Era um simples cérebro exibido num laboratório,
Inanimado, frio, algo realmente notório.
Isso até o dia em que ela passou...
Ah! E por quê foi ela passar?
Aquele cérebro, só de tê-la por perto,
Reanimou.
E com seus neurônios ainda acordando,
Foi logo chamar a mulher que estava à passar.
E quando ela foi em sua direção...
Ah! O cérebro parecia até coração,
Tamanha era sua emoção.
E logo ele começou a mostrar à ela toda sua inteligência,
Ia mostrando tudo que sabia sobre o mundo.
Falou tudo o que sabia sobre matemática, história, artes ou filosofia,
Mas a mulher não conseguia parar de vê-lo como algo imundo.
E simplesmente foi embora,
Deixando-o só com sua exibição de raciocínio.
O pobre cérebro sentiu-se triste e rejeitado,
Mas por pouco tempo durou sua tristeza,
Logo ele viu um esqueleto pendurado ao seu lado,
Olhou o esqueleto na parede,
E pulou dentro do seu crânio.
Então o esqueleto virou ele,
Já não era aquele velho e acabado cérebro putrefato,
Ele era o próprio esqueleto.
E eufórico com seu novo eu,
Articulado, andando e podendo até mesmo sorrir,
Foi correr atrás da mulher novamente.
Ele se aproximou logo dançando,
Mostrou à ela como era articulado,
Todos seus movimentos e risadas,
Mas a mulher completamente desapegada,
O ignorou novamente e o deixou sozinho.
O esqueleto saiu triste sendo rejeitado novamente,
Mas não demorou pra vir outra ideia em sua mente.
Logo arranjou músculos para cobrir seu esqueleto,
E desse jeito,
Voltou à correr atrás daquela mesma mulher,
Mas foi inútil,
Nem mesmo com toda sua anatomia,
Músculos e porte físico desejável.
A mulher novamente deu-lhe um fora,
E o deixou a lastimar sozinho.
Mas ele não desistiu,
Passou a ser gente,
Conseguiu uma pele lisa e perfeita,
Um belo par de olhos azuis,
E o mais dourado e brilhoso dos cabelos loiros.
E com sua nova aparência divina,
Chegou logo cortejando a doce mulher,
Mostrando seu sorriso de diamante,
Sua beleza invejável,
E seus olhos sedutores.
Mas a mulher não se deixou levar pela aparência,
Foi um pouco mais gentil dessa vez,
Mas deu-lhe o mesmo fora que sempre havia dado.
Mas o homem já estava obcecado,
Ele não iria desistir.
Arranjou uma boa faculdade, se dedicou,
E dentro de alguns anos ele já estava rico,
Então foi novamente procurar aquela mulher que tanto o havia rejeitado.
Chegou pra ela num carrão esportivo,
Esbanjando todo seu dinheiro e fazendo diversas promessas,
Mas a mulher o olhou com tamanho nojo e desprezo,
Que saiu sem nem responder.
Foi a gota d'água,
O homem não podia mais suportar,
Tratou de subir no topo do arranha-céus que era a empresa que ele comandava,
E pulou...
E morreu com o mesmo baque surdo que morreria qualquer um.
Então, o homem rico,
Que foi homem bonito,
Que foi um conjunto de beleza física e anatômica,
Que foi esqueleto articulado e dançante,
Que foi cérebro intelectual,
Voltou à sua maior essência,
Tornou-se espírito.
E foi vagando pelas ruas, triste, cabisbaixo,
Até que aquela mulher que tanto o rejeitou o olhou pela primeira vez.
Ela olhou aquele espírito, aquela essência,
Viu tudo o que tinha de bom nele,
E pela primeira vez, ela correu atrás dele.
E ele, que começou sendo um cérebro,
Aprendeu que não precisava de nada a mais para impressioná-la,
Ele perdeu tanto tempo acumulando coisas e atributos,
Quando na verdade ele apenas precisava se desfazer deles,
Mostrar o que ele era por dentro... A essência.
Porque no fundo, é o que todos queremos em alguém,
Conhecê-lo por dentro...
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