sexta-feira, 30 de setembro de 2011

SOBRE MENTIRAS, DECEPÇÕES E CICLOS DE DOR, ENFIM... SOBRE SORRISOS

   Estavam três amigos em uma mesa de bar a conversar. O primeiro havia acabado de descobrir que sua mulher o traía. O segundo havia sido deixado pela namorada por tê-la traído. Já o terceiro estava sozinho há algum tempo, então não havia decepção além da solidão.

   O primeiro, depois de virar um copo de tequila, disse deprimido:
  - Sabe, as vezes eu queria ler a mente das pessoas, quem sabe assim eu descobria quando elas estão mentindo para mim.

   O segundo, segurando uma garrafa de cerveja na mão, comentou:
   - Já eu preferia poder voltar no tempo, eu poderia consertar todas as merdas que eu fiz, assim não haveria arrependimentos.

   O primeiro então continuou seu raciocínio:
  - Sabe, as pessoas são muito falsas, elas mentem e manipulam, nunca da para ter certeza de quem está certo ou quem está errado. É sempre uma dúvida cruel, eu estou cansado de pegar mentiras e ser enganado, toda essa falsidade me mata, foi a gota d’água agora.

  O segundo respondeu-lhe:

  - Eu ainda preferiria voltar no tempo, assim, mesmo depois das mentiras, eu voltaria atrás e mudaria as coisas, jamais me aproximando das pessoas erradas.

  O terceiro, que estava apenas a observar a conversa interrompeu-lhe:

  - Mas espere, se você voltasse atrás e mudasse as coisas, a sua dor seria a mesma, e continuaria lá. Porque o fato já teria ocorrido antes.

  O segundo pensou por um tempo e respondeu-lhe o seguinte:
 
  - Muito bem pensado, mas isso impediria de que o fato tivesse acontecido, assim muitas coisas no futuro seriam mudadas, apesar de que a dor continuaria, e o tempo gasto com o erro seria reposto por uma pessoa que valesse mais a pena. Além do que, imagine o que seria uma vida sem decepções, todos os seus erros poderiam ser consertados.

  O primeiro pensou e acabou por concordar som o segundo. Já o terceiro continuava discordando dos dois. Que acabou por concluir o seguinte:

  - O pensamento de vocês é egoísta, ler mentes seria algo horrível, a verdade por si só, por completo, é algo que ninguém conseguiria lidar. Sei por ser alguém que costumava falar apenas a verdade nua e crua. E do que seria a vida sem decepções? Nós não aprenderíamos lições, não aprenderíamos a nos levantar. E se fosse um erro que não tivesse em nada sua culpa? Como você o consertaria? Isso não mudaria muitas coisas.

  Os dois primeiros indignaram-se com o argumento do terceiro, e perguntaram-lhe o que ele queria então. O terceiro, depois de virar um copo de vodka, respondeu-lhes calmamente:

  - Eu queria poder fazer as pessoas felizes, simplesmente. Imagine, se todos fossem felizes por completo, não haveria tantas mentiras, pois muitas mentiras são criadas por medo da verdade, pois a verdade já deu-lhes tristeza, muitos acreditam que mentindo se pode ser mais feliz, por existirem pessoas incapazes de dar-lhes felicidade com a verdade, ou por terem mentido para eles também, entende? É tudo, um enorme ciclo de dor e ódio. Se todos fossem felizes, não haveria medo de dar o passo adiante, nem o medo de agir ou o medo de confiar. As pessoas errariam menos, sentiriam menos dúvidas, quem sabe até perdoariam mais. Não culpe as pessoas em si, mas sim o conjunto inteiro de pessoas, pois todos nós temos culpa nisso. Como eu já disse, é um eterno ciclo de dor e ódio, feito por pessoas ruins, mas a maioria por pessoas machucadas, tristes, frias por serem feridas pelo excesso de sentimento. Tudo o que eu mais queria era isso, poder fazer as pessoas felizes, mas, infelizmente, eu não posso...

