Era um senhor já idoso, deveria ter uns setenta anos - mesmo que seu vigor demonstrasse juventude. Chamava-se Luis Roberto, era calvo - salvo uns resquícios de cabelos branco na parte posterior da cabeça. Seus olhos são de um azul desgastado pelo tempo, vítima de erosão, porém ainda bem vivos. Trabalha como porteiro no edifício em que moro. Mas também já fora chaveiro, segurança e encanador.
O senhor Roberto (ou seu Roberto, como o chamávamos) era um sujeito bondoso, sorridente. Sempre havia algum morador conversando com ele. Sempre fora bom ouvinte e bom aconselhador, nos ajudava sempre que precisávamos, sempre sendo simpático. Mas apesar de sempre ajudar os outros, ninguém jamais perguntou pelo que ele passava, apesar de que duvido que ele respondesse, sempre fora um homem misterioso.
Em uma de nossas conversas eu o perguntei como ele conseguia fazer até as pessoas mais fechadas se abrirem com ele, enquanto eu sempre tentara ajudar as pessoas mas sem sucesso algum. Usando seus dons de chaveiro ele me respondeu "é só uma questão de usar a chave certa, existem cadeados mais fáceis, que abrem com chaves diferentes, porém alguns precisam de uma chave precisa. Você tem que analisar o cadeado e ver qual seria a melhor chave. Lembrando também que não é só porque algo é bem protegido que valha a pena ser descoberto, e nem que seja grande ou valioso, ou valioso pra você. Algumas coisas são melhores guardadas e muitos segredos e tesouros podem não ter o impacto em você que tem na pessoa que o possui, você jamais pode desvalorizar isso e deve sempre entender as necessidades de cada pessoa". E ainda, com seus dons de segurança, acrescentou que "você deve lembrá-las (as pessoas) que em uma casa fechada não se vê os perigos que se aproximam, sempre deve haver aberturas para termos segurança. Além do que, se nada entra, nada sai". E depois usou de seus dotes de encanador para acrescentar que "Todos precisamos de um cano de escape, se as coisas acumulam, elas tendem a explodir ou falhar. Precisamos canalizar nossas dores".
Eu já estava a chegar à minha conclusão depois de ouvir e me encantar com seus conselhos quando ele, como bom porteiro, me disse "só não ache que tudo é um trabalho seu ou que tudo depende de você ou do seu esforço. Elas (as pessoas) podem ter seus encanamentos, podem até ser casas ou cadeados, mas também são porteiros, elas escolhem quem entra, então mostre-se bom, bem intencionado, mostre-se digno de entrar no coração das pessoas..."
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