sábado, 24 de agosto de 2013

O LAÇO DA TUA SAIA

Faço o passo à passo,
E com um compasso
Eu refaço os seus passos
Que são um círculo infinito.
Visto que despercebido
Eu não passo,
Eu não sei mais o que faço
Pra acabar com esse espaço.
Eu refaço o contrapasso
E tento alcançar o laço da sua saia.
Caia, mas por favor não vaia
O meu fracasso porque meus passos
Foram só pra te seguir.
Fico no espaço vasto
Que me permitir
Roubar o laço da tua saia
E te ver sorrir.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

TUA CASA, MINHA MORADA

     Escrevo-te aqui o que teus ouvidos por tanto tempo se recusaram a ouvir de meus lábios, as palavras que guardo desesperadamente comigo aqui dentro. Amo-te. Quero-te, quero teus cabelos que sonho alisar, toda sua face bela e serena, teus seios que anseio para dormir recostado à eles, tua mão para que se prenda à minha, teus dedos para alisar-me a face e tuas pernas para elevar minha libido. Mas acima de tudo anseio por duas coisas, pelo teu coração, para alegrar-me a alma e retribuir-me o amor, e pelos teus lábios, para selar este meu sonho tolo que é tê-la. Sei que estás deveras machucada, mas peço que isso não lhe impeça, peço para que abra-me as portas do teu coração e me deixe entrar, não lhe peço-o por completo e nem lhe peço moradia, teu coração é tua casa e tudo que lhe peço é uma visita. Quero te provar que eu posso fazer você ser uma pessoa mais feliz, que posso consertar os danos dessa tua casa. Posso reerguer quatro paredes para a gente, posso consertar o vidro quebrado daquela janela e até pôr-lhes novas cortinas. Posso ajeitar aquele pé torto da sua mesa de jantar e lustrar todas as cadeiras. Posso pintar as paredes que estão descascando e até mesmo consertar a televisão. Posso lavar tua louça e tuas roupas sujas, tirar a poeira e as lágrimas que estão embaixo do tapete ou atrás dos móveis. Posso ser teu eletricista, encanador, marceneiro, arquiteto, pedreiro, ou qualquer outra coisa que lhe reerga a alma, só lhe peço como pagamento que chames o chaveiro para que mudes a fechadura de forma que se ajuste à minha chave. Amo-te, e por isso quero, acima de tudo, provar-te todas as palavras aqui escritas, amá-la por inteiro e todos os dias e pagar, assim, o aluguel dessa casa que pretendo morar. Isso tudo há de ser apenas o mínimo que posso fazer por ti. É o mínimo que posso fazer por quem entra dessa forma na minha vida, encarando-me com esses teus olhos gentis e reestruturando todo o desmoronamento da minha moradia sem ao menos tentar. Entrastes para devolver-me à mim mesmo, para lembrar-me quem sou e lembrar-me o que tenho. E o que tenho é amor, depois de tanto tempo eu o tenho novamente, o tenho por ti. E por isso devo-te todos os agradecimentos, todas as pobres recompensas de quem acaba de reconquistar sua casa. Fizeste tudo isso por mim, então o mínimo que lhe peço é que me deixe agradecer, fazendo-lhe o mesmo que me fizeste e um pouco mais, amar-te.

domingo, 11 de agosto de 2013

CRIA(TI)VIDADE

Até pouco tempo atrás
Eu havia de ser um poeta, um escritor.
Me inspirava pelas grandes e pequenas coisas,
Fossem minhas ou de outros.
Mas então que me aparece você,
Com todo seu ciúme dos meus outros assuntos
E dos meus outros poemas,
E me rouba a inspiração, a criatividade.
Virei um escritor egoísta,
Já não tenho empatia pela história dos outros,
Apenas pela nossa.
Já não tenho interesse na beleza da vida,
Apenas na tua.
Todos os meus versos viraram sobre você,
Todas as estrofes viraram sobre nós,
Todas as minhas rimas forçadas
Terminavam com o seu nome
E todo o texto tinha a sua assinatura ao lado da minha.
A poesia virou minha cria à ti, vida,
De fato, minha criatividade é toda tua.
Me tornei uma fraude,
Um desabafador que escreve à dois.
Já não sou poeta,
Não sou escritor algum,
Sou apenas um amante.
E a pior parte disso, querida,
É que eu gosto.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

MADRUGADA VAI, EU FICO, MADRUGADA FICA, EU VOU

Meu amor, olha lá
Que vem chegando a madrugada,
A minha hora já é dada
E agora devo partir.
Olha lá que já ta tarde,
Não tarda pro sono vir.
Sei que você não pede pra ficar,
Mas é minha escolha demorar
E roubar um pouco mais do teu olhar.
Só lhe peço um beijo de boa noite
Pra poder dormir uma noite comprida,
Sonhar sonhos contigo
E acordar de bem com a vida.
Que amanhã acordo cedo,
Alguém tem que pôr comida na mesa
E um anel no seu dedo.
Olha lá, meu amor,
A madrugada já vem vindo,
Vamos seguindo o nosso caminho
Que nosso destino final
Espera nos ver dormindo juntinhos.

OLHOS DE MARFIM

Ah, minha querida, meu amor,
Meu anjo de marfim,
Minha dama cujo nome me clama,
Não me dissestes o queres de mim.

Não que tenha dito eu,
Mas deixo claro à ti e à todo o réu,
À todos os detetives e leitores desse velho papel,
Os sentimentos e intenções que pra ti guardei.

E nem precisei jogar a garrafa no mar
Pra alcançar o horizonte desses teus olhos frios,
Apenas precisei em silêncio gritar
Para ver chegar a mensagem que para ti guardei.

E vendo-lhe ler a mesma carta na qual chorei,
Com esses teus olhos vazios de marfim,
Frios, duros e opacos como teus sentimentos por mim,
Penso que devo, talvez, desistir.

Desculpa se minhas conclusões são errôneas,
Mas o que mais reservaria o meu fim?
Se apenas vejo-te me afastando,
Não seria também o teu coração de marfim?

Brincando friamente com o meu
Nesse jogo sem fim
Onde eu não sei nem as regras,
Apenas rezo e peço trégua.

Perdão, perdão por atribuir-lhe pensamentos tão ruins,
Estou retornando à costa
E saindo do mar dos teus olhos duros.
Talvez nem ouças mais falar de mim.

Mas se não é o que queres então mande-me um sinal
Uma correnteza ou uma onda desenhada nos teus olhos opacos
Que me faça desistir de pensar-lhe mal
E remar de volta à teus olhos de marfim.

Em mim, sabes bem,
Que por ti só há amor,
Talvez algum dia ainda me permitas
Ver teus olhos com outra cor.

Mas por hora,
Te olho e só enxergo marfim,
Mar fim,
Mas, fim.