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

UM SONHO DE INFÂNCIA

Lembro-me de uma conversa há uns anos atrás,
Pouco menos de oito eu suponho.
Que fique claro ao leitor que hoje tenho dezoito anos,
Então na época eu havia de ser uma criança por volta de seus doze anos.
Eu conversava com dois amigos,
Que falavam do que desejavam fazer quando crescer,
Um seria veterinário, pois havia de amar os animais,
Outro seria o que o pai é, pouco sabia ele o que o pai fazia.
Depois me perguntaram o que eu queria me tornar,
Respondi-lhes o seguinte:
“Quero aprender a consertar as coisas”
Meus amigos riram e falaram que meu sonho era bobo,
Perguntaram-me porque,
E respondi-lhes:
“Há algo que preciso aprender a consertar”
Espantados, me perguntaram o que era,
E novamente respondi-lhes:
“Preciso consertar o mundo, ele está quebrado”.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

POEIRAS DO PASSADO

Do tempo e da memória,
Resguarda um véu de poeira.
Poeira velha, antiga,
Cujo véu cobria-lhe a face e a forma.
Era algo que transgredia do passado,
E não de um passado qualquer,
Mas do meu passado.
E esse algo ou alguém vinha em minha direção,
Caminhando sobre os anos esquecidos,
Escondendo-os sobre o véu
E trazendo-os com si como poeira.
E lhes aviso que tal passado era antigo,
Era obscuro e cheio de dor.
Subjuguei-o, lancei-o ao tempo,
Lancei-o ao esquecimento no fundo da memória.
Lancei meu passado no passado,
Joguei-o fora.
E de tal passado enevoado,
Enevoado pela vontade de esquecer,
Trouxe dois amigos comigo,
Como um baú de brinquedos.
E apenas isso, apenas dois amigos.
Mas então me vem este ser antigo
Que caminha através do tempo,
Quebrando todas suas barreiras,
Quebrando todas as paredes que construí para separá-lo de mim.
Este ser caminha através dos anos,
Remetendo-me ao passado.
E eu o abraço,
Abraço meu passado e tal ser,
Pois este ser antigo criou-me um significado,
E a partir dele (o ser), dei valor ao tempo.
Ao tempo outrora passado,
Hoje, presente.
Retirei-lhe o véu e a poeira,
Limpei-a como se limpa o álbum de fotos empoeirado,
Vi sua face e forma.
Eram tão belas,
Ela era tão bela.
Beijei-a então,
Pois eu havia de fazer dela minha amante,
Amando assim os fragmentos do meu passado.
Eu a amei,
Trouxe-a para mim como se traz a infância,
Pois era o que ela era,
E é o que somos...
Crianças,
Brincando com nossos castelos de areia,
Nossos beijos inocentes,
E nossos pequenos dedos entrelaçados.
Então fiz do meu passado o meu presente,
Porém as ruínas de um presente já presente,
Fizeram do novo passado também ruína.
E assim tudo arruinou-se,
Desabando todos nossos castelos de areia,
Fazendo de tudo poeira.
E assim como ela veio,
Ela também se foi,
Como poeiras do passado.
Assim como tudo está destinado a um dia ser,
Poeiras do passado...

domingo, 18 de setembro de 2011

O DIA ETERNO

Durante o pôr-do-sol,
Prometa-me dar-me a mão,
E permaneça comigo,
Assim, como costumamos ficar.
Durante o pôr-do-sol,
Deixe-se desviar os olhos,
E que pairem sobre os meus,
Que já estarão a observando,
E prometa-me deixar que eu a afague,
Com minha doce mão de amante.
Quando a Lua nascer,
Deixe-me compará-la a ela,
Deixe-me pegar um brilho de uma estrela para você,
E entregar-lhe aquela carta,
Que guardei para a hora certa.
Quando a Lua nascer,
Prometa-me todo seu carinho,
Prometa-me poder repousar meus lábios nos teus,
E deixe-me falar quantas vezes for, que a amo,
E prometa-me retribuir-me este amor.
E quando a noite cair,
Caia em meus braços,
Pois eles sempre a segurarão,
Se entregue a mim como já estou entregue a ti.
E quando a noite cair,
A faremos durar,
Durante os últimos minutos sob a romântica luz prateada,
Deixando de lado as promessas, o contrato,
Entregues apenas ao doce desejo,
Salgado pelo fluido corporal.
Pois quando o dia raiar,
Só me prometa que vamos permanecer juntos,
Um de frente para o outro,
Acordando sob o mesmo lençol bagunçado,
Sob o mesmo teto marcado,
À luz de um espelho riscado,
Juntos na eternidade que durar.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

