quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

CAMINHADA

Eu andando e ela logo atrás,
Eu ouvia seus passos,
Às vezes mais próximos,
Às vezes mais distantes.
Ouvia o ruído irritante
Quando o som dos passos
Tornava-se mais nítido,
Acho que ela tentava falar.
Eu caminhava com a angústia no peito,
O choro batendo no rosto para sair
E tudo que eu mais tinha vontade
Era gritar, chorar,
Me virar e mandá-la sentar e ficar
Como à um cachorrinho,
Ou empurrá-la e correr.
Mas não, apenas andei.
Andei até que aos poucos
Eu fui aumentando o ritmo,
E ela, diminuindo o dela,
Até o ponto em que ela parou,
Estagnou, ficou.
Eu já não ouvia seus passos,
Ela ficou para trás.
Dizem que não sou homem
De olhar para trás ao ir embora
Ou me despedir,
Mas dessa vez,
Dessa única vez, eu olhei.
Olhei e vi meus erros,
Os erros dela,
Todos os sinais
Que eu, em minha cegueira
E em minha vontade de continuar,
Me recusava a ver.
Dizem que eu não olho para trás
Ao dar adeus, mas eu olhei.
E quando, enfim,
Toda a vontade de chorar e gritar
Se realizou, sorri.

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