Odeio quando fazemos isto, transformamos sentimentos em jogos, em competições. A relação vira um eterno cabo de guerra onde não há vencedores. Você finge ser alguém que não é, ou faz algo que não sente querer fazer, apenas para esperar reações do próximo, esperando conquistá-lo sendo e fazendo coisas que não são realmente suas. Em vez de sentir, nós pensamos, calculamos cada milímetro do nosso passo para dar espaço pra que o outro dê um também.
Sem nem perceber acabei num desses jogos, desafiei uma campeã sem nem saber. Eu que só sentia, entrei para um jogo onde eu nem sabia as regras, e só havia uma: não há regras. Eu jogava com um simples dado de seis lados, enquanto você vinha com dois dados de vinte lados. Eu pedi pra você pegar leve, eu deveria ser café-com-leite e você deveria ser já uma expert, mas você nem me ouviu, sempre me jogava no “volte para o início”. Seus dados eram magnéticos, você controlava cada passo meu, cada passo seu.
Você deu as cartas, mas pôs um joker na minha mão e deixou um ás na sua manga, você embaralhou tanto o baralho que embaralhou meu cérebro, embaralhou ele em você. Você era o papel quando eu era a pedra, a pedra quando eu era a tesoura, a tesoura quando eu era o papel. No resta um você sempre deixava só um, deixava só você, enquanto eu fazia restarem dois, restavam só nós dois.
Eu cansei enfim desse cabo-de-guerra, queria voltar à não-competição, queria voltar à relação. Mas a corda parecia não querer soltar minha mão, você pensa em tudo não? Usei então os dentes, roí a corda pouco a pouco até ela se partir, jogando os dois competidores para trás, onde não havia chão. Caímos ambos num abismo sem fim.
E tudo o que pude ouvir de você enquanto caía foi "vamos jogar um jogo? Vamos ver quem cai primeiro ou quem escala mais rápido?”
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