SOBRE MASOQUISMO E MARCAS DE POSSE

Arranhe-me,
Rasgue-me a carne,
Ouça meu grito abafado como alarme.
Alcance minha alma,
Não, não alcance, tenha calma.
Pode ser até de relance,
Mas veja,
A alma que tanto almeja
Já foi por ti tocada,
Esvaindo-se pela carne rasgada
Para tornar-se entrelaçada a tua,
Deixando-a entrar pelos poros da pele nua.
Pele nua, faça-se a face também nua,
Despindo de ti as mentiras cruas,
Tornando teus olhos em flor,
Flores cheias de amor
Mas que com espinhos me fere,
Que dor!
São seus carinhos e preces sem mais rancor.
Delicioso é tal sabor
Que escorre dos meus hematomas de amor,
E tu lambe-me tal licor,
Causando-me esta leve aflição.
Porém não pares não,
Pois me delicia tal sensação.
Dor leve, suave,
Libido elevado feito ave,
Por meu corpo por ti ferido, marcado,
Como território delimitado.
Porém já sou teu,
E tu és minha,
Assim como já está escrito em cada breve linha,
Assim como está também escrito em partes do meu corpo,
Em traços escarlates, de jeito torto,
Porém bem visível,
Um erro plausível,
Aceitado pela mão que me cura,
Mão tua,
Mas que também és minha,
Como já bem visto desde o começo do texto,
Até esta última linha.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

AQUILO QUE JAMAIS HÁ VOLTA

   Perdão, desculpas, atos jogados sem raciocínio. Deixamos-nos levar pela ira e pela cólera, atiramos e matamos... Mas apenas por dentro, por fora alguns ainda conseguem estampar um breve sorriso. Atiramos e matamos mas sem deixar escorrer sangue, apenas escorrer lágrimas. Mas tudo tem volta para aqueles que conhecem o perdão. Menos as palavras, elas não, elas não voltam à boca ou à mente de quem as atirou.

   Até mesmo uma punhalada, no final, volta. Pois depois de fincado, o punhal é retirado... Ele retorna. Sei que isso não muda a dor, não instantaneamente. Torna-se uma ferida de imensa dor constante mas que sara e passa, tornando-se no máximo uma cicatriz. Mas a cicatriz não dói, se você tocar nela não sentirá dor. E se você se lembrar da punhalada, a lembrança não reviverá as dores do passado.

   Já as palavras, não. Uma vez atiradas elas se fincam em você e jamais saem. Podem até não serem feridas de dor constante, mas serão feridas que jamais sararão. Serão feridas para sempre abertas que irão doer sempre que você as tocar. Até mesmo as que saram doem quando você se lembra. É como se invocassem as dores do passado ao presente.

   Assim são também algumas ações, essas tais de "ações sem volta"... E mesmo que haja o perdão, essas ações ou palavras desencadeiam uma série de reações, atitudes, inseguranças, mágoas e/ou dores. É como bem disse Newton: para toda ação há sempre uma reação oposta e de igual intensidade. Então não se deixe levar pela ira, acalme-se e reflita, pense bem no que vai fazer e, principalmente, falar. Pois algumas coisas... Elas não voltam atrás... Algumas dores não retornam e as palavras também não... Não... Elas nunca têm volta.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

