terça-feira, 27 de setembro de 2016

AS TELAS DE SIR RICHARDS III

Já havia anoitecido
Quando na taverna ele adentrou.
Richards estava enlouquecido,
Pois em seu plano ele falhou.

Procurou em vão
Por mais uma vítima que o encantasse,
Mas no final da noite
Se encontrava com o olhar fixo no chão
E não havia cerveja que não cessasse
O lamento que lhe batia como açoite.

Foi então que seu olhar levantou
Pela nova mão que lhe trazia bebida,
Pensou: se fosse mais nova poderia ser escolhida.
Mas a atendente por ele se encantou,
Mostrando-lhe os dentes num sorriso.

Foi preciso mais algumas conversas e cervejas
Até que Richards pensasse "que seja,
Será ela mesma".
Então acertaram que esperariam tudo fechar,
E subiriam para um dos quartos para se amar.

Depois do sexo, Richards ainda pensava
Em como haveria de pintá-la.
Mas hei que a conversa iniciada
Deu-lhe a inspiração desejada.

A senhora, por volta dos seus cinquenta anos,
Conseguia apenas falar-lhe da juventude,
Achava ter perdido os encantos,
E Richards, achado a atitude.

Então que ele inicia sua tela:
Cortou sua jugular,
Acendeu a vela
E preencheu o pote de sangue
Até onde havia de desejar.

O nascer do Sol já estava para começar
Quando a tela ele havia terminado.
Retratava a mulher, da cabeça ao seio,
E no fundo um relógio ensanguentado,
Cujos ponteiros dividiam a tela ao meio.
Os ponteiros, intactos,
Pareciam dizer que o tempo havia parado,
Como, ao ser mais nova, a mulher havia desejado.

As horas mostravam dez e quinze ou dez para as quatro,
Pois os ponteiros possuíam o mesmo tamanho.
O estranho era que a mulher possuía duas metades:
Uma metade velha, onde o ponteiro apontava "dez",
E uma metade nova, marcada pelo "quatro",
Desmarcada pelo tempo que às doze já quase bate,
Anunciando o eminente abate.
E ao final de tão profunda pintura,
Ele olhou sua amada com ternura
E disse-lhe "eternizada, querida, eternizada,
Há eternidade maior do que sua vida em minha tela pintada?"

No dia seguinte a atendente não serviu ninguém,
Mas seu quadro na parede serviu bem,
Tanto que Richards a olhou e sorriu,
Não só pra ela, mas para as outras vinte telas
Cujo sangue em seu pincel fluiu.

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