Há de ser belo o momento da morte, é de uma beleza decrépita e mórbida que poucos são capazes de ver. O momento da morte é o momento do perdão, os ali presentes são amigos esquecidos, amores antigos, velhos inimigos... Mas naquele momento, hão de tudo esquecer, e apenas respeitar o silêncio do defunto.
É na morte que recebemos o valor que tivemos em vida, pois é na falta que se vê a necessidade. Podes achar que falo apenas em sentimentalismos, mas falo também em ciência, quantos não foram os cientistas cuja fama deu-se na pós-vida? Falo da distância mínima do perceber no olhar, na qual é tão invisível aquele que está tão próximo de nós... Falo também
Na morte há o esquecimento dos erros, há às vezes, também, a invenção de valores. Quantos não foram os epitáfios exagerados ou mentirosos espalhados em nome de entes queridos e não-queridos? Ao caminhar por um cemitério vejo quase sempre os mesmos mortos, mesmo epitáfio, mesmas mentiras sobre qualidades sem defeitos dos que se foram, a mesma ilusão de perfeição... Mudam-se apenas os ricos e pobres, túmulos maiores, bem decorados, escritos e pintados, já outros, normais, sem beleza, iguais...
Desculpem-me, mas hei de acabar com a igualdade pós-vida e com as mentiras epitáficas, pois deturpam a beleza da morte e distorcem o silêncio dos mortos.
Acabam com a singularidade de cada ser e com cada um de seus defeitos, que vos digo, são tantos! Devem viver a morte com a mesma singularidade e pecados que se viveram a vida, sem invenções de perfeição, apenas com o perdão dos que ficam, ficam chorando, chorando a beleza do morrer.
Nos mortos há apenas duas simples igualdades, hão de viver sós e morrer sós, como hão de viver a vida como se vive a morte, rapidamente, porém, dolorosamente.
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