domingo, 7 de junho de 2015

COVA

Vivo. E, com minhas mãos em concha, abro um buraco.
Com meus pés de pá cavo uma cova enquanto ando.
Cada vez mais fundo no vazio do nada,
Cada vez mais raso no outro lado da vida.

Cavo tão fundo que posso gritar e ninguém me escuta,
Posso socar o solo e regá-lo com meu sangue que nada nascerá,
Posso até regá-lo com minhas lágrimas que o solo não salga mais.
Estou no fundo, num espaço vazio e esquecido.

Enquanto isso o mundo gira e a vida continua.
E eu vejo isso tão distante, tão distante.
Os sons, as pessoas, o mundo...
Tudo passa como um zumbido longínquo, um sussurro.

O mundo sussurra, a vida sussurra,
E isso não é o suficiente para me acordar.
Não quero esse sonho calmo e distante,
Quero a realidade, quero a superfície.

Estou no fundo de um oceano onde tudo é lento,
Tudo é distante, calmo e sereno,
Tudo é negro, frio e vazio.
EU sou frio e vazio.

Cavo cada vez mais, mas a culpa não é minha,
Os meus pés são pás, minhas mãos são britadeiras,
E não há nenhum guindaste que me puxe desse buraco, desse vazio.
Pois eu sou o buraco, eu sou o vazio.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Olá, meu caro leitor. Faça um escritor carente e necessitado feliz, deixe seu comentário.