quarta-feira, 30 de julho de 2014

DEVANEIOS NA MESA DE JANTAR

"Eu não sou um alcoólatra", eu costumava dizer.
Já hoje, me assumo sem o menor ressentimento,
Sentado na minha pequena mesa
Com uma cerveja belga e um cigarro.
"O cigarro? Ah, eu vou parar",
É o que digo há cinco anos.
Às vezes até paro ou diminuo o ritmo,
Mas ele sempre volta.
Não me orgulho de nada disso,
Apenas não me arrependo.
E talvez esse seja o meu problema,
Eu não me arrependo de nada na vida.
Olhando a rua e vendo as mulheres passarem
Com seus seios saltando e seus rabos rebolando,
Penso que talvez eu me torne um Bukowski...
Meus textos passarão a ser narrativas sobre álcool e putas,
Vou acordar às duas da tarde
Vomitando a cerveja do dia anterior
E desejando que a ruiva na minha cama vá embora logo.
Talvez minhas memórias comecem a se fragmentar
E a lembrança daquela garota nua na minha cama dizendo que me ama
Seja substituída por lembranças de várias outras...
Mas seriam apenas lembranças vazias, e qual seria o sentido disso?
Dou um gole na minha cerveja e percebo que ela acabou,
Vou na geladeira e abro mais outra.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

PLANETA GUERRA

Que mundo é esse envolto em mentiras?
Que mundo é esse cheio de corruptos, de fraudulentos?
Não quero viver em um mundo onde não há amor,
Não quero viver num mundo onde choramos
Pela derrota esportiva e comemoramos a vitória militar,
Passando por milhões de cadáveres de crianças com nossos tanques de guerra.
Não quero acordar pra ver esse mundo de sangue,
Não quero dormir pra sonhar com esse mundo de guerras.
Não quero apostar nessa corrida capitalista por dinheiro
E ver os cavalos pisoteando os pobres que mendigam na pista.
Não quero ver a lama, não quero ver a doença,
Não quero ver a morte e nem a violência.
Não quero ver os desumanos,
A tortura de animais, o tráfico de vidas e de mortes.
Não queria ver nada disso,
Não queria viver nada disso.
Mas mesmo assim encaro os olhos do homem e choro
Enquanto ele ri na minha cara,
Enquanto ele zomba da minha bondade.
O mundo veste preto,
O mundo veste vermelho,
Mas o mundo pede pelo branco.
Não o branco feito pelas mãos de crianças
Na África ou na Ásia,
Nem o branco feito em linhas de montagens
Exploradoras de seus trabalhadores.
O mundo pede pelo branco da paz,
O mundo grita por mais amor,
Por mais felicidade, generosidade, humildade,
O mundo grita para sermos seres humanos melhores.
O mundo cansou de funerais,
O mundo cansou de ver milhões dos seus filhos mortos
Por motivos banais e egoístas.
O mundo grita por mais amor.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

5 DA MANHÃ

Eram 5 da manhã e eu sonhava com o mar
Quando fui acordado com sua mão macia em meu peito nu
Me sacudindo suavemente e dizendo
"******, acorda, acorda, eu preciso ir para casa."
Abro os olhos, respiro fundo
E me deparo com seus olhos castanhos me olhando profundamente...
"O que foi?"
"Eu preciso ir para casa.
Ao contrário de você, eu moro com meus pais
E eles devem acordar em 1 hora ou pouco mais."
Levanto, ponho os chinelos
E rastejo meio sonâmbulo até a porta,
Abro-a e sou pego de surpresa por um abraço
E um beijo nos lábios - ainda lembro o quanto o beijo dela era estranho.
"Tchau, nós nos vemos na próxima."
"Ta, tchau."
Não teria uma próxima e eu sabia disso.
Nunca mais vi seus cabelos pretos,
Nem mesmo os cabelos loiros de sua cabeça.
Fecho a porta e me pego pensando enquanto retorno à cama:
"E novamente não terei aquele prazer de acordar ao lado da mulher,
Espiar seus seios sob o cobertor e beijá-la ao amanhecer.
Mas de qualquer forma, o que valeria essas conquistas com mulheres vazias?"
Deito em minha cama e volto à dormir.

terça-feira, 22 de julho de 2014

SOBRE SUICÍDIO PARCELADO

Nós bebemos demais,
Nos drogamos demais,
Dormimos com mulheres diferentes
Todos os fins de semana,
Apenas, para depois de tudo,
Acordarmos mortos
Com aquela velha sensação de que
"Jamais estive tão vivo".
Esse é o problema da raça humana,
Precisamos olhar o precipício abaixo de nós
E nos jogarmos através de uma corda
Para chegarmos sãos e salvos no lado oposto.
Precisamos pular do precipício,
Olhar a morte nos olhos
E abrir um paraquedas.
Precisamos perder
Para perceber o que havíamos possuído,
Precisamos morrer
Para perceber que estávamos vivos.
E você?
O quanto você se mata
Para se sentir vivo?