quarta-feira, 30 de novembro de 2016

SOBRE A ILUSÃO DE UM TRONO DE NEVE

Era uma noite de domingo,
E como todo domingo,
As noites não trazem muita expectativa.
Porém, o que começou como um convite ingênuo
Se mostrou uma das noites mais insanas que já vivi.
A noite se iniciou como o convite inocente prometia,
Videogame e algumas cervejas geladas.
Até que um quarto amigo chega com duas gramas
Da cocaína mais branca e mais pura que eu já havia visto.
Não era minha iniciação nessa droga específica
Mas eu me senti como se fora a primeira vez.
Senti como se minhas narinas fossem virgens.
Todo meu ser tremia e vibrava,
Minhas mãos sempre inquietas
Causavam terremotos em todo o meu braço.
Eu sentia como se fosse o dono do mundo.
O sofá em que me encontrava sentado,
Tamborilando os dedos dos pés
Havia se tornado o meu trono
E o mundo se encontrava ajoelhado aos meus pés.
Sentia uma necessidade de externar fisicamente
Toda a explosão nuclear que era o meu interior.
Eu sabia que precisava de algo específico,
Correr o mundo, voar, algo mais,
Algo que externasse a minha sensação de divindade,
De macho alfa que precisava subjugar outro ser fisicamente.
Afinal, um rei não sai de seu trono por qualquer razão mundana.
Até que um Ministro, um dos meus amigos presentes,
Sugere um puteiro.
E, de repete,
Toda a minha ideia indefinida se concretiza
E a nuvem disforme e incerta que era a minha ideia
E o meu desejo incerto,
Se condensam como granizo
E neva no meu reino.
Fomos ao puteiro,
Paguei a puta que poderia custear
Dentro dos meus padrões de exigência.
Seus seios eram grandes e as ancas, largas.
O prazer não atingiu as expectativas
Que a cocaína prometia.
Mas nunca me senti tão naturalmente animalesco,
Nunca me senti tão entregue
À selvageria que o ser humano
Havia sido destinado a exercer.
A sensação de posse e poder era indescritível
E a despedida fora breve.
Assim como foi breve a coroa que me fora posta.
Logo que deixamos o puteiro,
Voltei a ser o plebeu que sempre fora,
O indivíduo cotidiano e pacato
Que enxergo em quase toda a raça humana.
Eu havia descido de meu trono
Com a mesma naturalidade que havia subido.
E, de repente, os ornamentos da minha coroa
Tornaram-se sinos de um chapéu de bobo.
Eu havia tornado à minha condição de ser humano
Normal e impotente.
Pagando os imposto que, por algumas horas,
Eu havia cobrado.
Eu me tornara normal como sempre fora,
E com os pés descalços,
Retornei à casa e dormi
No que antes fora meu trono,
Mas que já não passava de um sofá qualquer
Abrigando mais outro ser humano
Comum e cansado dessa vida sem graça.

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