Era um dos mais natos narradores que já conheci, famoso por sempre contar histórias em mesa de bar, desbancava qualquer conto de pescador. Um sujeito sorridente, com ânsia de fama e de aprovação, sempre com um conto pronto no fundo da garganta e no raso da memória, não importava o assunto. Já tinha todas aquelas histórias decoradas de cabo a rabo, mas vez ou outra gostava de aumentar ainda mais o exagero para efeitos literários. Muitas de suas histórias eram sobre ele mesmo, enaltecendo-o a cada sentença. Algumas eram verdades exageradas ou alteradas, outras eram apenas o mais puro mito. O que importa era essa necessidade de mentir, de se auto afirmar... Bem, na verdade a necessidade era de afirmar o seu personagem, visto que ele não era quem ele contava ser. Talvez tivesse medo de se mostrar como o humano que era, então criava o personagem, o alter-ego, o anti-herói do seu próprio conto de fadas. E assim, o narrador se confundia com o protagonista, e, de repente, os dois eram um só, já não existia o homem, apenas o conto. E no final, o contador de história era apenas isso, apenas outra de suas próprias histórias, inconscientemente ele havia deixado de ser ele mesmo e havia se tornado um conto, um personagem. Mas ao contrário de seus contos, ele não controlava a história, ele não previa o final, e assim, inconscientemente, frustrava-se. Ele era um contador de histórias que não podia terminar um conto, que não sabia o final, era um escritor sem controle sobre sua obra. O pior tipo literário que pode haver.