quarta-feira, 12 de agosto de 2015

O POETA E A POESIA

Minha ode à ti, poesia,
Agora é pobre.
É o reflexo da minha alma
Refletido neste espelho que aqui escrevo.
Sou um mendigo,
Um sem-teto, um miserável,
Não sou digno da tua morada.
Não enquanto peço esmolas à Quintanas e Nerudas,
Cato versos machadianos no lixo,
Me embriago de Amado,
Me drogo de Vinícius de Moraes,
Mas esqueço de ser Vianna, de ser Lobo,
Devorando vorazmente minhas próprias metáforas,
Como um canibal insano,
Deixando as rimas escorrerem de minha mandíbula
Enquanto sujam meus caninos amarelados.
A fonte da qual bebia, secou,
E minhas raízes já não se estendem
Através de alimento neste solo pobre,
Neste solo salubre e sem sonetos, sem estrofes.
Pois eu também sou o solo pobre,
Regado à Caetanos e Buarques de Holanda,
Mas cheio de sementes ínfimas, pífias,
Que brotam flores sem cor,
Sem cheiro, sem beleza.
Sou minha própria praga,
Minha própria sangue-suga.
Sou uma serpente
Comendo minha própria cauda
Num ciclo sem fim.
Sou indigno de ti,
Sou sombrio e depressivo
Mas sem a beleza de Allan Poe,
Sou vazio, simples e frio
Mas sem a dureza de Bukowski.
E pra ser poeta tem que saber carregar
O sentimento do mundo nas costas
Com a suavidade de um voo,
A gentileza de um eremita
E a naturalidade de uma folha ao cair,
Mas com o olhar de um filósofo.
Tem que ser ao mesmo tempo
Atlas, Vênus e Sócrates,
E tudo que sou é um mendigo num solo pobre.

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