OS ROMANCISTAS

Os três amigos haviam se apaixonado,
E pela mesma mulher começaram a brigar,
José de Alencar, Vinícius de Moraes e Jorge Amado,
Decidiram que pelo amor da dama iriam disputar.
José foi o primeiro,
Disse que usaria da educação e sensualidade para conquistar,
Era um cavalheiro, tinha certo dinheiro,
Levou a dama para jantar.
Abriu-lhe a porta do carro, beijou-lhe as costas da mão,
Até puxou-lhe a cadeira para sentar,
Disse que sem ela morreria em vão,
Assim consegui-a beijar.
Mas de nada havia adiantado,
Pois seu coração ele não conseguira conquistar,
Havia sido cavalheiro e educado... Mal-amado,
Só restava se lamentar.
Vinícius de Moraes fora o segundo,
Disse que para ela iria tocar e cantar,
Era um compositor profundo,
E até à praia decidiu a levar.
Para ela ele compôs, tocou e cantou,
Era uma melodia serena que faria ela se entregar,
Mas que de nada adiantou, nem um beijo ganhou,
Pois foi incapaz de fazê-la se apaixonar.
Os dois amigos se juntaram de coração partido, ferido,
Foram ao bar beber e chorar,
Era então a vez do terceiro amigo,
Que já estava a gargalhar.
O terceiro fora Jorge Amado,
Chamou-a à própria casa para conversar,
Romântico, levou-a ao telhado,
E sob o céu estrelado começou a se declarar.
Recitou seu poema de palavras tão belas,
E ela começou a se encantar,
Mas foi no jantar a luz de velas sob a vista da janela,
Que começaram a namorar.
E então o tempo passou,
E ele queria se casar,
Na frente dela se ajoelhou,
Apenas para ver o coração quebrar.
Ela disse que não queria casamento,
Queria apenas um par,
Deixou-o nesse eterno sofrimento,
Desesperado a chorar.
José de Alencar, Vinícius de Moraes e Jorge Amado,
Todos juntos num bar,
A amizade inteira haviam reatado,
Pois tinham em comum o chorar.
Depois de um tempo acabaram por descobrir,
Que aquela mulher acabara por se casar,
Nada conseguiram sentir,
Além de um leve pesar.
Jovem, jogador de futbol e corpo atlético,
Pai rico, jamais tivera problema em gastar,
Mas possuía um espírito fétido,
Pronto para a enganar.
Comprou-lhe um carro, um anel de diamantes e uma casa,
E foi o suficiente para ela se encantar,
Tinha os olhos brilhantes que não serviram de nada,
Pois iria se decepcionar.
De tanto se iludir, não sentia o que estava por vir,
Como teria certezas pelos presente que só se podiam apalpar?
Ele logo começou a lhe trair,
E foi o suficiente para seu coração quebrar.
Os três amigos nada podiam fazer,
Apenas lastimar,
Pois eles tinham tanto a oferecer,
E ela se apaixonara por alguém sem nada para dar.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

SIMPLESMENTE SILÊNCIO

E é neste silêncio,
Nessa absurda ausência de palavras,
Que percebo o quão grande é também sua ausência,
Percebo o quanto sinto sua falta.
E é neste silêncio,
Meio a sua presença,
Mas na ausência de palavras,
Que vejo o como apenas estar com você,
Já é tudo pra mim,
Apenas ao olhar o quanto é bela,
Ou o quanto a luz da Lua realça seus olhos.
Percebo que não necessitamos palavras,
Nem da mais simples ou composta oração,
Nem de subordinativos ou subordinados.
Não necessitamos palavra alguma,
Não necessitamos som algum,
Apenas gestos,
Do mais simples ao mais complexo,
Desde um abraço ou simples laçado de mãos,
Até um tocar de lábios,
Apaixonados como nosso coração.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

NOSSA HISTÓRIA SEM FIM

Antes era tudo frustração,
Amores lançados sem precisão.
Minha incerteza e sua insegurança,
Entrelaçados como em brincadeira de criança
Num eterno defender e atacar,
Onde suas palavras vinham pra matar.
E eu fazia apenas resistir,
Me perguntando se dali algum amor poderia fluir.
Depois veio o tempo de revidar,
Pois eu já havia desistido,
Estava cansado de tanto me machucar
E achei que aquele amor já havia morrido.
Mas então você veio se redimir,
Me tratando da forma como sempre lhe pedi.
Mas mesmo assim não parávamos de brigar,
Pois nossa confiança jamais tentamos melhorar.
Então passou-se o tempo,
Que aos poucos curou nosso desalento.
O inverno foi aos poucos passando,
Dando ar à esta primavera de flores,
De flores como as de nossos olhos quando nos amando,
Apagando então todos os resquícios de dores.
Agora é tudo mais belo,
O verde com vermelho, o azul com amarelo...
Todas suas cores me encantam,
E com a voz que guardas, elas cantam,
Cantam sobre a felicidade de estar com você,
Cantam sobre um amor que ninguém vai entender.
Mas pouco me importa se ninguém entender,
Pois nessa relação só há eu e você.
E mesmo apesar de tudo ainda me sobra uma ferida,
Ainda levo comigo um leve machucado,
Sabe o que ainda me frustra, querida?
Te desejar boa noite mas não dormir ao teu lado.