O chato de se querer um relacionamento estável é vê-lo sendo jogado na sua cara constantemente. Nas ruas, nas propagandas, seus amigos, mas principalmente a TV. Todas as séries, filmes e até mesmo os livros esfregam na sua cara a felicidade, a estabilidade, a tranquilidade, todo aquele romantismo e aquele amor. Os casais clássicos de filmes franceses passam abraçados em paisagens invejáveis e riem da sua cara. Mas o que é mesmo o amor? Uma pessoa fria e vazia como eu não poderia mais responder. Mas seja lá o que for, eu o desejo. Desejo a casa no campo, o fim de semana na praia, os jantares românticos, os sorrisos, os beijos, os olhos, as mãos. Estou cansado do sexo sem significado, do sexo animalesco que só satisfaz seus desejos carnais e animais. Eu sinto falta de poder dizer "eu te amo" no final de uma transa. Sinto falta da rotina. Eu quero o que sei que não posso ter e talvez nunca mais terei: aquele romance hollywoodiano, louco, impetuoso, cheio de afeto, pureza, mas com um toque de pornô. Eu quero a fantasia, o sonho nunca alcançado, quero a perfeição. Quero simplesmente sentir, amar, ter e me dar, ser e pertencer. Eu quero simplesmente sentir alguma coisa, qualquer coisa que me reacenda, que me lance de volta ao céu. Quero a faísca, a brasa, o incêndio inteiro. Mas quero que me sintam de volta. Quero os olhos nos olhos, os lábios nos lábios. Quero ser mais que essa casca vazia, quero sorrir por causa de alguém e ver que o sorriso dela é por mim também. Quero ser muito mais que sou, muito mais que mereço ser. Só quero poder parar de ser eu sozinho, esse eu que às vezes eu nem reconheço; quero que alguém me devolva para podermos ser um nós. Eu quero ser um nós. Não um embolado, um daqueles nós que acontece por acaso no bolso da vida. Também não quero nós muito apertados, sem espaço ou impossíveis de serem desfeitos. Quero nós bem modelados, firmes, mas que possam se desfazer e refazer, dançando no ritmo da vida. Quero nós profissionais, dignos de marinheiro com as mãos cheias de calos por amarrar cordas em mastros a vida inteira. Mas tudo que consigo é essa ironia, esse sarcasmo, esse deboche de TV, me mostrando um marinheiro dando um nó e sorrindo com triunfo, quase para zombar da minha metáfora, do meu desejo. Quase para mostrar a incongruência da vida.
"Eu também não quero nós muito apertados, sem espaço ou impossíveis de serem desfeitos. Quero nós bem modelados, firmes, mas que possam se desfazer e refazer, dançando no ritimo da vida." <3
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