terça-feira, 31 de janeiro de 2012

PODE ATÉ SER BOM

Sabe, às vezes penso que talvez não seja tão ruim partir,
Deixar tudo pra trás, começar do zero.
Não, não do zero, já tenho amor e amizade,
Mesmo que à distância, eles ainda estão lá,
Ainda vão me ouvir quando eu falar.
Quem sabe esse não seja um começo do zero ponto cinco,
Talvez zero ponto oito.
Sabe, talvez não seja tão ruim deixar tudo pra trás,
Guardar o passado num baú trancafiado
Assim como fiz com minha infância.
Mas ao contrário da infância, jamais seria esquecida,
Não seria aquele baú de brinquedos largado no sótão.
Talvez fosse o ursinho de pelúcia que você gosta em segredo,
Mas acho que está mais para álbum de fotos, visto todo dia.
E ao contrário da pelúcia que é vista em segredo,
Mostraria as fotos e as lágrimas de saudades,
Bateria no peito com orgulho e diria que este é o meu passado.
Sabe, pode até ser bom,
Largar o mundinho onde todos se conhecem,
Entrar num lugar onde a noite é mais criança,
Onde a noite é mais dança,
Onde os shows trazem as estrelas do céu.
Sabe, pode até ser bom,
Voltar de vez em quando,
Sentir o amor mais desesperado,
As festas mais animadas.
Sabe... Tem coisas que são melhores lembradas do que vividas...

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

EMBRIAGUEZ DE EMOÇÕES

Entrei no bar e olhei para todos,
Vi todos meu amigos rindo,
Bebendo, todos felizes.
Às vezes era até possível me ver ali no meio,
Meio apagado como um fantasma,
Uma memória, uma lembrança,
Talvez até como uma foto.
Sentei sozinho na mesa do bar e chamei o garçom,
Pedi-lhe um copo de nostalgia,
E à medida que bebia,
Eu podia ver meus amigos ainda mais nítidos,
Há quem diga eu era visto mais nítido,
Menos como fantasma, mais como lembrança.
Pedi então um copo de saudades,
E depois de virá-lo o enchi com minhas lágrimas,
Enquanto todos pareciam ainda mais distantes...
O garçom veio reclamar,
Exigindo que eu pagasse também o copo de lágrimas,
Era a regra do bar:
Entrou, consumiu. Consumiu, pagou.
Engoli também as lágrimas...
Pedi depois um copo de tristeza batida com mágoas,
Mas o garçom ao me servir pôs demais e o copo transbordou,
Depois ele volta jogando-me um pano e dizendo:
Sua tristeza, é sua limpeza.
Limpei a mesa enquanto resmungava:
Se indiferença enchesse copo a gente também pagava.
E de tão bêbado que fiquei,
Acabei por dormir,
Sendo acordado horas depois pelo dono do bar.
Ele falava com um sotaque diferente,
Algo que me remetia ao lar,
Mas não o lar onde eu estava,
Algum lar diferente e longínquo.
Notei que meus amigos haviam partido,
Ninguém havia me acordado,
Levantei e saí,
Dei bom dia ao Sol,
Um Sol de um lugar diferente,
Diferente de quando entrei no bar.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

