terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

O CONTADOR DE HISTÓRIAS

     Era um dos mais natos narradores que já conheci, famoso por sempre contar histórias em mesa de bar, desbancava qualquer conto de pescador. Um sujeito sorridente, com ânsia de fama e de aprovação, sempre com um conto pronto no fundo da garganta e no raso da memória, não importava o assunto. Já tinha todas aquelas histórias decoradas de cabo a rabo, mas vez ou outra gostava de aumentar ainda mais o exagero para efeitos literários. Muitas de suas histórias eram sobre ele mesmo, enaltecendo-o a cada sentença. Algumas eram verdades exageradas ou alteradas, outras eram apenas o mais puro mito. O que importa era essa necessidade de mentir, de se auto afirmar... Bem, na verdade a necessidade era de afirmar o seu personagem, visto que ele não era quem ele contava ser. Talvez tivesse medo de se mostrar como o humano que era, então criava o personagem, o alter-ego, o anti-herói do seu próprio conto de fadas. E assim, o narrador se confundia com o protagonista, e, de repente, os dois eram um só, já não existia o homem, apenas o conto. E no final, o contador de história era apenas isso, apenas outra de suas próprias histórias, inconscientemente ele havia deixado de ser ele mesmo e havia se tornado um conto, um personagem. Mas ao contrário de seus contos, ele não controlava a história, ele não previa o final, e assim, inconscientemente, frustrava-se. Ele era um contador de histórias que não podia terminar um conto, que não sabia o final, era um escritor sem controle sobre sua obra. O pior tipo literário que pode haver.