segunda-feira, 29 de junho de 2015

SOBRE A POLIDEZ HUMANA

Pedra bruta, pedra lascada,
Pedra fundida, pedra polida,
Gente mascarada, personalidade escondida.
E de nossa selvageria
Restam só os dentes serrados,
Os dentes poidos,
Os caninos amarelados, inutilizados,
Roídos por si mesmos,
Por nós mesmos,
Pela sociedade de lixas e serras
Que dão brilho e depois consomem,
Que transformam feras em homens.
E de nossa cauda cortada
E caída no chão,
Fica apenas o toco, a marca,
A tentativa em vão
De cobri-la com roupas íntimas,
Com roupas de marca,
Fazendo-nos vítimas da grife e da prata.
Mas toda essa polidez do homem
De nada vale contra a avidez da fome,
Contra o instinto nato,
Contra o fato de que continuamos animais.
Pois por mais que se espelhe e abrilhante uma pedra,
Por debaixo de todo o brilho reluzente
Ainda jaz a fera demente,
Se rasgando e se comendo.
Que por estar presa nessa gaiola espelhada,
Vive se agonizando em eterno tormento.
Afinal, toda pedra ainda é bruta por dentro.

2 comentários:

  1. É meu preferido. De todos que já postou e que eu revirei nas páginas do teu blog, esse definitivamente é meu preferido.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado, meu caro Anônimo. É um dos meus próprios favoritos, também. É sempre bom saber que alguém apreciou ^^

      Excluir

Olá, meu caro leitor. Faça um escritor carente e necessitado feliz, deixe seu comentário.