terça-feira, 4 de agosto de 2015

ÍCARO

Meti-me a anjo.
Mal aprendia a dar uns saltos
E meti-me a querer voar.
O solo era constante e frígido,
Dotado de monotonia,
Enquanto o céu era belo e sereno,
Com suas nuvens dançando suavemente,
Seus ciclos de Sol e Lua,
Seu brilho sem fim.
Meti-me a anjo e desejei o céu,
Quis o Sol para mim.
Quis ir aonde nenhum homem foi,
Queria ter o que nenhum homem
Jamais sonhou ter.
Eu poderia ter me conformado com o que tinha,
Com aqueles vôos baixos, rasantes.
Podia ter me conformado em ser ave de rapina,
Mas meti-me a anjo e quis voar alto demais.
Podia me conformar com o brilho do Sol,
Com o seu calor em minha face,
Mas não, o quis inteiro só para mim,
Desejei as queimaduras de terceiro grau.
E o que eram minhas asas
Em comparação ao fogo do Sol?
O que eram aquelas penas
Que nem ao menos eram minhas,
Coladas com cera,
Comparadas à naturalidade de um astro celeste?
O que é a pobre maquinaria humana
Frente às forças do universo,
Além de um desafio aos deuses e astros?
O Sol me pôs no seu lugar.
Eu era homem e meti-me a anjo,
Voei onde nenhum homem ousou voar
E o Sol tratou de me derrubar.
E enquanto caía,
Com minhas asas em chamas,
A cera derretida em minha pele
E minhas tão desejadas queimaduras de terceiro grau...
Por um instante...
Em meio às chamas inconstantes daquele astro divino...
Jurei ter visto o Sol sorrir.

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