Meu funeral está para começar, minha herança será distribuída para vocês,
Existem pessoas e heranças não presentes nesta carta, não dava para citar todos,
Um a um vão chegando as pessoas, as que se importam e as que não.
Carla e Raissa, uma dupla de doidas inseparáveis,
Os dois lados da moeda, ambos loucas, uma rebelde e outra romântica,
Raissa é minha parceira, parceira de noites e divertimentos a fora,
A raridade num fim de mundo conformista e alienado como o que vivo,
Carla, uma das minhas melhores amigas, risonha, insana e extrovertida,
Amo muito você, sua felicidade é meu sorriso, agradeço sempre por sua preocupação,
Ouçam as palavras que digo, pois a vocês deixo apenas lembranças de um tempo feliz.
Sandro, grande amigo perdido e iludido em traição,
Ambos temos um sentimento semelhante por nosso próprio sangue,
Não desconsidere nossa amizade, pois compartilhamos a liberdade reprimida,
Grite e se revolte, para você toda rebeldia possível,
Rebeldia para a libertação... Quem sabe minha herança não te ajude...
Olhos vermelhos, copo cheio, para você uma garrafa de vodka... Junto com uma caixa,
Uma caixinha de felicidade, decifre o que tem dentro, sei que é capaz.
Carlos, grande amigo de lembranças sempre divertidas,
Homem bizarro admito, mas o normal sempre me entediou mesmo,
O meu bom ouvinte, pouco falador, boca fechada e mente curiosa,
Risadas loucas compartilhadas, mentes insanas e embaraçadas,
O meu presente pra você é intelectual do jeito que você gosta,
Um silêncio profundo do meu cadáver, tente ler ou entendê-lo.
Querubim, a anja que voa tão baixo quanto eu,
Uma pessoa realmente curiosa, acredito que será a única que jamais perderá as asas,
Espero que goste da herança que lhe deixei: uma tristeza a mais para sua coleção,
Bote ela na mente e no coração, afinal você a aprecia tanto,
Resista, sei que você é forte apesar do que eu falo,
Olhos seus jamais chorarão... “É porque está chovendo”, é eu sei,
Um dia entenderá toda a minha confusão e dor... Você é a única que pode fazê-lo.
E agora estão todos os presentes, todos de branco, puros como quando os conheci.
Meu funeral está vazio, poucas pessoas se importam,
Outras vieram apenas para marcar presença,
Risos para aqueles que vieram chorar,
Risos para quem realmente amo, mesmo aqueles não citados neste texto,
Estou vivo, mas já me mataram, salve-me! Ainda choro em meu caixão,
Um dia entenderão.
Vinícius Vianna