quinta-feira, 2 de junho de 2011

LABIRINTO


Corro, corro desesperadamente, vejo você fugindo e jogando cacos de vidro por onde passa. Eu corro atrás de você e cada passo é mais doloroso que o anterior, o ar começa a fugir do meu peito, minhas pegadas de sangue mostram o quanto já corri. Resolvo deitar, ali no vidro mesmo, que outro lugar haveria? Até o repouso é uma tortura, minha cabeça dói como se fosse explodir, perco o equilíbrio e mesmo deitado, tudo ao meu redor gira, aperto minhas mãos contra a cabeça, grito... Ninguém escuta... O ar falha cada vez mais, é como se houvesse um peso de uma tonelada sobre meu peito, respirar dói e cansa gradativamente mais, até eu desejar parar, e acredite, como eu queria isso, muitas vezes desejo desesperadamente. Queria que o ar acabasse de vez, ao invés de apenas falhar, seria tudo mais fácil, afinal, somos valorizados apenas em leito de morte, enquanto vivos apenas nos menosprezam. Levanto devagar com a mão no peito, sem forças, sem ar, minha respiração cada vez mais ofegante, sentia como se fosse desmaiar, minha visão começava a ficar turva. Continuei andando, não no seu rastro de vidro, fui pra outro lugar... Mas não tinha outro lugar pra mim... Ouvia os lobos miando nas colinas, o vento rindo da minha humilhação, e então meus passos lerdos rapidamente me levaram a uma porta, eu a abri e entrei. A mesinha ao lado da porta me oferecia uma navalha e um cigarro, aceitei de bom grado e subi as escadas no teto, ou será que estava descendo? Eu já não sabia mais de nada, me apoiei no corrimão para não cair, a outra mão apertando o peito, entrei em outra porta, outra escada, porta atrás de outra e me deparei no mesmo lugar. Ar... Precisava de ar, eu sempre fui o oxigênio, agora era eu quem precisava dele, precisava de mim mesmo? Ou será que eu necessitava de carbono? Poderia respirar por fotossíntese ou simplesmente me combustar ali mesmo, afinal não seria eu o oxigênio? Nada mais fazia sentido. A única coisa que sempre me fazia sentido era o amor, e agora a única coisa é a dor, uma certeza absoluta de uma tristeza enorme... Por quê? Eu não sei, não tenho certeza, os pássaros voavam saindo do teto e tentando me responder, sobrevoavam minha cabeça como pensamentos soltos, sem dono... Mas espera, se eu estava no teto não estariam eles saindo do chão? Cansei de pensar, afastei-os e continuei, continuei confuso. Confuso, aí está outra coisa que sempre tenho certeza, sou confuso, e tenho certeza disso, certeza que não tenho certeza de mais nada além disso, confuso como um antílope ao dar o bote no leão, como o tubarão que voava no escuro. Continuei degrau por degrau, porta por porta, avançando rapidamente até a morte enquanto andava vagarosamente com a mão no peito. As cores começaram a entrar em estado de fusão, e logo em seguida ebulição, só me restará o negro, a ausência, sentei em um degrau e chorei, chorei sem nem saber o porquê. Assustei-me com as mãos que vinham da parede, elas me puxavam sem aviso, pareciam querer ajudar, mas eu tinha medo. Então as afastei também, ergui minhas asas, levantei vôo no meio da escuridão, sem nem respirar, bati contra o chão diversas vezes feito mosca em janela, até que do escuro, passo ao escuro, tudo estava negro e sem que eu houvesse percebido, eu tinha desmaiado. Abri os olhos ainda fracos, olhei entre as cores através da minha visão ainda embaçada, havia ar, havia respiração, havia uma moça passando sua mão em meus cabelos e apoiando minha cabeça em sua coxa, fechei-os novamente, e então já não havia mais nada, não havia mais esforço em respirar, não havia mais vida pela qual lutar...

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