quarta-feira, 20 de maio de 2015

SOBRE O MITO DA VERDADE ABSOLUTA

   Como o título já afirma, não vou fazer cerimônias ao dizer que não há verdade absoluta, que nada é cem por cento certo ou errado, que tudo que julgamos não passa de fruto da nossa criação, ética, valores pessoais, moral, cultura, religião, pressão social ou qualquer outro motivo que seja. Li recentemente que "todos os valores que adquirimos ao longo da vida nos levam a considerar atos contrários a eles como imorais". Eu não poderia concordar mais, mas, com o perdão da palavra, vou um pouco além e dizer que não só apenas imorais ou anti-éticos mas simplesmente errados como um todo, alguns até abomináveis, se me permitirem dizer. Crescemos ouvindo uma coisa, pensando uma coisa, julgando uma coisa, que pensamos abominável aquele que pensa diferente de nós. Julgamos uma abominação os chineses comerem carne de cachorro, os indianos terem várias esposas ou os japoneses se matarem em metrôs por uma reprovação no colégio ou faculdade, mas todos eles acham, no mínimo, estranho, que não façamos o mesmo. E então, quem está certo ou errado aqui? Ninguém, eu afirmo. A verdade absoluta é um mito, um fruto do seu psicológico hipócrita e egocêntrico que se recusa a ver opiniões e atitudes diferentes como normais ou certas (quando não há nenhuma certa). Temos que parar de achar que tudo se resume a certo ou errado e enxergar mais a diversidade de opiniões e valores. Temos que ser mais abertos às opiniões, mais abertos às culturas, às religiões. Não quer dizer que não possamos discutir ou argumentar, mas que devamos fazê-lo pela mera arte da argumentação e do debate, e não impondo nossa vontade e pensamento para ninguém, tentando convencê-lo da sua verdade absoluta. Devemos aceitar mais e enxergar mais o ponto de vista alheio, todas as circunstâncias e experiências que fizeram um ser humano ser e pensar da forma que ele pensa, mesmo que para a nossa própria verdade, isso seja errado. Você não pode afirmar nem se você realmente existe, se tudo o que você vê e sente é de verdade, que sua realidade é a mesma de todos. O que garante que toda a sua vida não é a ilusão de um coma? Uma experiência divina ou humana? Um reality-show de uma vida e que, logo logo, uma porta será aberta com um alarme e toda essa mentira caia como uma cortina? O anormal pode ser normal contanto que ele seja maioria. Tente não julgar, tente abrir a mente e ver as pessoas como seres humanos individuais. Não há um normal, não há um padrão, ou melhor, há padrão, mas isso não quer dizer nada, não quer dizer que o padrão seja certo ou errado ou que haja certo ou errado. Tudo o que existe são pessoas diferentes, com criações diferentes, culturas diferentes, religiões diferentes e vidas diferentes. Tudo o que existe é a diversidade e a sua mente fechada que se recusa a aceitá-la.

domingo, 10 de maio de 2015

SOBRE A TAL ERA DO CONHECIMENTO

   Os seres humanos nunca foram tão avançados. Já enviamos robôs à marte e agora temos planos de colonizá-la, já curamos doenças ditas incuráveis e controlamos diversas outras, estendemos a expectativa de vida, sabemos como funciona a vida, os seres vivos, os movimentos do ar, da água e da terra, sabemos que somos feitos de células que são feitas de diversas outras coisas e sabemos como funcionam todas essas coisas. Nós sabemos do que somos feitos, como funcionamos e como curamos nossos defeitos de funcionamento. Mas será que nós nos conhecemos?

    Quantos aqui já pararam pra pensar "o que me define?". Quem é você? O que faz você ser você além de todas a sua organização celular e o seu DNA? Poucas pessoas param para, realmente, se conhecer, para se enxergar e ver seus próprios defeitos e qualidades, medir suas ações, seu impacto no mundo e na vida das outras pessoas. Muitas pessoas apenas vivem. Apenas seguem em frente, passo por passo, sem parar para se olhar no espelho e tentar se ler. Se perguntem sobre si mesmos, saibam seus próprios limites, sua própria ética, sua própria história que te pôs onde você está agora, que te fez ser quem é. Somos a era do conhecimento, conhecimento alheio apenas. E quando digo alheio não quero dizer necessariamente do conhecimento sobre outras pessoas. Pois nisso nós também deixamos muito a desejar.

   Nós sabemos que as pessoas na África estão passando fome, que as pessoas na Coréia-do-Norte estão sendo oprimidas, mas não sabemos nada dos nossos próprios amigos, dos nossos próprios vizinhos. Temos todo o conhecimento do mundo na palma das nossas mãos mas esquecemos de perguntar ao próximo como ele está. Nos dizemos amigos de alguém mas nem ao menos o conhecemos de verdade. Quem sabe dizer, dentro de um ciclo social, o que cada um de seus amigos pensa sobre a vida, sobre a morte, sobre questões filosóficas ou religiosas? Nós estamos muito interessados no futebol de ontem, a música de hoje e a festa de amanhã. Quem sabe sobre o passado dos seus amigos? Sobre o que cada um deles passou e sofreu para fazer deles quem eles são hoje? Quem sabe sobre a dor e a felicidade dos outros? Quem conhece os sonhos e as esperanças do próximo? Quem partilha das suas angústias ou dos seus medos?

