sexta-feira, 23 de novembro de 2012

ENTRE SE PERDER E PERCEBER QUE ESTÁ PERDIDO

- Você ta perdido, senhor?
- Eu não sei, acho que sim
- Como assim "acha"? O senhor não sabe onde está?
- E por acaso você sabe? Ninguém sabe onde está, só de onde vieram, alguns nem isso sabem. Mas isso não faz deles perdidos.
- Para onde você quer ir?
- Onde eu queria eu já não posso ir.
- Porque você já não pode ir? Não lembra do caminho? Ou o lugar não existe mais?
- Eu lembro perfeitamente do caminho, mas as portas pelas quais passei já estão todas trancadas e não sei se existe alguma chave que as abra. Também não sei se o lugar ainda existe por detrás de tantas portas.
- Então pra onde você vai agora?
- Eu não sei, não sei qual caminho pegar, não sei se são caminhos diferentes ou se todos levam pro mesmo lugar, talvez os caminhos que fossem diferentes ficaram em alguma esquina que dobrei por detrás de uma dessas portas trancadas... Sabe... Acho que estou perdido sim. Não por não saber onde estou, mas por não saber pra onde vou... E acho que isso é ainda pior...
- Ao menos você sabe disso agora... Só acha o caminho certo aquele quem sabe que está no caminho errado, existe uma diferença enorme entre se perder e perceber que está perdido.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

ALGUMAS FRASES QUE NUNCA VIRARAM TEXTOS

Eu vos declaro marido e mulher, até que a vida os separe.

Se já não sonho com ti é porque sei que há de se tornar pesadelo.

E a beleza que eu via nela já não me é mais bela.

Pomos máscaras em público para nos passar por civilizados, mas no fundo somos todos selvagens.

Esse que é o seu problema, você brinca demais nessa sua vida... E acaba esquecendo de levá-la à sério.

A vida segue e se molda ao que restou. E quando já não resta nem um pouco ela segue e se molda ao novo.

Eu morreria por ela sem nem pensar duas vezes... Na verdade, eu acho que morreria por ela duas vezes.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

SOBRE TRAUMAS, SURPRESAS E DEFORMAÇÕES

Os casais andam pelas ruas de mãos dadas,
E eu passo por eles dando a mão à mim mesmo.
Olho para eles com um pouco de raiva, de inveja, de ciúmes,
Eu que tanto desejo um amor,
E meu coração recusa-se cada vez mais a bater.
Ele parece um animal assustado, uma criança traumatizada,
Depois de tantos sustos e acidentes com esse tal de amor,
Ele anda meio assim, com medo.
Mas convenhamos que o amor é assustador,
Convenhamos que é perigoso e arriscado,
Mas talvez seja justamente por isso que gostamos dele.
E eu que só agora fui notar os olhos assustadores do amor,
Surpreendo-me por perceber que não o conheço todo,
Na verdade eu talvez o desconheça por completo.
Porque eu já fui desses cheios de amor,
E justamente por ter amor demais
Eu achava conhecê-lo melhor do que qualquer um,
E talvez seja daí a minha ruína.
Eu tinha demais pra poder estudá-lo, para poder conhecê-lo,
E pelo pouco que eu conhecia achava conhecê-lo por completo,
Quando na verdade ele não tem que ser apenas conhecido como também vivido.
E daí fez-se a maior de todas as pedras desmoronadas dessa ruína,
A ilusão quebrou-se em cacos grandes demais para eu segurar,
Mas mesmo assim eu os metia a mão,
Porque queria salvá-la (a ilusão) de qualquer forma possível.
Por isso me foram decepadas as mãos que cuidam,
Os pés que correm atrás
E a língua que não nega a verdade.
Me foi perfurado o pulmão que prende o ar quando ela passa,
O cérebro capaz de compreender e entender o outro
E o coração capaz de amar.
E disso sobraram-me apenas os olhos.
Eu nada posso fazer senão me olhar no espelho
E chorar todas as minhas deformações,
Chorar todas as minhas cicatrizes
E as partes de mim que estão faltando,
Esquecidas num passado não muito distante.
Nada me resta senão olhar para as pessoas à minha volta,
Olhar todos os que vem e vão sem poder fazer ou dizer nada.
Nada me resta senão olhar os passam,
Da mesma forma que olho os casais de mãos dadas que agora passam nessa rua.

domingo, 18 de novembro de 2012

UMA CRÍTICA À AMADURECER

Lembro-me que uma vez, há muitos anos atrás, uma amiga de minha mãe havia me perguntado alguma coisa sobre mulheres. Lembro que eu devia ter uns nove anos de idade. E apesar de não lembrar a pergunta ao certo, eu lembro muito bem a resposta.

