Era noite, estava muito frio, frio como um coração vazio. Um garoto andava sozinho tendo apenas seu cigarro para se aquecer, casaco preto, mãos no bolso, cabelos despenteados. Os poucos que o olhavam era com o único propósito de dar-lhe taxas apenas devido a sua aparência fora de um padrão, mal sabiam eles a dor que outrora o garoto sentiu.
- Ei! Você! Ei garoto! Estou falando com você!
Uma garota linda chamava-o, corria atrás deles gritando enquanto ele não se dava nem ao trabalho de virar-se. Era uma garota bela, simplesmente bela, como poucas eram, era bela, porém não se permitia ser. Ela o alcançou e pôs a mão seu ombro virando-o para indagar:
- Ei, eu estava te chamando, você não ouviu?
- Quê? Ah! Eu ouvi sim, mas só atendo aqueles que me chamam por um nome.
- Qual seu nome então?
- Eu não sei, não tenho. Jamais me deram um nome.
- Como assim não tem um!?
A garota estava espantada. O garoto provavelmente já acostumado com tamanha reação olhou para o alto dando mais uma longa tragada, logo depois olhou o relógio e disse “sente-se, irei explicar-lhe”. Os dois então sentaram em um banco debaixo de uma árvore, mas antes do garoto ter a chance de começar a explicar a garota interveio-lhe.
- E seus pais? Seus amigos? Jamais lhe deram um nome?
- Meus pais pouco se importavam com meu nome, meus amigos já me deram vários nomes, mas são todos apelidos, nenhum deles é realmente o nome que espero ter, mas não os cobro nada, pois não é deles que espero nomeação.
- E de quem seria então?
- Alguém que eu amasse e que me amasse também, uma mulher que conquistasse meu coração e que eu pudesse conquistar. Mas apesar de todas as mulheres com quem me relacionei terem me tratado com carinhos e espinhos, nomes bonitos e cheios de afeição, nenhuma delas jamais me deu um nome...
- Meu Deus! Mas isso é tão triste...
A garota encheu os olhos de lágrimas, o garoto olhou com os olhos vazios, por pura curiosidade ou por amor talvez, afinal como podia interessar-lhe aquela estranha? Por mais que houvesse uma sensação de conhecê-la há anos, ele não sabia nada sobre ela. Mas ele sentiu nela alguma coisa, alguma coisa que a remetia ao passado. Sua mente viajou, lembrou do tempo que possuía asas, seus olhos de repente voltaram a si, ele sentiu compaixão pelo estado daquela garota, pena não, compaixão. Ele, curioso, acendeu um segundo cigarro e levou-o à boca. Sendo tirado pelas mãos da garota que agora estava aos prantos.
- Largue isso! Isso não te faz bem!
O garoto nada disse, apenas consentiu, olhou curioso para toda sua preocupação e depois pegou sua mão como que para senti-la.
- Como pode jamais ter tido um nome?
- Talvez porque eu não exista realmente. Sei lá, eu me sinto sendo o passado e o presente, às vezes sou apenas um dos dois, mas jamais sou o futuro, eu não o enxergo, ele não chega para me incorporar.
- Mas isso não pode continuar assim! Já sei! Dar-lhe-ei um nome então!
Suas pupilas se dilataram, ele estava perplexo, como poderia aquela desconhecida dar-lhe um nome? E o mais curioso, sabia ele, é que ele queria que ela o desse, ele não o rejeitaria, pois ele a amava.
- Por que me daria um nome? Mal me conhece...
- Porque te amo...
Aquelas palavras foram o suficiente para o garoto entregar-se de coração, sentia ele como se ela fosse dele e vice-versa.
- Então me dê um nome, e me chame por ele, mas que não seja apenas entre quatro paredes, e eu serei seu enquanto assim me chamar. Dê-me um futuro, e eu serei ele, seu futuro, porque já hei de ser seu passado e seu presente.
- Chamarei-lhe então de Lucky, meu amor. Pois teve a sorte de receber, enfim, um nome, e este dado por mim. E eu tive a sorte de encontrar-lhe e poder dar a você tamanho nome, pois seu nome é meu também.
- Então por esse nome agora atenderei, basta usá-lo.
Era meia-noite quando aquele recém-formado casal havia se beijado, e o garoto pode enfim, talvez, sorrir, pois antes era ninguém. Depois a garota disse que tinha que ir, pois já era passada sua hora, mas disse também que voltaria e saberia o encontrar.
- Posso perguntar-lhe duas coisas antes de ir?
- Claro, meu amor.
- Eu nem ao menos sei teu nome, e muito menos o motivo por ter me chamado.
- Porque achei que te conhecia, achei ter visto em você o pequeno garoto que conheci quando criança, e agora sei que realmente é você, pois lembro de ter me apaixonado por aquele garoto sem nem saber seu nome... E quanto ao meu nome? Eu não tenho um, eu tive um há muito tempo atrás, mas talvez por desuso ou por outro motivo, ele se perdeu... Achei que jamais teria um nome novamente, mas então encontrei você... Então, me dará um nome querido Lucky?
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