Era uma sala como qualquer outra, um grupo de alunos de ambos os sexos sendo lecionados por um grupo de professores. Era um colégio rígido, um dos mais caros daquela cidade. Os alunos, apesar de distintos fisicamente, eram todos iguais. Chegavam na mesma hora e se dirigiam à sala em fila indiana, seguindo aquele mesmo ritmo que há alguns anos já vinham repetindo. Trocavam olhares e acenos com a cabeça por mera educação, assim como lhes fora ensinado. Sentavam na sala e dirigiam toda atenção à aula, assimilavam e anotavam tudo sem questionar, pensar ou, de fato, entender. E depois de bater o sinal todos saíam depois da ordem do professor no mesmo ritmo que entravam, robotizados, quase que conduzidos como bois.
A Loucura, que assistia à tudo incrédula, indignou-se com tamanha falta de si mesma naquelas pessoas. Então, num dia que parecia ser como qualquer outro, resolveu dar-lhes um presente, deu a eles um pouco dela mesma, mesmo que só por um tempo. E com um simples sopro de si mesma, toda aquela sala fora transformada. O primeiro efeito foi um aluno que pegou sua cadeira e a arremessou contra a janela, quebrando-a. Ele sorriu como jamais havia sorrido naqueles anos, sorriu como se estivesse quebrando não a janela, mas a rotina, sua timidez, seu medo. Sorriu como se estivesse arremessando não a cadeira, mas suas mágoas e sua raiva. O professor tirou sua gravata e jogou-a no chão, e rasgando o próprio terno enquanto pisoteava a gravata, bradou com orgulho "estou livre!!!!", então sorriu como se estivesse saído da prisão em que ele próprio havia se posto. Um outro menino chamou uma garota para dançar e então valsaram juntos e felizes. Uma menina declarou-se para um menino, que também declarou-se para ela, então começaram a se beijar. Vários alunos começaram a dançar, sorrir, cantar e gritar. E todos riram, riram felizes, como se jamais houvesse tanta felicidade em suas vidas.
Então todos deixaram sua sala e saíram correndo pelos corredores batendo em todas as portas e convidando todos os outros alunos à loucura. Vendo a espontaneidade e a alegria de todos, alguns alunos aceitavam o convite e se juntavam ao bando. Riam e dançavam, sendo contagiados pela loucura. Ao fim do dia, e depois de controlada a pequena revolta, todos os alunos voltaram para as suas casas sem mais o efeito temporário que haviam recebido da Loucura.
No dia seguinte, vários alunos chegaram em horários diferentes, não entravam na sala assim que chegavam e nem eram conduzidos por um bater de um sinal. Eles conversaram, riam, mudaram seu jeito de reagir e ver as coisas. O aluno que pediu à menina para dançar foi repreendido por seus pais assim que souberam do ocorrido, então ele voltou normal como sempre fora, porém com amigos, mais comunicativo. Assim também fora com o que jogou a cadeira na janela, mas ele não ligou, continuou sendo do jeito que lhe trouxe felicidade e enfrentou todos com sua própria convicção. O professor, com medo da pressão pública, retornou ao seu dia-a-dia, de terno e gravata. Mas todos os outros haviam mudado, haviam se tornado um pouco mais como loucos.
A Loucura não havia lhes dado a loucura, havia lhes mostrado o que era, e deu a eles a escolha para seguirem como bem quisessem. E todos a quiseram, pois vos digo, caros leitores, a loucura é algo fascinante. A loucura é a maior das qualidades, ou melhor, é um grupo de qualidades. A loucura é um grupo constante de qualidades variadas, seja sinceridade, espontaneidade, felicidade... A loucura é o melhor que pode haver no ser humano (junto com o amor, sem dúvida). A loucura contagia, faz feliz todos que vivem ao seu redor. A loucura é simplesmente isso, a arte de ser você mesmo sem medo do que todos pensam, a arte de ser artista da vida, de dançar e fazer do mundo um palco, um salão de dança, uma folha de caderno ou um violão. A arte de ser louco é isso, é como um salto em meio à olhos zangados de opressão, um ritmo sob um lago de lava, uma folha que voa morta pelo inverno, um sorriso virado ao avesso e de cabeça para baixo, a lágrima guardada no pote da prateleira, o amor que não é flechado em si, mas sim, lançado por ti.
Entenderam? A loucura é um dom, uma dádiva da Loucura para seus filhos, os loucos, pois mãe que é mãe, faz de seus filhos felizes. E a loucura, caros leitores, é a maior das felicidades.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Olá, meu caro leitor. Faça um escritor carente e necessitado feliz, deixe seu comentário.