sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

UM DIA NA VIDA DE HUGO

    Era uma noite fria, ventava muito aquele dia, como Ele há de lembrar ainda. Lá fora, alheio ao olhos do pequeno Hugo, que dormia em sua cama, as árvores balançavam violentamente e uma multidão de folhas dançava a dança do vento. Na casa do seu vizinho um galho chegou a cair e quebrar a casinha do cachorro, que, por sorte, não dormia lá naquela noite. E, exatamente em frente à porta da sua casa, Ele se encontrava parado esperando sabe-se lá o que, ou talvez apenas muito ansioso pelo o que estava por vir... Medo? Hesitação? Não, não era nada disso. Ele estava apenas dando uma pausa, assim como o pequeno Hugo brevemente prendeu a respiração e parou diante do presente de natal na noite anterior, Ele parava diante do seu.

     A mãe de Hugo nesse momento se encontrava na cozinha bebendo um copo d'água no escuro da noite. Ela levou o copo aos lábios e bebeu até pouco depois da metade, depois parou, respirou profundamente e terminou o copo, pondo-o levemente na pia para se certificar que não faria nenhum barulho. Mas assim que se virou acabou fazendo todo o barulho que evitou e deu graças à Deus por isso, pois quando ela se virou deu de cara com Ele, que com um movimento súbito tapou-lhe a boca pra evitar que ela gritasse e enfiou-lhe a faca na barriga, rasgando-a horizontalmente para poder ver, com um sorriso no rosto, suas tripas caindo ao chão. Mas Ele não foi rápido o suficiente, antes da facada ela ainda tentou se debater, o que a fez esbarrar no copo que ela mesma havia deixado na pia, derrubando-o no chão.

     O pai de Hugo acorda de súbito no meio da noite com o barulho de um copo se quebrando e percebe que sua mulher não está na cama, ele se descobre de seu lençol, calça seus chinelos e desce as escadas para verificar o que houve mas antes vai ao quarto de Hugo ao ouvir ele gritar "Mãe? Pai?". Ele diz que sua mãe deve ter esbarrado em algo, que ele vai lá ajudá-la e que Hugo deveria ficar na cama. Ambos tão tolos, o pai por não suspeitar de nada e o pequeno Hugo por ir atrás dele logo depois.

     Ao chegar na cozinha, o pai de Hugo se depara com sua mulher morta no chão e suas tripas espalhadas. Sem ter ao menos tempo de chorar sua perda, Ele o surpreende por trás tapando sua boca e cortando-lhe a garganta, sentindo o sangue escorrer da faca para as suas luvas, e das luvas para o pulso exposto. Mas Ele também foi surpreendido ao ouvir o grito de Hugo por seu pai, agarrado ao corrimão da escada com os olhos cheios de lágrima. Ele caminha lentamente até Hugo mas para à sua frente assim que o ouve dizer, com a voz embasada pelo choro e a frase cortada por soluços: por quê? Por quê você fez isso com os meus pais?

     O que o pequeno Hugo não sabia é que não tinha um porquê, e por que haveria de ter? Nem tudo na vida precisa ter um motivo, muito menos tirar a vida de alguém, de algo tão frágil, que morre e se esvai com um simples corte no lugar certo. Ele não conhecia Hugo e nem seus pais, não além do que ele os tem espionado na última semana, apenas para ter certeza sobre o número das vítimas. Ele poderia ter dito isso ao Hugo, Ele se imaginou dizendo "por motivo nenhum" quando olhou nos olhos dele. Mas ao invés disso ele apenas sorriu e estrangulou o garoto com suas próprias mãos.

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