UM CORPO CHEIO E UM CORAÇÃO VAZIO

E quem diria que tua vida iria por acabar assim?
Sendo pega em cada esquina, cada botequim,
Você jogou seu nome no lixo,
Se entregando pra qualquer um feito bicho.
Desarmou seu orgulho e perdeu um coração,
Entrou pra lista da enumeração,
Pegou vinte e seis, trinta e dois,
Mas e depois?
Os números que você conta devem estar te contando agora,
Todos rindo, falando "peguei e joguei fora".
Seus números não lhe servem de nada,
É apenas uma competição acirrada
À espera de um troféu e talvez reconhecimento.
Tão tola, assim eu só lamento.
O reconhecimento que espera não lhe será em nada bom,
Vendendo assim seu corpo por qualquer atração.
Teus números não mostram nada, vendida dama,
Se ainda choras sozinha em tua cama,
Procurando satisfazer o que um dia foi um coração
Enquanto apenas teu corpo recebe satisfação.
A linda dama por quem me apaixonei morreu,
E todo seu amor próprio também desapareceu,
Só espero que não o esteja fazendo para me provocar,
Pois assim só terá a lastimar,
Ou até pior, que o esteja fazendo para me esquecer,
Pois ver você assim por minha culpa me faz sofrer.
Ainda vejo alguns raros lampejos do que você realmente é,
Mas não sei se são apenas lampejos ou se há alguma esperança,
Então me diz o que você realmente quer,
Devo continuar nessa inútil dança?
À distância dançamos um flamenco,
Eu a observo e lamento,
Eu não sei se te deixo a dançar sozinha com seus muitos pares,
Ou se me aproximo e te devolvo você,
Essa incerteza me da novos ares,
E a tristeza de uma vida sem mais te ver.

domingo, 8 de janeiro de 2012

A FALTA QUE TU ME FAZ

Foste embora sem nenhum beijo de despedida,
Partiu prum canto não tão longe de mim,
Mas tão longe dos meus braços e abraços,
De meus beijos e afagos.

Partiste dizendo ser alguns dias,
Mas não dissestes que os dias sem ti são uma eternidade,
E eu conto cada segundo pra tua volta,
Esperando o fim dessa dolorosa saudade.

Querida, por que partiste em tão inútil viagem?
E ainda levaste meu sorriso em tua bagagem,
Com ti longe de mim,
Acabo por ficar assim,
Triste pelos cantos,
Esperando quase aos prantos,
Sem vontade nem de comer,
Com vontade apenas de te ver.

Então retorne logo, meu amor,
Acabe com essa triste dor,
Volte para meus lábios que a aguardam,
E devolva meus sorrisos que a acompanhavam.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

UM CÓDIGO DE HOMEM

Eram Lúcio e João dois amigos de colégio, amigos de tempo, de anos, de convivência, amigo de se botar no peito e levar pra vida. Lúcio namorava Maria, que de virgem nada tinha. Ele a amava como se ama uma mulher de saudades, intenso, desesperado. Ele sabia amar, sabia amar como se ama mulher de saudades, mulher que há tempos não vê, mulher cujo homem viaja e volta depois de tempos, a amava como quando o amor tem saudades. E cada hora pra ele já era muita saudade.

Um dia houve de Lúcio brigar com Maria, e a briga fora feia, era quase no tapa que se resolvia, mas eram nos tapas dela. Lúcio não levantava mão contra mulher, "Não sou de bater em ser tão bonito, tão frágil, tão meigo, mulher é pra amar, não bater." Mas Maria zangou, zangou-se por um motivos cujo os dois nem lembram mais, ficaram dias sem se ver, sem se falar, a briga fora feia. Lúcio acabou por descobrir que Maria, por raiva, vingança ou amor, havia deitado com João, e que João, sabe-se lá se foi influenciado ou aproveitador, deitou com Maria.

Ah que trágico dia fora aquele, Lúcio não era homem de briga, mas sabia brigar, Lúcio era homem de palavra, de texto, era poeta, filósofo. João não sabia o código do homem, que não se bota mulher na frente de amigo e homem que não respeita o código do homem não é homem, não merece respeito, não tem honra. Lúcio tirou as mãos do bolso como se sacasse uma arma, atribuiu à João o julgamento do tribunal dos homens. Brigaram feio, Lúcio tinha o supercílio sangrando, mas quem tava caído no chão era João.

- Tu que não respeitas o código do homem não és homem, és fraco, não és digno de ser homem e muito menos és digno de ser meu amigo!

