terça-feira, 6 de dezembro de 2011

UM AMOR MORTO

Era uma noite escura e fria,
Minha amada, em nossa cama jazia,
Enferma, tossindo sangue nos lençóis,
E ela me suplicava, quase sem voz,
"Não sofras por me perder,
Siga em frente, continue a viver,
Já não me resta muito tempo,
Oh querido, eu lamento, eu lamento,
Lamento que o "para sempre" não venha a existir,
Mas por favor, que isso não lhe impeça de sorrir,
Eu queria estar com você eternamente,
Mas não era esse o plano que Deus tinha pra gente."
E enquanto as lágrimas corriam nossas faces,
Ela expelia mais daquele elixir escarlate.
Eu, ajoelhado do lado dela,
Iluminados pela luz de uma bruxuleante vela,
Segurava sua fraca mão,
Enquanto lhe pedia aos prantos, "não me deixes não".
Eu suplicava a Deus por mais tempo,
Enquanto ela suplicava o fim daquele tormento.
Eu a beijei numa tentativa tola de dar-lhe minha vida,
E aquele momento acabou por ser nossa despedida,
E tudo se passou tão rápido,
Os olhos dela se fecharam,
As janelas bateram e quebraram,
O vento soprou, a vela apagou,
E a escuridão foi a única que restou.
E como poderia eu deixá-la partir?
Sem ela eu não conseguiria existir,
Eu gritava aos céus, "Levem-me também!",
Uma falha tentativa de ser atendido por alguém.
Recusei-me a acreditar que era real,
Culpei a Deus tamanho mal,
Culpei o mundo por tê-la perdido,
Culpei até a mim por ter deixado que ela houvesse partido.
Gritei a Deus, "Você não ficará com ela!",
Ele me respondeu batendo a janela,
Era como uma tentativa de lembrar-me que ela partira,
Mas só serviu para aumentar minha ira.
Eu chorava e gritava feito louco,
Soluçava, rouco.
Comecei a socar a parede,
"Vede!
Meu punho por ti está sangrando,
Está gostando, senhor? Está gostando?"
E em meu acesso de fúria vi a noite se prolongar sabe-se lá por quanto tempo,
O tempo se recusava a livrar-me do tormento.
Não sei quando ou como, mas apaguei,
E sabe-se lá quanto tempo depois, despertei,
Acendi um lampião e comecei a mirá-la,
"Não, não vou deixá-la,
Não será a morte que irá nos separar,
Continuarei a te amar, vou sempre te amar."
Chorei por minha amada em seu sono eterno e deitei ao seu lado,
Ela estava pálida, como jamais havia estado,
Acariciei sua face enquanto chorava,
Beijei os lábios da mulher que tanto amava.
Eu não poderia deixá-la esquecida a sete palmos do chão,
Decidi que viveria comigo então,
Eu jamais a enterraria,
Jamais a esqueceria.
Fui despindo a seda que ela vestia,
Enquanto minha língua espalhava amor pela pele fria,
Prostrei meu corpo sobre o dela,
Olhei mais uma vez o quanto era bela...
Eu chorava, chorava enquanto a amava,
Do mesmo jeito que eu sempre havia amado,
Mesmo que o espírito dela houvesse sido roubado.
Acordei ao seu lado tempo depois,
Percebi que já não existiria "nós dois",
Não haveria risos, café na cama,
Nem dança com a bela dama,
Só haveria o "eu sozinho",
A tempestade tirara o outro pássaro do ninho.
Chorei novamente,
"Estarei com você eternamente,
Se não na vida, então na morte,
Mas te amarei e por ti morrerei,
Apenas para estar ao lado teu,
Adeus, mundo, adeus..."
E com este último sussurro,
Peguei a arma no criado-mudo,
E engoli seu tiro,
O mundo escureceu, eu havia morrido...
Morri sorrindo...
Pois ao encontro de minha amada eu estava indo.
"Para sempre... Para sempre, querida...
Será na morte o que não foi na vida..."

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