- Não, não me interesso em nenhuma não, eu procuro uma mulher que seja bonita por fora mas que seja por dentro também, e eu ainda não achei ninguém assim.

Lembro que ela se surpreendeu com a minha resposta e comentou com a minha mãe "nossa, é incrível como ele tem um pensamento assim já... Adulto sabe?". Fiquei feliz pelo elogio, mas mal sabia eu que tava tudo invertido. O pensamento era de criança mesmo, e o certo seria se todos pensassem como elas. Quando crescemos já não nos importamos com isso, nosso pensamento muda, já é outro. Já não vejo ninguém que pense desse jeito que eu pensei, nem mesmo eu. As pessoas se procuram por aparências e necessidades físicas, se for alguém legal ou não, é apenas um lucro. Esquecemo-nos do que é realmente importante e jogamos em último plano o que deveria ser o primeiro. Nos satisfazemos e nos frustramos por causa de uma busca inútil, buscamos o sexo oposto pelo simples fato de ser sexo oposto, e esquecemo-nos de procurar a beleza por dentro das pessoas. Mal lembro a última vez que falei isso... "Bonita por dentro"... Soa algo tão belo agora, tão... Inocente... De um jeito que adulto nenhum jamais será, que jovem nenhum jamais será, que apenas uma criança seria. Às vezes sinto falta de ser assim, meio criança, tão apaixonado, tão inocente.
Às vezes me pergunto se amadurecer é realmente o melhor caminho...

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

CAMINHO SEM VOLTA

Acho que estou numa estrada sem retorno,
Entrei naquele famoso "caminho sem volta".
Sigo com minhas passadas regulares e lentas,
Que quase não percebo que ando,
Até que algum passo desritmado se adiante um pouco mais que outro
E dê aquela sensação de aumento de velocidade.
Aí é quando percebo que saí do lugar,
Resolvo olhar pra trás e vejo o quanto já andei sem perceber.
Um muro me impede de voltar e parece me seguir,
Tanto que a cada vez que olho para trás ele está na mesma distância de mim.
Mas sei que andei, sei que andei porque a paisagem não é a mesma,
Porque meus pés gritam os passos que deixei no passado,
E o coração parece cada vez mais cansado.
O pior que já sei até onde esse caminho me leva,
Já conheço o abismo negro que me aguarda no fim da estrada,
Mas é difícil não continuar andando.
À cada passo nesse caminho o próximo passo fica mais fácil,
Até que chega um ponto em que fica automático,
E depois disso já não há volta,
Espero o momento que aparecerão esteiras rolantes pra adiantar meus passos,
Ou alguém pra me levar nas costas.
Dizem que há como voltar se você tiver alguém,
Alguém pra te puxar com uma corda
Ou até mesmo com um beijo,
Pra quebrar o muro que te impede de voltar
Ou até mesmo a hipnose que te faz seguir.
Alguém que seja a mão estendida,
Um farol pra te guiar de volta,
Ou uma pedra que não te deixa continuar.
Já não sei se isso é verdade,
Talvez porque não tenho ninguém pra me apoiar
Ou pra me prender.
Mas se tem alguém lendo isso,
Saiba que te deixo ser a minha pedra,
O meu farol, a minha mão,
E até mesmo meus olhos e pés,
Saiba que eu não só te deixo,
Como também quero que você seja meu alguém.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

BEIJA-FLOR

Um Beija-flor veio voando da janela aberta,
Mas quando me viu parou, estagnado no ar,
Depois voou tão rápido contra a minha testa,
Mas veio apenas para me beijar.

Surpreendi-me e fiz a seguinte indagação:
Beija-flor, por acaso confundiste-me com uma flor?
Então ele me olhou novamente com maior atenção,
E neste momento pareceu sentir uma grande dor.

O beija-flor parou de bater as asas e caiu,
O beija-flor morreu,
Morreu depois que bem me viu,
Pois foi aí que notou o veneno que bebeu.