sábado, 21 de abril de 2012

SOBRE MEU DESGASTE EMOCIONAL

Já cansei dessas desavenças da vida,
De olhar sempre para o relógio,
Aguardando o horário da partida.
Horário esse que não está marcado,
Não há nem prazo.

O que eu quero é um pouco de paz,
Daquela que só alguém especial traz.
Quero poder sorrir pra alguém,
E vê-la, como em um espelho,
Sorrir também.

Estou cansado de olharem para mim,
E verem apenas um reflexo distorcido,
Esta falta de óptica é uma dor sem fim,
Iludindo aqueles que deveriam ser meus amigos,
Me deixando cada vez mais ferido.

Fui julgado sem direito à defesa, juri, advogado,
Ou opinião de delegado.
Cada um que me julgou,
Em uma cela diferente me jogou sem piedade,
Sentenciando castigos diferentes para minha personalidade.

Queria ver alguém lutar por mim e se importar,
Pois cansei de ser eu o gladiador à lutar pela princesa.
Queria deixar alguém me conquistar,
Então eu lutaria para que jamais precisasse partir,
Lutaria para que todo dia ela pudesse sorrir.

Ou talvez não seja isso que eu realmente queira,
Talvez o que eu mais queira seja mais uma festa,
Copos cheios, danças e alegria,
Porque chorar por outra pessoa é tempestade,
E agora quero navegar em calmaria.

Eu só queria um pouco de paz, alegria e amor,
E alguém que pudesse me dar e compartilhar tudo isso que almejo,
Então pode vir, eu não sou causador de dor,
Pode vir, venha sem medo,
Que meu coração esquartejado espera teus suaves dedos.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

SOBRE ARMAZENAR EMOÇÕES E PENSAMENTOS

Por que você não fala, pequena?
Por que você não chora?
Por que não grita ao mundo o que pensa?
Guarda tudo sempre pra si,
Não discute com ninguém,
Não impõe suas opiniões.
Apenas aceita o que lhe é dito,
Faz sua teoria sobre o assunto
E como a mais loucas das cientistas,
A guarda para si.
Não discute a veracidade da sua teoria...
Você tem medo de que esteja errada?
Me diz, porquê você não me bate?
Porquê você não me xinga?
Eu quero que olhe na minha cara e a encha de tapas.
Ao menos expresse o que sinta,
Mesmo que seja pra descobrir que bateu na pessoa errada.
Ao menos mostre o que sinta,
Mostre o que pensa.
Guarda pra si as lágrimas e rancores
E faz murchar a bela que és tu, rosa.
Azeda o fruto que guarda consigo,
Polui o rio que corre por ti.
Você ainda não aprendeu, minha cientista louca?
Não aprendeu que teu silêncio me ofende?
Não aprendeu que eu prezo pelos argumentos?
Sim, eu gosto deles,
Gosto do debate, da discussão.
Então me apresente sua teoria, seus pensamentos,
Quem sabe eu não te dou um nobel?
É clichê dizer que tem boca vai à Roma,
Então te digo melhor,
Quem tem boca, conquista,
Quem tem boca, constrói,
Quem tem boca vai além de Roma,
Vai até o ouvido de quem quer escutar,
Vai até o coração,
Basta falar o idioma correto.
A boca não apenas beija, querida,
Comunique-se, fale,
Aprenda a conversar,
Mas, por favor,
Não ofenda nem a mim
E nem a mais ninguém com seu silêncio,
Com suas teorias mal formuladas,
Seus pensamentos secretos,
Suas opiniões e acusações
Sem chance de defesa.
Aprenda de uma vez por todas:
Tudo aquilo que se guarda,
Depois de um tempo,
Estraga.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

A CURIOSIDADE MATOU O INSETO

Eu estava em uma viagem lendo um livro quando, subitamente, aparece um inseto no meu braço. Obviamente, dei-lhe um peteleco para que saísse. Mas o curioso foi que ele não saiu voando, não foi embora, apenas ficou parado no mesmo lugar que eu o havia arremessado, me encarando com aqueles olhos vermelhos de uma mosca. Achei-o curioso, não achei-o curioso por me incentivar a curiosidade de fitá-lo, como também achei-o curioso por ter a curiosidade de fitar-me.

