quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013
O VELHO ROBERTO
Pôs seus chinelos, espreguiçou-se, limpou bem os olhos com as mãos e pôs seus óculos. Andou com seus passos fracos e decididos e saiu para a varanda. Sentou na sua velha cadeira de balanço, olhou para o quintal e para o seu pé de manga, observou um pouco as nuvens, e então pegou seu cachimbo já pronto na mesinha ao lado. Acendeu uma vez, soltou, acendeu novamente e desta vez soltou em forma de anéis. Ficou a observar os anéis perfeitos a voar e tremeluzir à sua volta até se desfazerem. "Décadas de prática", pensou. E então tentou pôr seu dedo fraco e trêmulo do meio de um dos anéis, "como se fosse uma aliança", pensou. E ele realmente poderia se casar com aquilo, com aquela fumaça, aquelas noites de memórias fragmentadas, as bebidas, as festas, as prostitutas... Ele poderia ter se casado com aquilo que passou anos se relacionando, mas não o fez. E naquele momento ele não soube dizer o porquê. Acabou por se lembrar do medo que tinha naquela época de ter a idade que tem agora. Olhou para o próprio corpo e passou as mãos uma na outra, sentindo-as. "Os restos do que fui um dia", pensou. Então que ele ouve uma voz que o chama dizendo que o café está pronto. Era sua mulher, a mulher que havia se casado ao invés daquele anel de fumaça. E de repente lembrou-se de tudo que havia esquecido. Ouviu a mulher chegar ao seu lado e então sorriu, beijou-lhe os lábios e foi para a mesa. "E eu ainda fui tolo de temer isso", pensou com um sorriso na face.
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