Há em meu quarto de dormir uma cortina,
Na verdade não passa de uma cortina improvisada:
Um lençol, uns pregadores, nada demais.
Eu, como o homem humilde que sou,
Não rogo por luxúrias desnecessárias,
Mas admito que a desejo, a cortina.
Não digo os meus farrapos improvisados,
Mas uma cortina de verdade,
Uma que me cubra e me esconda melhor,
Uma que dificulte mais a entrada de luz.
Vejam bem, eu odeio a luz,
Sou uma criatura da noite
Eternamente trancafiada em meu interior,
Eu sou o meu quarto e meu quarto sou eu.
Por isso que a cortina fica sempre fechada,
Eu não quero que o mundo me veja
E nem quero ver o mundo,
Que cheira pior que o odor de cigarro em meu quarto.
Mas maldito seja o acaso
Por me por numa situação em que tive de trocar a cortina.
E um por um tive de retirar os pregadores,
Primeiramente os de baixo
Para a cortina permanecer de pé,
Depois fui tirando os de cima
E fazendo o possível para me esconder
Atrás do que restava da cortina ainda presa
Até a cortina cair.
E por alguns segundo ela lá ficou
Até que eu a trocasse.
E durante esses míseros segundos
Eu me mostrei, fiz parte do mundo,
Eu fui o palco e o palanque,
Fui dono do mundo e servo dele,
Exibido para ele como um qualquer
Seguindo a simples rotina de trocar cortinas.
Por alguns segundos eu fui o mundo,
Mas o mundo não me foi de volta...
Reergo a cortina e reponho os pregadores,
"Eu escapei ileso do mundo",
É o que eu poderia ter dito uns anos atrás,
Hoje, eu já não digo mais.
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