Parecia que eu era como algo novo, uma descoberta. E sabe, o mundo já é grande para os homens, imaginem então para os insetos... Desvendando algo infinito todo o dia, descobrindo novos seres, novos gigantes. Cheguei até a pensar que os insetos talvez não fossem pura motivação instintiva ou corpórea, talvez houvesse neles a curiosidade que há nos homens. Incentivado pela curiosidade dele em mim, fiquei mais uns instantes a observá-lo, percebi que jamais vira um inseto como aquele, talvez do mesmo jeito ele o havia pensado sobre mim. O inseto tinha olhos de moscas, porem um corpo verde e alongado, com asas incrivelmente finas(cheguei a pensar até que ele não tinha asas).

Cansado de observar o inseto, deixei-o em seu lugar e voltei ao meu livro. Depois de certo tempo, quando estava a fechar o livro, notei que o inseto permanecia lá, ainda me encarando com aquele olhar misto de medo e curiosidade. Mas afinal, não é assim que quase todos somos também? Sempre com medo do novo, do não descoberto, sempre com medo das mudanças e desconfiando de toda pessoa nova quem acabamos de conhecer...

Empurrei o inseto para longe com o marcador do livro, pois a presença dele já começava a me irritar. Então ele voou, até eu perceber pouco depois que ele havia parado na poltrona em frente ao cara do meu lado, e começou a encará-lo da mesma forma que havia feito comigo. O sujeito depois de perceber a presença do inseto, enrolou sua revista e, sem pensar duas vezes, deu-lhe uma porrada que acabou por matá-lo.

Foi um triste fim para o curioso inseto, mas se bem que... Não teremos todos nós o mesmo fim? Somos como os insetos, porém em um mundo muito maior chamado vida, localizado num mundo maior ainda chamado universo. Tentando entender e desvendar um mundo muito maior que o nosso, tentando conhecer seres que talvez nem se interessem em olhar para a gente, sempre vivendo na curiosidade do novo e inesperado até que algo maior que nós nos abata. Somos todos como o pequeno inseto, procurando alguém diferente, que jamais tenhamos visto, nos fascinando com ele, até que se enjoe da gente e nos obrigue a procurar outro, que talvez venha a nos matar. Mas que talvez nos jogue pela janela, mostrando que esse mundo não é nosso, e nos dando uma nova chance de continuar vivendo a vida que nos fora resignada, ao invés de irmos atrás de um mundo muito maior que não nos pertence...

quarta-feira, 11 de abril de 2012

O TÍTULO QUE VOCÊ NÃO ME DEU

E isso vem crescendo,
Chegando e aumentando como algo novo,
Inesperado, inusitado.
Mas eu já deveria esperar,
Logo eu que venho vivendo tudo do novo,
Não deveria ser surpresa alguma receber mais esta surpresa.
Esta surpresa que é tão bela,
Que chega aos poucos de um jeito tão delicado,
Que bate à minha porta quase sem batê-la.
E eu... Eu não sei se atendo,
Fico com medo, apenas espio pela janela,
Espero, espero esperando que você canse de esperar,
Espero que entre logo de uma vez ou talvez que vá embora.
Mas qualquer coisa é melhor que este "toc-toc" na porta do meu coração,
Porque não quero que seja eu a abrir essa porta,
Não quero ver de toda minha vida passada morta,
Me encarando com aqueles olhos vazios,
Aqueles os quais não tenho coragem de fechar,
Aqueles os quais me acusam e me enchem de culpa.
Sabe... Eu tenho tanto medo,
Ainda mais quando vejo todos aqueles olhares em cima de você,
Todos aqueles desejos em cima de você...
Ah se você soubesse que ninguém te olha como eu,
Que mesmo com meu medo e minha incerteza,
Meu desejo é maior do que o deles,
Pois meu desejo... Ninguém deseja como eu...
Ninguém te vê como eu vejo,
Ninguém te cheira como eu cheiro,
Nem deseja teus cabelos entre meus dedos tão cheios de carinho.
Mas sabe... Talvez eu deixe isso tudo passar,
Talvez eu finja não estar em casa quando você bater,
Eu só não sei, não sei,
Só sei que não quero destrancar a porta,
Não agora, não ainda...
Mas às vezes desejo que você a destranque,
Ou então que entre de fininho pela janela,
Mas cuidado com o alarme,
Ou quem sabe eu mesmo o desative,
Por que, quem sabe, lá no fundo,
Eu queira isso, mas não queira admitir,
Mas tenho medo de agir...
Então quem sabe eu só preciso pensar e sentir,
Respirar e ouvir,
Porque apenas te olhar do olho mágico não faz mágica alguma.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