    Nos conhecemos muito superficialmente e nos afastamos um dos outros cada vez mais. Vivemos em uma era de depressivos, de viciados, de gente com problemas de relacionamento, comunicação, insônia, socialização, enfim, vivemos em uma era de problemas sociais e psicológicos. E talvez, se parássemos um pouco pra tentar conhecer mais os próximos, ficaríamos mais próximos destes, entenderíamos mais um ao outro e seríamos pessoas mais felizes, mais realizadas, mais confiantes em si mesmas e no próximo. Então, por favor, parem de perguntar sobre a nova música que lançaram, sobre o novo filme no cinema, sobre o resultado do jogo de ontem e, ao menos uma vez, pergunte "como você está?" sem ser por mera educação, pergunte sobre a vida da pessoa, se está tudo bem ou se ela está feliz, pergunte a opinião de alguém sobre algo que seja, de fato, importante. Mas também fale de si, se exponha, se abra, deixe-se ser conhecido. Preocupe-se em ser conhecido também, em ser lembrado por ser quem você realmente é, por tudo que você lutou, sofreu e passou, por tudo que você conquistou e sorriu, tudo que você criou. Conheça o que merece ser conhecido, e, acima de tudo, conheça a si mesmo, antes de conhecer o que te cerca.

   Temos todo o conhecimento do mundo na palma da mão, toda uma possibilidade de conhecimentos do próximo na base do ouvido e a chance de sermos conhecidos na ponta da língua.

quinta-feira, 7 de maio de 2015

SOBRE AQUELE MAL DE SAGITARIANO

   É segunda, de manhã, o despertador toca e acordo com uma sensação estranha. Ah, tem uma mulher comigo. Ela pega meu celular e desliga o alarme. Levanto e vou para o chuveiro. Penso, enquanto tomo banho, no dia de ontem e sorrio por um breve momento. Foi legal, foi bom, ela é uma boa garota. Mas, por algum motivo, eu não quero vê-la novamente. Não sei se isso é culpa minha ou culpa dela. Provavelmente é minha. Eu tive um bom momento, dormimos juntos, mas e então? É segunda e tudo volta ao normal, ainda tenho que ir para a faculdade, estudar, e viver a mesma rotina entediante. Ainda a trato bem, ainda sou carinhoso e dou-lhe um beijo ao nos despedirmos, mas sei que não a verei. Foi um bom momento, sim, mas o que aquele breve momento mudou em minha vida? Nada, simplesmente nada. Me sinto vazio e mal pela garota. Não gosto de sentir que as pessoas não tiveram alguma importância pra mim, que elas não foram nada além de algo que eu usei, e que fiz tudo isso independente de quem era a pessoa. Tipo, podia ser qualquer pessoa ali, nada mudaria, não foi nada pessoal. Me sinto vazio, me sinto mal. Penso nisso durante o dia e penso "isso já aconteceu antes". Há umas duas semanas atrás, talvez, há mais algumas antes dessa, e segue assim por um tempo. Quando será que eu vou cansar dessas mulheres que não me adicionam nada? Que nada mudam em minha vida e fazem a rotina continuar a mesma? Sei que, no fundo, eu já cansei. Mas nada posso fazer, poucas coisas me interessam, poucas pessoas me interessam, a maioria é desinteressante mesmo. "É mal do signo" já me disseram, "Sagitarianos não gostam de compromisso, eles são meio galinhas mesmo". Mas não é por aí, eu bem queria um pouco de compromisso pra variar, queria um amor e uma vida tranquila, um romance contínuo que mude minha rotina ao invés daqueles fragmentos de amor que se acabam no dia seguinte. Mas como já disse, as pessoas me são desinteressantes e as que me interessam são distantes, muito ocupadas em suas próprias vidas e sonhos para me notar, e se o notam não é com o mesmo interesse que eu, é com o mesmo desinteresse que tenho por todas as outras. É a vida, acho. Não me sinto mal por isso, não me sinto bem também. Só... Vazio... Vazio até encontrar alguém que, depois de acordar ao seu lado, eu continue meu dia bem, numa rotina diferente, uma rotina nova; e possa, enfim, sorrir.

sexta-feira, 1 de maio de 2015

INSÔNIA Nº2

Os pensamentos vem aos montes,
A cama torna-se cada vez mais dura
Enquanto rolo infinitamente sobre ela.
Meu travesseiro puxa os mais profundos sentimentos,
Que dançam na minha mente
E riem de mim enquanto tento dormir.
O estresse flui, a ansiedade do amanhã
Me cobre de esperanças e medos,
A saudade bate, e bate, e bate,
E me espanca.
E eu, indefeso,
Soco o travesseiro para revidar.
Ta quente demais, ta frio demais,
Não estou coberto o suficiente,
Estou coberto demais.
Acho que no fundo eu não quero dormir,
Dormir significa acordar uma hora,
E acordar significa viver,
Encarar a rotina de novo,
O esforço duro, o cansaço.
Mas dormir também significa sonhar,
Significa ver as pessoas que não posso ver,
Ter a pessoa que não posso ter,
Aquela que me tira o sono e me invade o sonho,
Descontente e insatisfeita
De já morar em meus pensamentos diários e constantes.
OK, Insônia, você não vai vencer dessa vez.
Me levanto, pego o cigarro,
A garrafa de vinho, o papel e a caneta.
E sei que ao final disso tudo,
Dormirei em paz.