrota.

Ver também o momento em que saíras batendo a porta,
Que apostarás todas as fichas
Mas será vista tua má atuação,
Sairás de mãos vazias então.

Quero assistir tuas decepções nesse jogo proibido,
Esperando que este seja teu castigo,
Porque depois de avisos, tantos,
Só aprenderás depois de tudo ter perdido.

E quando estiver caída no chão,
Sozinha e aos prantos,
Será quando talvez se permita aprender a lição,
Então, como amigo, estenderei-lhe a mão

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

O VELHO ROBERTO

Pôs seus chinelos, espreguiçou-se, limpou bem os olhos com as mãos e pôs seus óculos. Andou com seus passos fracos e decididos e saiu para a varanda. Sentou na sua velha cadeira de balanço, olhou para o quintal e para o seu pé de manga, observou um pouco as nuvens, e então pegou seu cachimbo já pronto na mesinha ao lado. Acendeu uma vez, soltou, acendeu novamente e desta vez soltou em forma de anéis. Ficou a observar os anéis perfeitos a voar e tremeluzir à sua volta até se desfazerem. "Décadas de prática", pensou. E então tentou pôr seu dedo fraco e trêmulo do meio de um dos anéis, "como se fosse uma aliança", pensou. E ele realmente poderia se casar com aquilo, com aquela fumaça, aquelas noites de memórias fragmentadas, as bebidas, as festas, as prostitutas... Ele poderia ter se casado com aquilo que passou anos se relacionando, mas não o fez. E naquele momento ele não soube dizer o porquê. Acabou por se lembrar do medo que tinha naquela época de ter a idade que tem agora. Olhou para o próprio corpo e passou as mãos uma na outra, sentindo-as. "Os restos do que fui um dia", pensou. Então que ele ouve uma voz que o chama dizendo que o café está pronto. Era sua mulher, a mulher que havia se casado ao invés daquele anel de fumaça. E de repente lembrou-se de tudo que havia esquecido. Ouviu a mulher chegar ao seu lado e então sorriu, beijou-lhe os lábios e foi para a mesa. "E eu ainda fui tolo de temer isso", pensou com um sorriso na face.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

SOBRE MINHA ETERNA VONTADE DE DANÇAR



Às vezes tenho essa sensação estranha... De que não importa o quanto eu beba, dance, pule ou qualquer outra coisa... Eu não consigo ficar feliz por completo. Não por eu ser triste, não. Mas por eu ser tão feliz que minha felicidade e animação simplesmente não acabam. É uma sensação boa essa... Quando ela bate ela simplesmente não passa, e nada me resta a fazer se não pôr uma música e dançar pelo resto do dia, nem que seja comigo mesmo.

sábado, 19 de janeiro de 2013

AVÔ

Olhando para meu avô eu às vezes até fico a pensar que talvez a velhice não seja tão ruim.
Olho para ele andando com aqueles passos lentos e cansados,
Seus problemas nas articulações, pele, rim ou seja lá o que mais.
Mas principalmente eu olho pro seu problema de audição, de todos seus dons, o maior.
Ele não nos ouve, ele não os ouve.
Nada chega em seu ouvido à menos que ele queira,
Oras, não seria isso uma benção?
Ter toda a confusão e os gritos do mundo silenciados na sua cabeça?
E é exatamente isso que ele faz, se tranca lá na cabeça dele,
Onde ele recita aquelas poesias e ouve aqueles sambas que ele gosta.
Toda vez que me pego olhando-o ele está lá, naquele mundo dele,
Alheio à toda a conversa, à todo o barulho,
Cantando o seu sambinha com tanta felicidade.
Às vezes eu até o pego dando uns passinhos, pegando um ritmo,
Como se todo o samba estivesse à sua volta.
Ele não é nenhum velho débil ou doente, não, ele apenas faz de seus problemas seus dons.
Pois quando ele abaixa aquele muro de surdez que separa o mundo dele da realidade
Você vê o tamanha de cultura que transborda,
Desde suas poesias de Augustos dos Anjos e outros poetas não tão prediletos como ele,
Até seus sambas cariocas daquela época de ouro onde todos se uniam na Lapa para sambar.
Eu o olho e sorrio, penso que se for para me tornar um velho,
Aquilo que mais tenho medo de ser,
Gostaria de ser como ele.
Cheio de cultura, alegre, cantando e dançando uns sambas ou um rock,
E com um problema de audição pra me separar desse mundo que faz tanto barulho.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

