terça-feira, 8 de janeiro de 2013

VAZIO

Arrumei-me, vesti aquela jaqueta de couro que eu tanto gosto,
Pus aquele perfume que elas tanto gostam, e saí.
Acendi um cigarro, olhei para o céu,
Dei um longo suspiro e voltei a caminhar com minha mão no bolso,
Rumo à mais uma noite.
Eu já havia me acostumado com aquele buraco,
Aquele vazio que agora jazia em meu peito.
Também havia me acostumado a preenchê-lo apenas momentaneamente,
Pois era a única maneira que eu havia encontrado.
Com uma garota apertada entre os braços
E sua língua a se enroscar na minha.
Nada mais me preenchia,
Ninguém mais me preenchia,
Por isso gostava daqueles momentos,
Por alguns instantes eu me sentia cheio,
Não completo, cheio.
Sentia como se tivesse um coração ali novamente,
Mesmo que não batesse por amor.
Ele batia era por adrenalina,
Batia por desejo,
Desejo de possuir seja quem fosse a garota na minha frente.
E foi em uma dessas noites vazias e animadas em que notei...
O mesmo desejo corria nas veias da garota
Cujas unhas arranhavam-me as costas.
Foi assim que acabamos em um motel qualquer por perto dali.
Quando terminamos, acendi um cigarro
Enquanto a cabeça dela repousava acordada em meu peito,
E sussurrei, como quem falasse apenas para si mesmo,
"Ninguém preenche meu vazio por completo."
Ela me olhou como que para se certificar de que eu havia dito algo,
Mas então percebi que ela não havia ouvido direito.
Respondi: "não é nada... Hum... O que você viu em mim?"
Com uma pergunta que continha um misto de curiosidade e surpresa.
Ela olhou bem nos meus olhos e disse: "três coisas",
Indicando um número três com os dedos.
"Primeiro, seus lábios, gostei deles e desse seu piercing.
Segundo, seus cabelos, eles são lindos e cheios,
Daquele jeito que é legal agarrar durante o sexo."
Sorri e passei a mão no cabelo
Lembrando do momento em que ela os agarrara.
"Em outras palavras, bem... Você é bonito,
Mas a terceira coisa acho que supera as duas primeiras."
Apaguei meu cigarro que já estava no final
E prestei atenção naquele último motivo.
"Seus olhos... Eles são tão... Vazios... É... É belo...
Como se fossem cheios de mistérios e incertezas,
De um passado obscuro e um futuro incerto.
Mas não é aquele vazio de quem nunca foi completo,
É um vazio de quem foi completo mas se perdeu."
Acendi outro cigarro pra disfarçar a vergonha que sentia naquele momento,
Ou talvez apenas para me dar tempo para pensar no assunto,
Quem sabe até como resposta, ou como silêncio.
Eu estava nu naquele momento,
Mas só apenas depois do que ela havia dito que eu realmente me senti assim,
Nu, de uma forma que poucas vezes eu estivera na vida.
"Eu sei porque eu conheço, eu entendo o que é ser vazio,
Conheço e entendo porque também sou."
Surpreendi-me com aquilo,
Pensei até que ela poderia ser aquela quem taparia o buraco do meu peito,
Mas então, pra decepção da minha esperança mal formada, ela continuou:
"Mas meu vazio não está nos olhos e nem no peito,
Meu vazio está entre as pernas,
E hoje... Querido... (Ela descia seu indicador pelo meu corpo enquanto falava)
Você o preencheu muito bem."
Ela me deu um sorriso safado e quase gargalhei,
Mas acabei por tossir engasgado com a fumaça do cigarro.
Levantei da cama com meu membro viril ainda à mostra
E olhei para o teto como se pudesse ver o céu e suas estrelas através dele.
E ali fiquei, pensativo, até que soltei um longo suspiro e me vesti.
"É só mais uma qualquer,
Que preencheu meu vazio com alguma substância secundária à necessária,
E cujos fluidos permanecerão alguns dias,
Até que o vazio volte por completo novamente."
Disse-lhe que iria embora e joguei o dinheiro na cama para que pagasse o motel,
Então parei, parei pois percebi o que havia acabado de acontecer.
Eu havia jogado o dinheiro à uma amante de uma noite como se joga dinheiro às prostitutas,
Sem carícias e nem beijos de despedida,
Enchi-me por tamanha vergonha que meu vazio quase vazou.
Saí, triste, com meu último cigarro na boca, e pensando:
"No que é que eu me tornei?"

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