Já havia anoitecido
Quando na taverna ele adentrou.
Richards estava enlouquecido,
Pois em seu plano ele falhou.
Procurou em vão
Por mais uma vítima que o encantasse,
Mas no final da noite
Se encontrava com o olhar fixo no chão
E não havia cerveja que não cessasse
O lamento que lhe batia como açoite.
Foi então que seu olhar levantou
Pela nova mão que lhe trazia bebida,
Pensou: se fosse mais nova poderia ser escolhida.
Mas a atendente por ele se encantou,
Mostrando-lhe os dentes num sorriso.
Foi preciso mais algumas conversas e cervejas
Até que Richards pensasse "que seja,
Será ela mesma".
Então acertaram que esperariam tudo fechar,
E subiriam para um dos quartos para se amar.
Depois do sexo, Richards ainda pensava
Em como haveria de pintá-la.
Mas hei que a conversa iniciada
Deu-lhe a inspiração desejada.
A senhora, por volta dos seus cinquenta anos,
Conseguia apenas falar-lhe da juventude,
Achava ter perdido os encantos,
E Richards, achado a atitude.
Então que ele inicia sua tela:
Cortou sua jugular,
Acendeu a vela
E preencheu o pote de sangue
Até onde havia de desejar.
O nascer do Sol já estava para começar
Quando a tela ele havia terminado.
Retratava a mulher, da cabeça ao seio,
E no fundo um relógio ensanguentado,
Cujos ponteiros dividiam a tela ao meio.
Os ponteiros, intactos,
Pareciam dizer que o tempo havia parado,
Como, ao ser mais nova, a mulher havia desejado.
As horas mostravam dez e quinze ou dez para as quatro,
Pois os ponteiros possuíam o mesmo tamanho.
O estranho era que a mulher possuía duas metades:
Uma metade velha, onde o ponteiro apontava "dez",
E uma metade nova, marcada pelo "quatro",
Desmarcada pelo tempo que às doze já quase bate,
Anunciando o eminente abate.
E ao final de tão profunda pintura,
Ele olhou sua amada com ternura
E disse-lhe "eternizada, querida, eternizada,
Há eternidade maior do que sua vida em minha tela pintada?"
No dia seguinte a atendente não serviu ninguém,
Mas seu quadro na parede serviu bem,
Tanto que Richards a olhou e sorriu,
Não só pra ela, mas para as outras vinte telas
Cujo sangue em seu pincel fluiu.
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