TEMPESTADE

Você é como a tempestade,
Chega como se tudo fosse destruir.
Por isso as pessoas te temem,
Fecham-te suas portas e janelas.
Mas elas não percebem a beleza da tempestade como eu.
Elas não vêem na chuva que as molha,
A água fria que acalma e traz paz.
Elas não vêem no vento que tudo parece querer derrubar,
Uma brisa que apenas quer afagar seus cabelos
Ou até mesmo a adrenalina de o enfrentar.
É por isso que as outras pessoas não amam as tempestades como eu.
É por isso também que a ti eu abro minhas portas e janelas,
Pois amo a chuva, o vento, ou até mesmo os relâmpagos.
Amo cada parte desse todo que é uma tempestade,
Da mesma forma que amo cada parte desse todo que é você.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

VAZIO

Arrumei-me, vesti aquela jaqueta de couro que eu tanto gosto,
Pus aquele perfume que elas tanto gostam, e saí.
Acendi um cigarro, olhei para o céu,
Dei um longo suspiro e voltei a caminhar com minha mão no bolso,
Rumo à mais uma noite.
Eu já havia me acostumado com aquele buraco,
Aquele vazio que agora jazia em meu peito.
Também havia me acostumado a preenchê-lo apenas momentaneamente,
Pois era a única maneira que eu havia encontrado.
Com uma garota apertada entre os braços
E sua língua a se enroscar na minha.
Nada mais me preenchia,
Ninguém mais me preenchia,
Por isso gostava daqueles momentos,
Por alguns instantes eu me sentia cheio,
Não completo, cheio.
Sentia como se tivesse um coração ali novamente,
Mesmo que não batesse por amor.
Ele batia era por adrenalina,
Batia por desejo,
Desejo de possuir seja quem fosse a garota na minha frente.
E foi em uma dessas noites vazias e animadas em que notei...
O mesmo desejo corria nas veias da garota
Cujas unhas arranhavam-me as costas.
Foi assim que acabamos em um motel qualquer por perto dali.
Quando terminamos, acendi um cigarro
Enquanto a cabeça dela repousava acordada em meu peito,
E sussurrei, como quem falasse apenas para si mesmo,
"Ninguém preenche meu vazio por completo."
Ela me olhou como que para se certificar de que eu havia dito algo,
Mas então percebi que ela não havia ouvido direito.
Respondi: "não é nada... Hum... O que você viu em mim?"
Com uma pergunta que continha um misto de curiosidade e surpresa.
Ela olhou bem nos meus olhos e disse: "três coisas",
Indicando um número três com os dedos.
"Primeiro, seus lábios, gostei deles e desse seu piercing.
Segundo, seus cabelos, eles são lindos e cheios,
Daquele jeito que é legal agarrar durante o sexo."
Sorri e passei a mão no cabelo
Lembrando do momento em que ela os agarrara.
"Em outras palavras, bem... Você é bonito,
Mas a terceira coisa acho que supera as duas primeiras."
Apaguei meu cigarro que já estava no final
E prestei atenção naquele último motivo.
"Seus olhos... Eles são tão... Vazios... É... É belo...
Como se fossem cheios de mistérios e incertezas,
De um passado obscuro e um futuro incerto.
Mas não é aquele vazio de quem nunca foi completo,
É um vazio de quem foi completo mas se perdeu."
Acendi outro cigarro pra disfarçar a vergonha que sentia naquele momento,
Ou talvez apenas para me dar tempo para pensar no assunto,
Quem sabe até como resposta, ou como silêncio.
Eu estava nu naquele momento,
Mas só apenas depois do que ela havia dito que eu realmente me senti assim,
Nu, de uma forma que poucas vezes eu estivera na vida.
"Eu sei porque eu conheço, eu entendo o que é ser vazio,
Conheço e entendo porque também sou."
Surpreendi-me com aquilo,
Pensei até que ela poderia ser aquela quem taparia o buraco do meu peito,
Mas então, pra decepção da minha esperança mal formada, ela continuou:
"Mas meu vazio não está nos olhos e nem no peito,
Meu vazio está entre as pernas,
E hoje... Querido... (Ela descia seu indicador pelo meu corpo enquanto falava)
Você o preencheu muito bem."
Ela me deu um sorriso safado e quase gargalhei,
Mas acabei por tossir engasgado com a fumaça do cigarro.
Levantei da cama com meu membro viril ainda à mostra
E olhei para o teto como se pudesse ver o céu e suas estrelas através dele.
E ali fiquei, pensativo, até que soltei um longo suspiro e me vesti.
"É só mais uma qualquer,
Que preencheu meu vazio com alguma substância secundária à necessária,
E cujos fluidos permanecerão alguns dias,
Até que o vazio volte por completo novamente."
Disse-lhe que iria embora e joguei o dinheiro na cama para que pagasse o motel,
Então parei, parei pois percebi o que havia acabado de acontecer.
Eu havia jogado o dinheiro à uma amante de uma noite como se joga dinheiro às prostitutas,
Sem carícias e nem beijos de despedida,
Enchi-me por tamanha vergonha que meu vazio quase vazou.
Saí, triste, com meu último cigarro na boca, e pensando:
"No que é que eu me tornei?"