Lúcio sabia disso muito bem, pois ele já havia quebrado o código do homem uma vez, mas no perdão do amigo havia jurado jamais repetir tal ato tão digno de miseráveis sem valor. Havia posto mulher na frente de amigo, e se arrependera. João também já havia feito isso com Lúcio antes, mas não se arrependera, Lúcio o perdoou mesmo assim, mas não se arrependera. Agora homem que quebra o código do homem duas vezes já não merecia perdão, Lúcio sabia pois já o havia quebrado uma vez, já não era nem tão homem, nem tão digno, por isso sabia que João já não era nada homem, já não era nada digno.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

O SÁBIO CAVALEIRO

   Era um homem alto, forte, possuía cabelos loiros e olhos azuis. Seu corpo era marcado por diversas cicatrizes e seu olhar trazia consigo um misto de dor e orgulho, um olhar que daria medo até nas criaturas mais vis. Tal homem cavalgava em seu forte cavalo, seguido pelo seu novo e recém-arranjado escudeiro, tal que o último veio a falecer em uma de suas batalhas.

   Já à beira de um rio, os dois pararam para descansar. O cavaleiro tirou sua pesada armadura e deixou à mostra o corpo forte, repleto por cicatrizes e queimaduras. Cada marca possuía uma história diferente. O escudeiro, curioso e fascinado pelas cicatrizes do jovem cavaleiro, perguntou-lhe como as havia arranjado. O cavaleiro foi contado-lhe cada história, repleta de guerras e duras batalhas, combates com dragões e feiticeiros. O escudeiro, admirado com as histórias, perguntou-lhe:

- E qual dessas cicatrizes foi a mais dolorosa, meu senhor?

O cavaleiro pensou um pouco, apontou para o peito e disse:

- Esta aqui.
- A de sua primeira batalha?
- Não, a que estou apontando é mais profunda, tão profunda que não se pode nem vê-la.
- E como isso é possível, meu senhor?
- É uma cicatriz que fica no coração, nos sentimentos.
- E como o senhor arranjou-a?
- Num duelo com uma donzela, a princesa do feudo no qual eu sirvo.
- Você duelou com uma dama!? Isso não seria errado?
- Não, jovem tolo, não é um duelo de espadas e batalhas, é de um tipo diferente. Eu mostrava minha honra e minha bravura e tentava abrir caminho até o coração da princesa, mas as defesas dela eram fortes demais. E além disso, como um único e mero cavaleiro ou vassalo poderia conquistar o tão poderoso forte que é o coração de tal princesa?
- E então, meu senhor?
- E então que eu perdi a batalha, um tal príncipe de outro reino conquistou meu tão almejado objetivo, e ainda zombas de minha humilhação. A dor foi grande, maior do que qualquer outra dor de qualquer outra guerra. E o pior é que ela sempre dói, não é como as outras...

   O jovem escudeiro optou pelo silêncio depois de tais palavras, surpreendeu-se pelo fato de que o mero cavaleiro, por mais bom que seja, era também sábio. E a viagem continuou no silêncio, até que o escudeiro o quebrasse mais uma vez...

- E de todas as criaturas, meu senhor, qual foi a mais forte ou a mais difícil de lidar?
- Essa é fácil, o pior monstro que já enfrentei foi eu mesmo.

   O escudeiro ficou calado, tentou compreender as palavras que seu mestre havia proferido. O cavaleiro, reparando o silêncio de seu escudeiro, tentou explicar-lhe...

- Confuso? Acho que todos nós temos um monstro dentro de nós, alguns não o controlam e acabam incorporados por ele, alguns andam com uma parte dele exposta mas a maioria bem controlada, alguns, ainda, o controlam por completo, como eu, e o deixam preso dentro de si. Mas às vezes a fera tenta escapar, às vezes os ferimentos são tão profundos que alcançam a jaula do monstro, então ele escapa pelos ferimentos do coração e vem à tona.
- Eu nunca pensei dessa forma, senhor. Mas agora consigo ver com mais clareza.
- Esse é o problema meu jovem, ninguém nunca pensa, eles só gostam de agir.