DO OURO AO PÓ

     Era uma senhora já de idade, por volta dos seus oitenta anos. Lastimando dolorosamente o fim que já estava próximo. Ela se lembrava de sua "época de ouro" e lamentava pelos velhos tempos, lamentava não ter mais aquela face macia e suave, aquele olhar sedutor ou aquele bumbum firme. "Aaaaaah quando eu era jovem!". Ela repetia sempre essa mesma frase pra si mesma, pois já não havia alguém que a pudesse ouvir, ela perdera todos seus amigos com o seu jeito de ser e recusou todos os homens que um dia a haviam amado.

     Agora ela apenas lamenta, presa às lembranças de um tempo de glória onde era feliz e cortejada por todos os rapazes. Onde tantas vezes encontrara o amor... Não, ela não recusava o amor... Ela o convidava para entrar e tomar um chá ou um pouco de vinho, e depois o expulsava pelas portas do fundo. Fora assim com aquele rapaz aos seus dezessete anos... "Qual era o mesmo o nome dele? ... Rafael! Ah sim, o Rafael!" Aquele rapaz dos cabelos loiros que tanto a amava, tanto fizera por ela, e ela apenas fugiu, teve medo do amor. Sim, ela sempre o temeu, pois assim que ela via o sinal do compromisso ela fugia, afinal, ela era jovem, não queria compromisso algum, queria sempre mais e mais, pois ainda havia muito da vida para ser vivido. E vivendo assim acabou como vive hoje... Lamentando não ter aceitado o pedido de casamento do Pedro, o homem do cabelo enrolado que fora seu namorado aos vinte e oito. Lamenta por saber que seria feliz com ele, que teria uma família, talvez alguns filhos.

     Ela viveu sempre em torno da própria beleza e juventude que esqueceu que havia algo além disso. Se pôs sempre em primeiro lugar que esqueceu que havia ao menos um segundo, um terceiro, um quarto ou um quinto... No mundo dela, acabou por ser isso, apenas o mundo dela, pois o resto do mundo a havia abandonado. E sua "época de ouro", hoje tornou-se sua época de pó, de doença, de solidão... Falando sozinha e delirando sobre um passado que ela idolatra, que ela acredita ser assim tão glorioso.

     Talvez o Alzheimer a tenha feito esquecer que ela não está sozinha porque já não é jovem ou tão bela, mas sim porque fora egoísta, não soube se apegar à realidade da vida ou ao menos a alguma pessoa que a pudesse fazer feliz. E envelheceu acreditando ser jovem, tanto é que aos sessenta e sete rejeitou um senhor que era apaixonado por ela, apenas por ela ter julgado ele velho demais, tão velho ele era que era dois anos mais novo que ela.

     Hoje ela lamenta, e culpa o tempo, culpa a vida, mas esquece que a culpa é dela, e que juventude não é dom pra vida toda. Ela lamenta enquanto recebe o soro na sua veia, deitada numa cama de hospital, sentindo falta de uma mão que segure a dela, sentindo falta do calor humano, da carne... Não aquela carne que ela costumava usufruir quando era jovem, mas aquela carne que aquece, que protege e te da segurança. Ela sentia falta agora era do calor corporal de uma mão, não de um corpo inteiro, sentia falta daquele calor que esquenta em todos os momentos, e não apenas na presença.

     Mas ela expulsou de sua vida todos os amigos e amores, e se fez assim culpada por estar da forma que está, sentindo falta dos filhos que não teve, dos netos que não tiveram a oportunidade de nascer... "Quem sabe eu reencarne, corrija todos meus erros com outras pessoas, faça tudo certo dessa vez... Ah quando eu for jovem novamente, vou fazer tudo direito, vou fazer tudo direito... Quando eu for jovem novamente, quando eu for jovem novamente..."