segunda-feira, 10 de setembro de 2012

AS TELAS DE SIR RICHARDS

A noite chorava um alto lamento
No momento em que ele entrou.
Seu rosto expressava sofrimento
E à todos ele olhou.
Analisou cada indivíduo da lotada taverna
E logo foi se sentar,
Cruzou as pernas e pediu algo para tomar.

O barman olhou suas vestes molhadas
Mas não relutou em dar-lhe um copo,
Porém olhava-o de longe com uma cara desconfiada
Enquanto ele bebia logo.
"Tem lugar para passar a noite?
Ficar lá fora até amanhecer é um açoite!"
O barman indicou-lhe um quarto
Nos andares superiores
E logo ele foi, depois de um quase infarto,
Reclamando dos caros valores.

Entrou naquele ambiente úmido e escuro,
Típico do fungo que ele era.
"Aqui ninguém ouvira um sussurro,
Aqui farei mais uma tela."
Sim, ele era um fungo apodrecido,
Entregue às podridões da mente humana,
Ele era um homem  de pouco tempo vivido,
Que não negava o prazer que a carne profana.
Ele vivia como um parasita,
Alimentava-se e vivia através de outros,
Uma mera visita e mais outra vítima, pobres tolos.

Ele jogou sua capa encharcada na cama,
E desceu à procura de uma dama.
Logo avistou uma jovem loira de seios fartos
Já meio embebedada em um ponto,
E como um típico cavalheiro pronto para o ato,
Levou-a para um canto
E logo foi jogando conversa fora com a menina.
Dizia ter feito medicina,
Mas havia se encontrado como um pintor.
E a menina logo indagou:
O que um pintor há de se fazer num subúrbio em Paris?
"Vou à qualquer lugar que possa me dar inspiração,
Só tento ser feliz."

E assim eles foram conversando,
Até que ele ofereceu eternizá-la em uma tela.
E a garota, tola... Foi logo se encantando.
Tão bela... Ainda mais naquele quarto úmido à luz de velas.
Ele a despiu e logo começaram a transar,
E no final do ato ela já estava se perguntando como ele a iria pintar.
E ele, com um sorriso malicioso,
Já imaginando um esboço,
Respondeu-lhe num só instante:
Com o seu sangue...
E com a mesma velocidade que ele falara,
Ele havia pego o travesseiro e a sufocara.

Na barriga ele fez um corte,
Extraindo o sangue dela e ponde-o em um pote.
Depois ajeitou o cadáver do jeito que ele preferira,
E armou o cavalete na posição que desejara.
E molhando seu pincel em sangue, com ira,
Meticulosamente pintou cada detalhe da garota que ele assassinara.
Cada pincelada que era dada continha tanta experiência e habilidade,
Cada pincelada ensanguentada e apaixonada era a mais pura arte.
E ao final de tão gloriosa pintura,
Ele olhou sua amada com ternura
E disse-lhe "eternizada querida, eternizada,
Há eternidade maior do que a sua vida em minha tela pintada?"

Na semana seguinte ele já voltara para sua casa,
Carregando debaixo dos braços a tela amada,
Arranjou-lhe um lugar na parede e sorriu,
Não só para ela, mas para as outras vinte telas
Cujo sangue em seu pincel fluiu.

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